Análise – Pokémon Legends Arceus

Quando Pokémon chegou pela primeira vez a Portugal acompanhado de jogo e série eu fui um dos pequenos rapazes na linha da frente. Na altura, não só tive direito a Pokémon Blue como prenda de anos como ainda acompanhava a série na TV de forma “religiosa”. Desde essa altura, Pokémon tem tido vários altos e baixos no que toca ao meu nível de interesse pela série. Foi necessário convencer-me de que não devia ter vergonha de jogar Pokémon e esperar por Pokémon GO para que toda a gente soubesse que é uma franquia para todas as idades.

O meu problema mais recente com Pokémon começou com Pokémon Sword e Pokémon Shield, os dois jogos que tinham a oportunidade de mudar a série para melhor com o poder de uma consola caseira, mas que acabaram por estar aquém das expectativas. Depois houve Pokémon Brilliant Diamond e Pokémon Shining Pearl, os remakes de Sinnoh que me deixaram bastante desapontado.

Pokémon Legends Arceus apareceu quase do nada e transformou-se na derradeira esperança para a série, aquilo que os trailers mostravam pareciam estar destinados a dar uma nova vertente à série e experimentar seguir numa nova e arrojada direcção. É com bastante alegria que posso dizer que Pokémon Legends Arceus é um dos melhores jogos de toda a série.

Para começar, temos de pensar neste jogo como um spin-off, afinal não é um jogo da série principal, mas é o que se chega mais próximo da sensação de jogar Pokémon pela primeira vez para quem começou a jogar Pokémon Red e Pokémon Blue no Game Boy orginal. Este é um jogo de exploração que nos faz sentir que estamos a partir à aventura e a fazer o nosso próprio caminho, pois mesmo que exista uma narrativa que serve de fio condutor, somos livres de andar à deriva e fazer o que nos apetecer.

Uma das grandes vantagens de Pokémon Legends Arceus é que vai buscar elementos de outros jogos para criar o seu sistema de jogo. Existe aqui claramente um aproveitamento do mundo e mecânicas de The Legend of Zelda Breath of the Wild, Monster Hunter, Ni No Kuni e Pokémon em si claro. Todas estas misturas são feitas de forma natural e dinâmica, sem grandes quebras entre elementos ou transições.

A parte melhor é que a soma de todas as partes bate certo constamente. As áreas de jogo não são totalmente abertas, mas estão disponíveis para ser exploradas e podemos apanhar mantimentos para criar novos remédios ou Poké Balls. Podemos simplesmente apanhar Pokémon de surpresa ou entrar em combate. A melhor parte é que tudo isto acontece de forma livre e quase sem loadings ou transições incomodativas.

Começando pelos combates, estes podem ser feitos atirando o nosso Pokémon para próximo de outro, o que inicia o combate no local onde estamos, podemos andar em redor do combate, decidir ataques e até fugir da zona. Toda a experiência e prémios ganhos são atribuídos em tempo real, por isso não existem menus para ver depois do combate. Até o mudar dos ataques e evoluir é feito quando queremos através do menu e temos a liberdade de aprender ou relembrar ataques antigos quando queremos.

Os combates contra treinadores continuam a existir e agora são mais ligados à história do que a treinadores aleatórios. Os combates são bastante mais próximos do modelo clássico, mas funcionam igualmente de forma mais directa e com menos informação a fazer com que as coisas sejam mais lentas, uma das minhas maiores queixas com jogos recentes da série onde cada entrada em combate e informações dadas faziam com que tudo fosse muito mais lento. Só tenho pena de não haver treinadores aleatórios pelo mundo para nos dar mais combates fora da história principal.

A história tem alguns momentos de combate contra bosses em formato de Pokémon que temos de purificar para tirar o seu estado de frezy. Estes combates são na sua maioria fáceis e até um pouco aborrecidos, pois embora seja possível atirar o nosso Pokémon para ajudar, o spam constante de materiais para acalmar que podemos atirar acaba por ser mais rápido. É um sistema que funciona, mas é algo aborrecido e anticlimático. Para compensar isso temos a chegada dos Alpha, Pokémon enraivecidos e mais poderosos que podemos encontrar pelo mapa, estes são normalmente desafios a sério e ainda mais se os tentarem apanhar. São uma das actividades mais divertidas do jogo e também a responsável por dar um pouco mais de dificuldade bem-vinda ao mundo de jogo.

Outro exemplo de como tudo funciona de forma tão natural tem a ver com a forma como mundo funciona. Se temos falta de Poké Bolas podemos ir à procura de árvores e minerio para criar mais em tempo real. Temos falta de revives, então temos de encontrar e combinar certas plantas e tudo isto pode ser feito através do menu. Enquanto isto é feito, temos Pokémon para apanhar que vão aparecendo, outros que nos atacam quando nos aproximamos e o facto do mundo estar estruturado pela própria natureza, vai abrindo caminhos com Pokémon com habilidades próprias que nos permitem trepar paredes, percorrer a água ou até voar, tudo isto sem tempos de loading e a decorrer de forma natural.

Claro que não nos livramos de alguns momentos mais cortantes, pois temos de ir muitas vezes à aldeia de Jubilife para reportar missões, apanhar missões alternativas, comprar coisas, entre outros momentos de história. Jubilife Village funciona como o Hub do mundo de jogo e é daqui que partimos para cada uma das áreas de Hisui. Pode ser um pouco desapontante se estavam à espera de um mundo totalmente aberto, mas as várias áreas até são bastante vastas e com muito para explorar e apanhar.

Todo este ciclo de jogabilidade poderia parecer repetitivo, mas Pokémon Legends Arceus é daqueles jogos que nos puxa e dificilmente nos larga. Mesmo estando a escrever esta análise, sei que ainda existem coisas que posso fazer em Hisui e quero continuar a jogar. O motivo principal para isto é que Pokémon Legends Arceus é verdadeiramente divertido e desafiante, conseguindo entreter com horas e horas seguidas de explorar o mundo e ir apanhando Pokémon para encher os dados da Pokédex.

Agora está na altura de falar de dois grandes problemas que são ao mesmo tempo compensados por outros elementos. Começando pelo menor mas igualmente aborrecido, como é possível que Pokémon Legends Arceus tenha uma série de músicas e componente tão boas e a Game Freak não tenha sido capaz de adicionar vozes ao jogo? Nem era preciso fazer para todas as personagens, bastava que fosse pelo menos para os diálogos e cinemáticas mais importantes. Estamos em 2022 e existem muitos e bons actores de voz que aproveitam bem os ambientes mais orientais. Imperativo que resolvam isso no próximo jogo!

Depois temos o grande elefante, o visual de Pokémon Legends Arceus. Sim, o visual é fraco e tem vários problemas. Temos as questões das texturas, o desenho em distância, os serrilhados em redor das personagens, os pop-ups constantes e as animações dos NPC que continuam a ser demasiado simples ou quase inexistentes. É inegável que podia ter sido feito mais. Mas. Pokémon Legends Arceus também consegue ao mesmo tempo ser um jogo bonito e com um visual estilizado que funciona muito bem. O mundo tem pormenores excelentes e por cada pegada que não deixamos no solo, temos chuva que deixa os personagens claramente encharcados ou neve que se agarra à roupa. Além do mais, os Pokémon estão muito bem trabalhados e são verdadeiramente a vida deste jogo.

Claro que se conseguirem ver além dos gráficos, este é o estilo de jogo que vos permite gastar dezenas de horas com a história e perto de uma centena para fazer tudo o que existe. Certos Pokémon só aparecem a certas horas e com determinadas condições meteorológicas. Existem lendários para apanhar e todo um Pokédex para encher de informação. Além disso podem também percorrer o mundo à procura de materiais deixados por outros jogadores após terem sido derrotados e ainda encontrar os rifts, pequenas cúpulas que surgem do nada no mapa e de onde podem encontrar Pokémon bem mais fortes e items raros. Visitar estas redomas é empolgante e sempre tentador.

 

Existe muito para falar sobre Pokémon Legends Arceus e ainda mais o que debater sobre aquilo que faz e pode vir a fazer pela série. A verdade é que surge como um daqueles jogos que facilmente se torna viciante e produz uma sensação constante de divertimento e curiosidade. Tive de me convencer várias vezes a manter a história como prioridade, mas o apelo por explorar mais uma zona, apanhar mais um Alpha ou ir a um Rift do outro lado do mapa, mostram que o trabalho foi muito bem feito.

Em vários momentos, Pokémon Legends Arceus invoca o mesmo entusiasmo e deslumbramento que os primeiros Pokémon do Game Boy e consegue ser muitas vezes aquilo que o jogador conseguia imaginar as suas aventuras no mundo real além daquele visual simples e pixelizado. Pode não ser perfeito, mas Pokémon Legends Arceus é um jogo inesperadamente brilhante e que abre o ano não só como um dos candidatos a jogo do ano. Mesmo que o próximo jogo volte ao sistema clássico de ginásios e cidades, espero que consiga misturar os elementos do passado com o que foi feito aqui para dar um novo futuro à série.

Positivo:

  • Altamente viciante
  • Transições fluídas
  • Combates contra Alphas
  • Método de criação de items
  • Boa evolução da história
  • Muito mais desafiante
  • Uma infinidade de coisas para fazer

Negativo:

  • Combates contra Nobles
  • Podia ter mais treinadores aleatórios
  • Vozes fazem muita falta
  • Visual podia estar bem melhor

Daniel Silvestre
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