Análise – Outsider: Depois da Vida

Outsider: Depois da Vida é uma aventura intrigante de point-and-click e ficção científica, cuja história é essencialmente avançada a partir da resolução de puzzles. O jogo em si é um orgulho nacional, pois foi desenvolvido pelo estúdio indie português Once a Bird, cuja equipa é constituída apenas por três pessoas (Ricardo Moura – o programador, Tiago Lourenço – o ilustrador e Jo Pereira – o músico), também é importante mencionar que a publicadora responsável foi a Rogue Games, Inc.

Com pouco diálogo e uso de cenários visualmente cativantes ao olhar, o jogo torna-se uma metáfora completa para o que está entre a vida e a morte, abordando de leve temas como a consciência da máquina e o seu questionamento sobre o meio envolvente. O protagonista é um robô e o único restante da sua espécie, o que o motiva a querer descobrir o que está “lá fora” para além da Terra. Ao longo da história, este encontra-se frequentemente sozinho, até porque não existe mais ninguém como ele, por esse lema poderá surgir o significado de “Outsider“, o robô que é um “forasteiro” no universo.

Num futuro muito distante, a humanidade tornou-se extinta. O plano “Escape” representava a nossa última esperança de sobrevivência, mas acabou por falhar. No entanto, nas ruínas de um antigo edifício científico, existe uma faísca que restaura acidentalmente a energia de um robô android, intitulado HUD-ini, esta complexa invenção poderá ser uma nova oportunidade para recuperar a vida ao planeta Terra e salvar o universo por inteiro. Rapidamente vais aperceber-te que este robô é um pouco diferente do que seria uma máquina habitual, este é extremamente curioso e isso leva-o a tentar descobrir os mistérios por de trás da sua existência, assim como procurar o que está para além no espaço.

Ao longo desta aventura, tens de puxar pelas tuas habilidades de lógica para resolver puzzles desafiantes. Os puzzles são sem dúvida o elemento que predomina mais durante a jogabilidade, estes baseiam-se em fórmulas um pouco familiares, mas conseguem manter a sua originalidade ao rubro. Os puzzles adaptam-se ao tema e ao fio condutor do jogo, acabando por serem o próprio meio que ajuda a desencadear a narrativa. Alguns puzzles podem parecer um pouco mais complicados que outros, para ser sincera, até reparei que estes escalam ligeiramente em termos de dificuldade quando realizados dentro da mesma tipologia. No entanto, se encontrares-te muito aflito, existe um botão com um ponto de interrogação que especifica os géneros de puzzles que aparecem e dá-te pequenas orientações para os conseguires completar, mas obviamente sem as soluções.

Em termos de restante jogabilidade, tendo em conta que é um jogo mobile, o sistema point-and-click é algo espontâneo de manusear, tornando a jogabilidade mais acessível. Outsider também utiliza a vibração do telemóvel para criar um ambiente mais imersivo. Para além disto, não precisas de preocupar-te em salvar o progresso, pois o jogo inclui autosave que grava tudo o que fazemos logo no momento. Um pequeno pormenor que reparei e achei uma certa piada é que esporadicamente o jogo envia notificações ao telemóvel a relembrar que o HUD-ini está a precisar de uma mão humana para conseguir salvar o universo ou que o HUD-ini está a emitir um sinal de aflição porque está preocupado com a nossa ausência.

O único aspecto negativo que tenho a dizer sobre o jogo na sua totalidade, é a duração. A duração acaba por ser um pouco curta, posso dizer que minha experiência durou cerca de 4 horas, isto porque tenho um raciocínio ligeiramente lento para resolver puzzles e gosto de investir algum tempo a explorar elementos aleatórios nos cenários. No entanto, acredito que uma pessoa super dotada de inteligência conseguisse terminar este jogo em pelo menos 2 horas. Posso admitir que esta duração apanhou-me de surpresa, porque estava a gostar tanto do rumo da história e da variedade de puzzles, que simplesmente deixei-me levar na onda e quando dei por mim já tinha terminado. No entanto, fiquei bastante satisfeita com tudo aquilo que o jogo me proporcionou, apesar das minhas expectativas terem estado a ansiar por uma aventura mais prolongada.

Devido ao jogo ser curto, a verdade é que não existem grandes variedade em termos de novos lugares ou personagens. Contudo, eu acho que o facto de não haver grande presença de personagens, também ajuda a corroborar a ideia do protagonista ser mesmo um robô “Outsider“, o único da sua espécie que explora solitariamente um universo à beira do colapso. Apesar dos cenários também apresentarem-se em poucas quantidades, a qualidade acaba sempre por falar mais alto, pois estes são capazes de deixar-nos hipnotizados com o seu nível de rigor e atenção aos pequenos detalhes. Não dá para esconder que por influência da duração, a história avança a um ritmo rápido, mas tudo o que acontece consegue prender a nossa atenção, levando-nos a um final interessante que deixa a porta aberta a várias teorias.

A arte do jogo e o seu estilo visual foi algo que me surpreendeu muito, Outsider consegue transformar um mundo pós-apocalíptico em algo extremamente belo ao olhar. Os cenários; as personagens e até os puzzles possuem um aspecto incrível e assentam “que nem uma luva” com o tema futurista. Muitas vezes os lugares são dedicados a uma cor de paleta, ora o azul, laranja ou vermelho, todas elas conseguem formar um espectáculo visual magnífico, ainda mais quando aparecem todas misturadas. Um dos meus momentos favoritos do jogo é mesmo quando o cenário enche-se repleto de cor: quando o robô parte em direção ao espaço e vemos estrelas; uma galáxia espiral e o que parece ser até um buraco negro, tudo cheio de vida como se fosse uma tela pintada em movimento. As animações também estavam excelentes, assim como os atores de voz. Apesar de não haver muita manifestações nesta última vertente, adorei ouvir a pronúncia semi-britânica e robótica do protagonista. A banda sonora é igualmente extraordinária, possuindo batidas tecnológicas suaves que nos permite relaxar à medida que avançamos com o jogo.

Para concluir, Outsider: Depois da Vida foi uma experiência curta, mas com uma qualidade acima da média. Por vezes costumam dizer que “menos é mais” e acho que essa expressão aplica-se bem neste caso. O estúdio Once a Bird está de parabéns pelo seu novo jogo e por terem arriscado com um conceito tão fora da caixa, espero que continuem a fazer mais projectos criativos como “Outsider” para alcançarem novas metas cá em Portugal e eventualmente lá fora, até porque no universo não existem limites.

Outsider: Depois da Vida foi lançado a 2 de Julho para android e iOS, custando atualmente 4,49 euros.

Positivo:

  • História enigmática com final aberto a várias teorias
  • Puzzles únicos e desafiantes
  • Point-and-click fácil de manusear
  • Arte original e detalhada
  • Banda sonora relaxante

Negativo:

  • Duração curta
  • Paço de narrativa rápido
  • Pouca variedade em cenários e personagens

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