Análise: Now You See Me – Mestres da Ilusão

Uma péssima ideia nunca resulta num bom filme (garantidamente), e uma excelente ideia não implica um grande filme, pode resultar num filme miserável, ou assim-assim, quiçá… bonzinho. Now You See Me encaixa no perfil do “filme com uma ideia genial”, ostentando um conceito cativante, sumarento e potencialmente inovador.

Afinal de contas, a feitiçaria já está explorada (Harry Potter), os poderes sobre-humanos esgotados e o ilusionismo raramente surge como temática. É sempre pertinente aprofundar a dissimulação e a riqueza psicológica da mentira. Nas cadeiras de Marketing defende-se: “As pessoas gostam de ser bem enganadas”. 

Num passado recente, a magia e o ilusionismo foram pouco explorados no grande ecrã, mesmo assim, surgiram alguns filmes interessantes, como O Terceiro Passo (do realizador Christopher Nolan), O Ilusionista (com Edward Norton e Jessica Biel) e a curta-metragem de animação da PixarMagic Show Duel.

Apesar de abordagens diferentes, tiveram em consideração a nomenclatura associada à arte do ilusionismo – mentira, ilusão, astúcia e segredo – estabelecendo uma ponte com os eventos do quotidiano (afinal de contas, não seremos todos nós ilusionistas?)

Now You See Me (vou evitar o título Mestres da Ilusão, é uma tradução medonha) conta a história de um grupo de ilusionistas freelancers, peritos na arte da construção de situações impossíveis, entertainers, com o talento para ludibriar a realidade. Jesse Eisenberg interpreta J. Daniel Atlas (um jovem talento na concepção de truques e ilusões), Woody Harrelson interpreta Merritt McKinney (hábil leitor de postura humana, com capacidade para hipnotizar), Isla Fisher interpreta Henley Reeves (ilusionista com engenho para escapar em situações de limite) e Dave Franco interpreta Jack Wilder (o paradigma do mágico de rua, perspicaz e com a agilidade apurada).

Os quatro são convidados para formar The Four Horsemen, um grupo de ilusionistas de elite, que iniciam uma tournée de espectáculos. No entanto, o que aparentava tratar-se de um evento de entretenimento, revela-se um plano de escala planetária, com tiques à Robin dos Bosques e justiça pelas próprias mãos.

O elenco conta ainda com um naipe de actores fantásticos, mais concretamente: Mark Ruffalo, a talentosa Mélanie LaurentMorgan Freeman e Michael Caine. A qualidade dos actores cria a ilusão de que poderá ser uma experiência especial no campo da representação, mas desenganem-se, Now You See Me fica pelos mínimos olímpicos, ou seja, os actores são iguais a eles próprios.

A realização de Louis Leterrier (The Transporter) está ok. Não há nada que surpreenda com incontestável qualidade, mas o ritmo favorece a narrativa, os set ups para os twists são discretos e a dinâmica dos eventos resulta numa lógica em crescendo.

A edição é um dos pontos fortes do filme, com truques de magia que disfarçam os erros do guião. A banda-sonora é discreta e os efeitos visuais são do pior que se pode arranjar. Se os efeitos visuais, em Now You See Me, existem para o “enriquecimento” dos truques de magia, e tendo em conta que não é um espectáculo ao vivo (a pós-produção consegue criar qualquer coisa), logo as cenas sustentadas em CGI não são mais do que uma experiência insipida e desinteressante. Paradoxalmente, as cenas de acção (construídas com genica) estão “upa upa”.

Now You See Me revelou-se uma experiência frustrada, afinal, estavam lançados os dados para um Ocean´s Eleven (até o poster é parecido), com sucessivos twists e factores “uau”… mas não. Now You See Me é um bom filme (a qualidade é inegável), que sustenta-se na riqueza da temática, carisma dos actores e curiosidade nos eventos. É impossível resistir às cenas com Woody Harrelson (hipnotizantes e divertidas), às dinâmicas sólidas nos diálogos (potenciadas pela experiência dos actores), à crítica do personagem de Morgan Freeman (com profundidade social), ao twist final (apesar de previsível) e ao investimento no aspecto histórico do ilusionismo.

Now You See Me arriscou em demasia na originalidade do truque, somente um génio poderia elaborar uma narrativa sem protagonista e estabelecer empatia com o espectador. É uma hora e meia sem saber por quem devemos torcer, com uma trama órfã do entusiasmo dos elementos da surpresa, suspense e mistério. Reconheço que encaixo no perfil do personagem do Morgan Freeman, mas: macacos me mordam se o filme não seria muito mais interessante sem o pretensioso twist e concentrado no quarteto de ilusionistas.

Positivo

  • Jesse Eisenberg e Woody Harrelson
  • Temática do filme
  • Lote de actores
  • Cenas de acção 

 

Negativo

  • Execução da premissa do filme
  • Pouco tempo em cena dos protagonistas
  • Efeitos Visuais
  • Subaproveitamento do talento dos actores
  • Gigante bocejo no epílogo
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