Que tal ir ao cinema sabendo apenas o nome do actor principal e o título do filme? Enquanto uma série de pessoas suspira por um To Lisbon with Love ou Midnight in Lisbon, chega a Portugal Night Train to Lisbon, uma obra do realizador dinamarquês Bille August, autor de filmes galardoados como The House of the Spirits (1993), Les Misérables (1998) e Goodbye Bafana (2007).
Inspirado no best-seller de Pascal Mercier, Night Train to Lisbon conta a história de Raimund Gregorius (interpretado por Jeremy Irons), um homem inteligente e solitário, que lecciona na Suíça. Um dia, a caminho da escola, Raimund evita que uma jovem cometa suicídio. Para garantir a segurança da jovem, convida-a a acompanhá-lo, mas esta decide desaparecer, deixando para trás um livro e um bilhete de comboio para Lisboa. Raimund interessa-se pela história do livro, e parte para Lisboa com o intuito de compreender o legado do autor do livro, nomeadamente, Amadeu Prado.
Em Lisboa, Raimund investiga o paradeiro de Amadeu, desenterrando fantasmas que estavam esquecidos no tempo e compreendendo parte da história que antecedeu a revolução de Abril de 1974.
Para além de Jeremy Irons, que fundamentalmente faz de… Jeremy Irons, o filme conta com um elenco de actores interessante, numa espécie de Torre de Babel. Destaque para o britânico Jack Huston no papel de Amadeu, a talentosa Mélanie Laurent (francesa) no papel de Estefânia e o consagrado Christopher Lee, que interpreta o papel de Padre Bartolomeu.
Para o filme, também foram convidados actores portugueses. Evidentemente que é um “crime” ter Nicolau Breyner a interpretar um papel tão discreto, mas o actor português dá uma lição de classe e humildade, e proporciona uma performance imaculada no papel de Da Silva. No elenco português, podemos ainda encontrar Helena Afonso, Beatriz Batarda (a melhor actriz portuguesa da actualidade), Raquel Cipriano, Maria d’Aires, Marçal Godinho, João Lagarto, Joaquim Leitão, Adriano Luz (só sabe representar bem), Eloy Monteiro, Ana Lúcia Palminha, Bruno Salgueiro, Filipe Vargas, Jorge Veríssimo e José Wallenstein. Marco D’Almeida acaba por ser um caso muito estranho, dirigido por um realizador mais experiente, o actor português transcende-se e proporciona um desempenho fantástico, impressiona nos aspectos técnicos e na construção da personagem.
A realização de Bille August é de craque, muito clássica é certo, mas Lisboa ficou mais bonita aos olhos do dinamarquês. Uma iluminação irrepreensível, criterioso domínio do espaço cénico, compreensão das necessidades do texto e um bom tratamento de som.
Night Train to Lisbon acaba por ser um filme aceitável, uma história interessante quanto baste, um elenco de actores bem dirigidos e uma linha narrativa bem organizada. Porém padece de alguns problemas. As acções principais encarrilam por coincidência/conveniência e não há uma transformação física e psicológica nas personagens. O suspense existe, mas o mistério é insuficiente, provocando desfechos a meio gás e revelações insipidas.
Night Train to Lisbon é um filme sério e profissional, mas infelizmente não é arrebatador. Exigia-se um mistério denso, com uma revelação surpreendente no último segundo, capaz de cativar milhares de espectadores. Ficamos com uma história assim-assim sobre a revolução e uma edição a piscar o olho a potenciais turistas.
Positivo
- Marco D’Almeida! Foi preciso um bocado para entender que era o actor português
- Lisboa como cenário
- Iluminação
- Realização
- Qualidade dos actores
- Humildade de actores portugueses consagrados, a desempenharem papéis secundários
Negativo
- Climax?
- Sotaque português em inglês no filme, mais parece o sotaque russo
- O triângulo amoroso
- Ninguém se chama Amadeu e Estefânia
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