Análise – Mary Skelter: Nightmares

  • Plataformas: PlayStation Vita
  • Versão de Análise: PlayStation Vita
  • Informação Adicional: Imagens retiradas durante as sessões de jogo.

É um sentimento estranho quando esperam por um novo IP de uma das produtoras que seguem arduamente, com a esperança de que o novo jogo use o que a produtora tenha aprendido no passado, e ficam tanto entusiasmados como reticentes a cada nova peça de informação. Talvez por ter de analisar tantos jogos da Compile Heart/Idea Factory ou por ter um interesse nos seus jogos a verdade é que este duo acabou por se tornar num dos meus favoritos.

Os seus jogos acabam por ter uma ideia interessante mas a execução da maioria por vezes não é a melhor, talvez pelo duo não querer sair da sua zona de conforto ou simplesmente por não ter demasiada experiência com outros géneros para além do que costuma usar com a série Neptunia e os seus outros poucos IPs que chegaram a receber uma sequela. Ao analisar os recentes jogos era possível ver o potencial, apenas era preciso saber se a produtora era corajosa o suficiente para dar um passo em frente e arriscar com algo mais, algo que estou contente em dizer que sim.

Mary Skelter: Nightmares é um dungeon RPG que tem lugar na Jail. Esta “Jail” é uma entidade viva que surgiu um dia e absorveu uma cidade juntamente com os seus habitantes. Após os absorver a Jail usou os Marchen, criaturas criadas pela Jail que tentam imitar seres vivos ou objectos consumidos pela mesma, para raptar várias pessoas, incluíndo os nossos protagonistas, Jack e Alice. Na prisão literal da Jail os nossos protagonistas, em conjunto com os outros prisioneiros, são sujeitos a tortura todos os dias, isto é, até serem salvos.

A razão pela qual Jack e Alice foram resgatados deve-se ao facto de Alice ser uma Blood Maiden, o que significa que consegue usar habilidades especiais e enfrentar os Melchen, coisa que a Dawn, uma aldeia criada dentro da Jail com os refugiados que conseguiram escapar e sobreviver durante todo este tempo, necessita. Pois a Dawn tem um plano para escapar da Jail e precisa de alguém que consiga lutar.

Começo então por explicar o que é a Dawn, que funciona como a vossa base de operações. É possível aceitar quests, comprar e vender itens como é habitual, mas existe umas quantas outras opções disponíveis. Os dormitórios, onde podem gerir o vosso inventário e também oferecer presentes às Blood Maidens, ou mudar algum aspecto do quarto, quase dêem algo que elas gostem o nível de afecto irá aumentar e irão desbloquear alguns eventos com as mesmas.

Para além dos dormitórios existe também o laboratório, onde podem aumentar o número de skills que as Blood Maidens podem usar, mudar de “Job” e usar o Blood Devolution que basicamente retrocede uns quantos níveis à personagem mas com alguns stats extra. Também tem disponível a Blood Weapon Factory onde podem melhorar o vosso equipamento e por fim o Rescue Center onde podem limpar as Blood Maidens da corrupção, algo que irei explicar melhor mais à frente.

Passando então para a Jail, esta funciona como uma dungeon e o tema da mesma estar viva está constantemente presente. É possível ver orgãos como olhos e intestinos nas paredes, os grunhidos da Jail que se ouve com alguma frequência e também as suas necessidades. Não, não estou a falar desse tipo de necessidades mas dos seus desejos, como fome, luxúria e sono. Cada um desses três desejos pode ser satisfeito com as devidas actividades, criar “Blood Splatter” satisfaz a fome da Jail, encontrar pontos de emoção na dungeon satisfaz o apetite sexual e tomar acção sem sofrer dano aumenta o descanso da dungeon.

Estas necessidades, que é possível observar no topo direito do ecrã, ao serem satisfeitas tanto dentro como fora de combate activam um bónus que vem numa forma de roleta que apresenta várias opções como recuperar vida, receber mais dinheiro no final do combate ou até adicionar uma nova sala à dungeon. Cada necessidade tem os seus bónus específicos, e mesmo que activem o mesmo bónus duas vezes seguidas não existe garantia que as opões disponíveis serão iguais. Isto reforça o facto de a Jail estar viva, e por vezes o ar que rodeia a mesma acaba por ser um pouco arrepiante, em especial com os Nightmares.

Os Nightmares são os bosses de cada zona da Jail, e para os poder derrotar é necessário destruir o núcleo da zona primeiro. Mas enquanto estão a tratar disso o Nightmare poderá aparecer de um momento para o outro e começar a perseguir-vos, iniciando assim uma “Muder Hunt”. Quando estão numa Murder Hunt a única coisa a fazer é fugir, se entrarem em combate vão iniciar uma “Booked Battle” onde irão enfrentar os Marchen e o Nightmare ao mesmo tempo. Quando isso acontece a única coisa a fazer é derrotar os Marchen antes de o Nightmare ter tempo de tomar acção. O primeiro encontro com um Nightmare pode ser um pouco aterrador e irá fazer com que fiquem sempre em alerta, pois o mapa desaparece e ficam por vossa conta para encontrar o caminho para fora de perigo, mas existe sempre a probabilidade de darem de caras com um beco sem saída e de isso ditar o vosso fim.

A exploração da Jail tem vista em primeira pessoa, onde o jogador necessita de explorar a dungeon para ir criando o mapa, evitando armadilhas e fazendo uso das habilidades das Blood Maidens para poder abrir caminho e continuar a explorar. Por vezes existe pequenos puzzles que é necessário resolver para poder abrir uma porta, estes puzzles podem não ser necessários para a progressão do jogo mas não existe forma de saber pois o jogo simplesmente requer que explore-mos a dungeon até encontrar o próximo ponto de história. Continua a ser um problema nos jogos da Compile Hearts o facto de o jogo não indicar especificamente onde ir, apenas referindo o nome de um local durante o diálogo que se não estiverem atentos não tem maneira de o voltar a ver.

No que toca a combate, este é o típico RPG por turnos mas existe umas quantas mecânicas a ter em conta. Primeiro vamos falar sobre Jack, que ao contrário das Blood Maidens não é uma entidade que usamos para combater directamente. Jack tem como função proteger uma Blood Maiden de um ataque (ou mais), havendo a possibilidade de Jack ficar stunned ou K.O. caso este receba um ataque. Caso Jack seja stunned ele irá ficar um par de turnos sem poder tomar acção, mas se Jack levar com um K.O. então não poderá actuar durante o resto do combate.

Para além disso Jack é único que é capaz de usar itens e a Mary Gun, que a início pode recarregar sangue e usar o seu sangue para limpar a corrupção das Blood Maidens ou o “Blood Skelter Mode”, sendo que à medida que vão progredindo no jogo podem aumentar o número de habilidades da Mary Gun. Os inimigos não vão atacar Jack (excepto quando ele protege uma Blood Maiden) por isso Jack acaba por ser uma personagem suporte no sentido literal. O modo Blood Skelter é bastante perigoso e caso Jack esteja inconsciente poderá ditar o fim da vossa equipa, e se alguma personagem precisar de um item Jack é a melhor opção já que assim não será preciso gastar um turno com uma Blood Maiden a usar uma habilidade para curar alguém mas sim para atacar o inimigo.

As Blood Maidens funcionam como uma equipa normal no que toca a RPGs, podem atacar, defender, usar skills e a opção “lick”. Já referi por várias vezes uma ou outra mecânica que o jogo contém mas sem explicar o que realmente fazem, e caso tenham reparado a palavra “Blood” tem surgido por aqui e ali, e de facto é algo importante. Antes de mais tudo anda à volta dos “Blood Splatters” que ocorrem de cada vez que atacam um inimigo com um elemento a qual são fracos, façam um ataque crítico ou Overkill. Ao fazerem isso o Blood Splatter ocorre e com isso as Blood Maidens e a dungeon ficam cobertas de sangue, algo que é representado pelas manchas de sangue rosa por debaixo das personagens.

Em termos de dungeon o sangue fica visível no chão e paredes durante o restante do jogo, e isso pode ajudar ao manter Nightmares ao longe. No que toca a combate se a barra de uma Blood Maiden chegar ao máximo ela entra no modo “Massacre” onde os ataques são mais fortes e consegue usar habilidades especiais, se as Blood Maiden sofrerem dano crítico ou morrerem, elas vão receber corrupção, que é representado pelo tom mais escuro do sangue. E quando essa corrupção chega a um certo nível as Blood Maidens entram no Blood Skelter Mode onde não é possível controlá-las e as mesmas atacam tanto aliados como inimigos. Para as livrar desse modo podem usar Jack ou terminar a batalha que tudo volta a normal, para as limpar da corrupção também podem usar Jack durante o combate ou então o Rescue Center na Dawn.

As Blood Maidens podem usar a opção “lick” para consumir a barra de sangue de outra Blood Maiden antes de esta se transformar, e ganhar um bónus temporário, como por exemplo recuperar vida ou mp. É algo que dá jeito caso necessitem de um bónus extra, ou se Jack estiver fora de combate e alguém estar prestes a entrar no modo Blood Skelter, a personagem em questão não fica limpa de corrupção, mas a barra de sangue é esvaziada, adiando assim o que poderia ser um mau momento para o combate.

Para além disso podem organizar a formação das vossas personagens, algumas personagens e classes atacam com projécteis sendo melhor manter as mesmas na “Back Row“, já que recebem menos dano mas continuam a fazer a mesma quantidade de dano. Quando tiverem personagens mais que suficientes também podem fazer uso do sistema de parceiros, onde ao juntar duas personagens, a personagem selecionada como parceira irá oferecer um bónus, como por exemplo envenenar o inimigo quando se ataca.

Falando finalmente sobre a história, o tom com que esta começa tem um ar negro e esse mesmo tom é mantido durante o percurso do jogo. Normalmente a produtora tenta fazer algo sério mas com as várias “tropes” anime que insere nos seus jogos a história na maioria das vezes acaba por se distanciar do elemento sério, algo que não acontece em Mary Skelter: Nightmares. Continua a existir uma ou duas “tropes” na história, mas as presença das mesmas desceu drasticamente em comparação aos outros jogos da produtora.

A meio do jogo a história pode ficar um pouco mais lenta mas rapidamente começa a apresentar novas situações e desenvolvimento para o que está a acontecer e para as várias perguntas que o protagonista coloca. As personagens em si tem os seus momentos altos e baixos, e tal como na história por vezes sofrem um pouco da “trope” da sua personalidade, mas num todo foram bem trabalhadas. Para adicionar um pouco mais à história existe uma extra novel que serve como prólogo, sendo que ao explorar a dungeon vão encontrar umas quantas páginas de uma história sobre duas outras personagens e o que lhes aconteceu antes e durante o percurso do jogo.

Em termos técnicos não encontrei problemas no que toca à performance do jogo, embora tenha reparado em uma ou duas gaffes no diálogo mais para o final do jogo e em duas situações onde as personagens referiram alguém que ainda não tinha conhecido devido à ordem de eventos pela qual fiz as coisas. O design de algumas personagens podia estar melhor mas a outra metade tem um aspecto fresco e original, e alguns Nightmares tem um bom aspecto grotesco. Quanto à dungeon, por vezes alguns andares são desnecessariamente grandes, mas o aspecto que alguns tem ajuda a criar o ambiente. A banda sonora conta com umas boas faixas mas podia ter um pouco mais de variedade.

No final Mary Skelter: Nightmares conseguiu provar que o duo entre a Compile Hearts e a Idea Factory consegue melhorar após todo este tempo e voltar a criar algo sólido. A história mantém-se interessante durante o percurso do jogo e leva o jogador a questionar o que anda a acontecer, a jogabilidade oferece os seus elementos únicos que tanto acrescenta um pouco mais de dificuldade como estratégia. O jogo continua a apresentar um ou dois problemas que são habituais nos jogos da Compile Hearts, principalmente no que toca à exploração, mas se foi possível corrigir problemas anteriores neste jogo, então não quer dizer que no futuro estes problemas não sejam corrigidos. Pois como disse Mary Skelter: Nightmares é um jogo sólido para fãs e estranhos.

Positivo:

  • História tem um tom negro e consegue manté-lo
  • Ambiente arrepiante da Jail é bem conseguido
  • Banda sonora

Negativo:

  • Mapas por vezes são desnecessariamente grandes
  • É necessário andar às escuras até encontrar o próximo ponto de história
  • Pequena quantidade de gaffes que passaram despercebidas

Mathias Marques
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