Análise – Life is Strange

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Em menos de um ano e ao longo de cinco episódios, Life is Strange passou de um jogo de que ninguém falava ou conhecia para um jogo sobre o qual toda a gente mostra interesse e quer jogar. Essa evolução demorou meses, mas lembro-me bem de quando joguei o primeiro episódio; foi me dito que ia adorar Life is Strange e que não me ia arrepender. Fiquei pouco convencida, mas joguei e nunca pensei ficar tão agarrada a um jogo.

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Foram três horas em que pouco a pouco, o jogo me foi surpreendendo, e me deixou a querer mais no final, comprovando o que me foi dito.
Comentei acerca do jogo com amigos meus, falando do quão interessante Life is Strange parecia e falei de todas as teorias que tinha em mente, introduzi-os ao jogo, e quando dei por mim estávamos todos ansiosos pelo próximo episódio e a falarmos das escolhas que cada um de nós fez nos episódios anteriores e como poderiam afectar a história no futuro.

A sinopse do jogo é bastante simples e faz com que o jogo pareça algo mais banal do que realmente é: Jogamos como Max Caulfield, uma estudante de fotografia de Blackwell Academy, uma escola conhecida pelos seus artistas. Max tira selfies, tem um diário onde escreve regularmente e parece uma adolescente completamente normal. No entanto, esta descobre que não é tão normal quanto parece, quando ao salvar uma rapariga de ser alvejada (rapariga essa sendo a melhor amiga de Max, com quem esta não falava há cinco anos) e consequentemente morta, descobre que consegue voltar atrás no tempo.

Após salvar Chloe, Max e esta voltam a aproximar-se e vivem imensas aventuras juntas, desde investigar o desaparecimento de Rachel Amber, uma grande amiga de Chloe a tentar descobrir o porquê dos poderes de Max e como parar a tempestade apocalíptica que ameaça destruir Arcadia Bay. A relação entre Max e Chloe pode se interpretada de várias formas, e a maneira como nós a interpretamos vai influenciar bastante as escolhas mais importantes do jogo.

Quanto a jogabilidade, temos várias componentes: vão haver alturas no jogo em que temos puzzles por resolver, envolvendo a mecânica de se poder voltar atrás no tempo; e conversas de escolha múltipla com várias personagens. À medida que vamos conversando com estas, vão-nos dando pistas que nos permitem voltar atrás no tempo e fazer a pergunta ou dar a resposta correcta, por exemplo.

Podemos ver isto como manipulação social, de certa forma, pois podemos fazer com que os professores da escola e/ou os nossos colegas gostem de nós ao perguntarmos coisas acerca do que eles gostam, ou algo que tenha a ver com situações pelas quais estes possam estar a passar (bullying é um bom exemplo), se bem que à medida que o jogo vai avançando, esta manipulação social vai se tornando mais importante, até chegar ao ponto de ser uma escolha entre vida e morte.

A dada altura, os vossos poderes vão ser inútilizados e terão de se lembrar de tudo o que aprenderam sobre determinada personagem a fim de a conseguirem salvar, ou de prevenirem uma catástrofe sem terem o poder de voltar atrás no tempo. É nestas alturas que Life is Strange brilha ao máximo — quando Max é apenas uma rapariga que tenta dar o seu melhor para encaixar no meio onde se insere, e apenas quer ser uma pessoa melhor.

Outro aspecto do jogo de que gostei bastante e em que este brilha, é o facto de podermos explorar o mundo à nossa volta, aqueles pequenos momentos em que Max consegue mesmo fazer uma grande diferença na vida de alguém. As consequências “cósmicas”, gigantes que acontecem como resultado de Max interferir com o tempo não são tão boas tanto como essas, a meu ver. Em cada episódio terão algumas decisões importantes a fazer que influenciarão as vossas relações com as outras personagens e o fim do episódio, se bem que a dada altura é introduzida uma nova mecânica que vos irá permitir que viajem mais atrás no tempo do que era anteriormente possível , fazendo com que essas escolhas se tornem um pouco inúteis…

Olhando para trás, Life is Strange resume-se a uma só escolha, mas isso seria perder tudo o que se passou durante os cinco episódios, as amizades que fizemos, e faz com que nos consigamos aperceber como Life is Strange consegue fazer com que nos afeiçoemos às personagens do jogo pouco a pouco e consegue com que queiramos ajudar toda a gente, saber mais sobre elas e preocuparmo-nos com as escolhas que fazemos ao longo da nossa “viagem”.

A Dontnod Entertainment explicou que cada personagem começou como uma espécie de estereótipo, e conseguimos ver isso no primeiro episódio: Temos a rapariga snob, irritante e rica ; o desportista, a rapariga da claque, o nerd , o rapaz estranho que faz coisas estranhas, o skater, posso continuar por aí fora mas acho que perceberam onde quero chegar. Se não perceberam, e se estão a perguntar “Onde é que ela quer chegar com isto?”, a resposta é simples.

Se interagirem com essas personagens, vão perceber que são muito mais do que aquilo que parecem. Até o pessoal que pertence ao Vortex Club, surpreendentemente.

Tentem ser amigos deles e ouvir o que têm para dizer, e irão descobrir que não são tão más pessoas como parecem, e alguns até são bastante porreiros.

Até aquele miúdo que parece ser creepypasta, consegue ser bastante simpático convosco e ter conversas interessantes se falarem do que lhe interessa, e arranjar tempo para vocês.
Ao longo dos cinco episódios, vão ser confrontados com escolhas que vos farão considerar cada uma delas e uma das variantes para tal é esta mesma, se bem que também aprenderão que Max pode não ser tão altruísta como parece ser, dependendo das escolhas que fizerem.

Essas escolhas são o que introduz um dilema no jogo: Vontade própria vs. determinismo e as teorias de várias linhas do tempo ou universos alternativos, como preferirem denominá-los.
Acho que esse dilema foi das coisas que me agarrou cada vez mais ao jogo, nem foi o mistério de volta de Rachel — não, foi mesmo o mundo em si, as escolhas feitas diariamente. A forma como o jogo lida com tudo isto é tão inteligente (emocionalmente inteligente) e bem pensada, que me deixou com vontade de mais. É algo que não se consegue em muitos jogos, mas Life is Strange pode orgulhar-se disso.

Quando vemos o quão belo o mundo consegue ser, seja a ouvir uma música calma que passa na rádio, ou a admirar a paisagem de alguma área do jogo, quando somos imergidos no ambiente deste. Quando aborda problemas como suicídio, bullying, assédio sexual, quando personagens são denegridas sexualmente (tratadas como meninas da vida, por assim dizer) quando realmente não o são, ansiedade social, sexualidade, problemas familiares, drogas, todos os traumas e mais alguns (e que são comuns na adolescência) pelos quais se pode passar enquanto lutamos por nos aceitarmos como somos.

Quanto aos elementos sobrenaturais do jogo, estes raramente são explicados ou abordados apesar da história ser bastante fortalecida por estes, fazendo com que pareçam mais uma ferramenta de narrativa do que um ponto importante do enredo.
Isso foi algo que não me agradou, pois estava a espera de ter mais respostas e não as tive. Penso que é algo que poderia ter sido explicado de outra forma, e o final acabou por ser bastante previsível.

As vozes das personagens estão bastante boas, embora a sincronização destas não seja a melhor.
As músicas da banda sonora são absolutamente espectaculares, sejam quais forem, condizendo bem com o ambiente, as personagens e a história.
Não me canso de as ouvir a todas, aliás gostei tanto da banda sonora que a tenho no meu telemóvel e PC. Podem também ver a nossa Jukebox acerca da banda sonora aqui.

Os gráficos são bastante bonitos a meu ver, dando um toque pessoal ao jogo e nota-se que os artistas se esforçaram para dar um ambiente característico ao jogo, muito próprio e único.
As escolhas acabam por perder alguma importância nos últimos dois episódios, e um dos finais foi muito pouco desenvolvido, parecendo quase que um castigo para as pessoas que escolheram esse mesmo fim — penso que deveria ter explicado um pouco mais do que se passou, mas é apenas a minha opinião (e provavelmente a de muitas outras pessoas).

Apesar dos pontos negativos de Life is Strange, como a história ter alguns plot holes e o diálogo poder ser melhorado em determinadas alturas, e as escolhas não terem tanto impacto no final como deveriam, Life is Strange consegue alcançar uma audiência que poucos jogos conseguem hoje em dia, pelo menos da maneira com que o jogo o faz. Tem um estilo muito próprio, embora os gráficos não sejam nada de outro mundo.

Mesmo com tudo em conta, este é um dos melhores jogos que joguei em 2015, e foi o único jogo que me fez chorar os últimos vinte minutos em que o joguei de tal forma, que não me conseguia sequer assoar no fim. Life is Strange conseguiu com o seu ambiente, história e personagens, conseguiu entranhar no meu coração de tal forma que teve um grande impacto em mim. É por isto, e por ser um grande jogo apesar das suas falhas, que o recomendo vivamente.

Positivo:

  • Vozes bastante boas, chegando a ser espectacularespn-recomendado-ana
  • Banda sonora absurdamente boa, que se enquadra bastante bem no jogo
  • As escolhas são importantes, e as consequências destas destacam-se
  • Consegue abordar assuntos importantes de forma inteligente
  • Puzzles interessantes
  • Mecânica de voltar atrás no tempo é fácil de aprender e manejar
  • Preço bastante acessível

Negativo:

  • Sincronização de lábios com as vozes precisa de ser melhorada
  • Texturas bastante normais
  • As escolhas deixam de ter tanto impacto nos últimos dois episódios
  • Poucos finais disponíveis, sendo um deles bastante ambíguo e insatisfatório

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