Análise – Kick-Ass 2: Agora é a Doer

Recuando até 2010, durante o processo de consolidação dos filmes de super-heróis, surge uma longa-metragem que desmonta a noção de perigo e responsabilidade do arquétipo do super-herói. Kick-Ass misturava violência explícita (nos filmes de super-heróis só existem mortes higiénicas), crueldade do mundo real e a emancipação da sociedade digital.

O filme levantou Matthew Vaughn para um patamar dourado da realização mundial, que resultou num convite da 20th Century Fox para realizar X-Men: First Class e o nome na restrita tabela de potências realizadores de Star Wars: Episode VIIAaron Taylor-Johnson e Chloë Grace Moretz também beneficiaram com o sucesso, e agora são dois dos actores mais requisitados de HollywoodKick-Ass 2: Agora é a Doer foi assumido por Jeff Wadlow (substituiu Matthew Vaughn), e conta com os regressos de Aaron Taylor-Johnson na pele de Dave Lizewski/Kick-Ass e Chloë Grace Moretz no papel de Mindy Macready/Hit-Girl.

A história continua anos depois dos eventos do primeiro filme, numa realidade em que Dave está afastado da luta contra o crime e Mindy tenta integrar-se na sociedade. Kick-Ass decide regressar ao activo e junta-se a Justice Forever, um grupo de super-heróis liderado por Coronel Stars and Stripes (interpretado por Jim Carrey). O combate contra o mal poderia ficar pelo auxílio a velhinhas, para atravessar a estrada, e a lavar pratos em centros de apoio social, não fosse o plano diabólico de Chris D’Amico/The Motherfucker (interpretado por Christopher Mintz-Plasse), que pretende criar o primeiro grupo de super-vilões do mundo e vingar a morte do pai.

O elenco conta ainda com Lyndsy Fonseca, Clark Duke, Donald Faison, Steven Mackintosh, Lindy Booth e John Leguizamo. De um modo geral, as interpretações em Kick-Ass 2 são positivas, mas o destaque vai todo para os actores mais experientes. Mintz-Plasse está hilariante, com diálogos e posturas que misturaram referências pop, violenta e desconforto. Jim Carey, que veio a público lamentar a participação do filme, tem uma prestação interessante e diferente da zona de conforto do actor.

A realização de Jeff Wadlow está boa e recomenda-se (o realizador está alinhado para realizar o filme X-Force). Apesar de algumas imperfeições, sobretudo em enquadramentos e movimentos de camara (a velocidade da edição não permite compreender a intenção do realizador), estes detalhes são compensados com cenas de acção frenéticas (cena na autoestrada é notável) e um trabalho de produção realista perante o orçamento de baixo-custo.

Nos restantes aspectos técnicos, uma menção honrosa para a hilariante banda-sonora selecionada e uma direcção fotográfica consciente do material de base. Eventualmente, o filme aparenta ser curto e o derradeiro showdown não respeita a banda-desenhada (seria em Time Square), mas mais uma vez, o baixo-orçamento delineado pela Universal não foi inimigo do resultado final.

Kick-Ass 2 é um dos melhorzinhos do Verão de 2013. O filme de Jeff Wadlow não supera o original de Matthew Vaughn, mas encarna muito bem a noção de entretenimento, com valor acrescido pelas mensagens sociais, sagacidade nas punch-lines, humor-negro e cenas de acção acima da média.

Kick-Ass 2 não deve ser levado a sério, contudo e paradoxalmente, a seriedade da gravidade dos eventos no filme constrói uma verdade que entrelaça a realidade e a fantasia, aplicando um conceito de Gil Vicente: “Ridendo castigat mores”, expressão latina que significa “a rir criticam-se os costumes”.

Positivo

  • Aaron Taylor-Johnson e Chloë Grace Moretz
  • Christopher Mintz-Plasse está sempre over the top, a roçar o insuportável, mas é hilariante
  • Referências à cultura pop nos diálogos
  • A técnica narrativa do Peixe Fora-de-Água aplicada a Hit-Girl

 Negativo

  • Baixo-orçamento do filme
  • Duração do filme
  • Necessidade de verbalizar o arco evolutivo do personagem principal

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