Análise – Journey

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Já todos ouviram falar, mas nem todos o experienciaram. É impossível não se conhecer Journey, quer seja pelo seu nome, vencedor de inúmeros prémios ou pelo simples facto de se ter um amigo que já experimentou e não se cala, inquieto.

Tive de esperar um bom bocado até me sentir minimamente apta para escrever esta análise, e mesmo assim, continuo sem palavras.

Peço-vos que compreendam que o que torna o jogo tão épico é o facto de este não ter palavras nem falas, isto é o que torna a vossa jornada emocionalmente ilimitada. E é por isto, que lamento ter de pôr limites ao escrever esta análise, mas tenho mesmo de convencer, de alguma maneira, aqueles que ainda não experimentaram Journey a fazê-lo.

Ao acordarem num deserto, como uma criatura de manto vermelho, enigmática e misteriosa, tudo o que vêm para além de areia dourada, é uma montanha iluminada pelo Sol, no horizonte (com “objectivo escrito na testa”).

Sem qualquer tipo de indicações directas, o jogo vai-vos dando pistas que passam despercebidas para que a exploração seja levada e sentida de forma livre.

A jogabilidade é bastante simples e os controlos são acessíveis, a complexidade está na atmosfera envolvente, rica e interactiva.

A vertente co-op deste Journey ainda realça mais o lado magnífico do jogo. Nos dias que correm, ninguém se consegue abstrair a 100% da futilidade obrigatoriamente impingida na sociedade para se aperceber, o que implica criar um laço. Eu acredito que este jogo reduz os sentimentos ao seu estado mais puro, de tal forma que, ao cruzar-mos caminho com um jogador desconhecido, e após uns breves momentos de partilha, sentimos uma ligação avassaladora sem trocar nada mais do que o som místico emitido pela personagem.

Não se pode dizer que o jogo seja desafiante a nível de dificuldade, porque a intenção é reagirmos da forma mais pura e directa a cada emissor sensitivo do jogo. Não podem existir modificadores da experiência como preocupações em conseguir pontuações ou distracções com arranjar estratégias. Isso estraga, polui. Aqui, tudo é fluído e espontâneo.

Journey para a PS3 foi um sucesso tão grandioso que teve direito a um remaster. Apesar de não existirem alterações na jogabilidade nesta nova versão PS4 em relação à original, o visual do jogo merece correr a 60fps com 1080p de resolução. Quanto mais perto da realidade estiver, mais marcante será vivenciá-lo. Para além de ser possível abstrairmo-nos do mundo real enquanto jogamos, podemos substitui-lo pelo universo de Journey e assumir que estamos mesmo lá emergidos.

Apercebemo-nos do quão bom e envolvente está este jogo quando, através de uma paisagem é-nos transmitido mais do que em certos guiões completos. Tal como o nome indica, Journey não dá importância ao destino mas sim à aventura para lá chegar. O vento arrebata-nos de verdade, a areia desliza mesmo por baixo dos nossos pés, as ruínas de uma civilização perdida dão arrepios e sente-se um alívio quando encontramos um abrigo. Jorney é o argumento-chave para fechar as discussões que põem em causa o facto de os videojogos se poderem considerar obras de arte ou não.

A banda sonora da primeira versão de Journey foi a primeira do mundo dos videojogos a ser nomeada para Grammy Award. É espantoso mas ao mesmo tempo parece naturalíssimo. Não se ouve uma única palavra ao longo de todo o jogo, e que falta é que isso faz? Nenhuma. Aliás, provavelmente é isso que torna Journey em algo tão especial. Os sons e a música transmitem grande parte das emoções e cumpre o seu trabalho no que toca a fazer-nos sentir exactamente aquilo que é suposto, da forma mais marcante e artística.

Demorei duas horas para terminar a minha jornada, e só não demorei mais por ter tido a ajuda de outro viajante experiente, que apesar de me deixar guiar e descobrir sozinha, voltou para trás várias vezes e me orientou com algumas pistas… Não sei como é que o fez sem palavras, mas senti-me muito mais segura durante a altura do jogo em que me acompanhou. Foi intenso e divertido, apesar de eu ter sido um desastre noob em certas ocasiões. “Still a better love story than Twilight.”

Sei de alguns jogadores que ficaram descontentes com a longevidade de Journey… Consigo partilhar da mesma pena que senti quando percebi que tinha chegado ao fim. “Quero mais!” pensei eu em tom amuado, de braços cruzados e a fazer beicinho (mas isto só depois de ter recuperado do mind-blown que sofri com a experiência… passaram-se pr’aí uns cinco minutos em que fiquei boquiaberta e em modo maravilhada).

Por outro lado, tentando ser racional, se o jogo fosse mais duradouro, seria também, menos intenso. A boa notícia é que podemos sempre começar um novo jogo e fazê-lo de forma diferente. Por exemplo, orientar e conduzir outros jogadores principiantes e marcando a sua aventura, tal como fizeram com a nossa. It’s just so majestic and epic.

Jorney é misterioso o suficiente para nos obrigar a alargar os horizontes da nossa imaginação, estremecendo os territórios adormecidos da mente de cada um. É um jogo que nos faz querer ficar encapsulados naquele mundo, sem sabermos exactamente porquê, queremos ficar aprisionados naquela liberdade. Sei bem que, por ser tão enigmático, a experiência pode ser bem diferente, consoante quem está encarregue do comando, e gostava que partilhassem a vossa, na zona dos comentários.

Tenho a certeza que, das duas horas que joguei, recolhi memórias marcantes o suficiente para durarem anos. Quem já ascendeu ao topo da montanha, sabe exactamente aquilo a que me refiro.

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  • A banda sonora é majestosa
  • Paisagens com lugar reservado nas nossas mente durante muito tempo
  • Mexe com o estado de espírito, dá arrepios e marca presença em sonhos
  • O mistério e o facto de este se manter até ao fim, é melhor ficarmos sem respostas

 

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