Análise – Interstellar

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Falar de Christopher Nolan implica, obrigatoriamente, reconhecer que se trata do realizador tipo do século XXI. Há dúvidas? Ora vejamos. O realizador natural de Londres trabalhou com os actores mais requisitados do novo milénio (Leonardo DiCaprio, Joseph Gordon-Levitt, Tom Hardy, Matthew McConaughey, Hugh Jackman, Aaron Eckhart, Heath Ledger, Christian Bale, Anne Hathaway e Jessica Chastain), realizou filmes de super-heróis (saga The Dark Knight) e é responsável por um dos maiores filmes de culto da era moderna (Memento). Além deste CV impressionante, Nolan reúne consenso entre fãs do género cinematográfico, alcançando várias camadas (ficção-científica, acção e policial), agradando às massas e às classes mais elitistas, que “fazem de conta” que entenderam a temática dentro de Inception à primeira. Nolan é um exemplo para a próxima geração de cineastas, enquanto realizador dedica imenso trabalho aos guiões e inspira-se em várias influências artísticas, tornando cada filme num “must see”.

Finalizada a saga The Dark Knight, e depois de algumas dúvidas sobre o novo trabalho, Christopher Nolan reuniu-se com o irmão Jonathan Nolan e desenvolveu uma história em redor da teoria astrofísica de Kip Thorne, acerca de passagens espaciais que desmontam a noção de tempo e espaço.

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A história narra a odisseia de Cooper (Matthew McConaughey), um chefe de família que vive numa realidade semi-apocalítica no planeta Terra. A Humanidade atravessa uma crise de recursos e está à beira da desolação total, a única solução é a expansão intergaláctica e a mudança para outro planeta.

Além do detentor do Óscar de Melhor Actor da última edição dos Óscares da Academia, o elenco de Interstellar é algo de outro mundo, com a fina-flor de Hollywood em destaque. Christopher Nolan reuniu Anne Hathaway, Jessica Chastain, John Lithgow, David Oyelowo, Michael Caine, Cassey Affleck e Matt Damon ao elenco, agrupando uma dose maciça de talento a um guião interessante, com conteúdos e diálogos interessantes. Há ainda a salientar a boa prestação de Bill Irwin e do jovem talento que dá pelo nome de Mackenzie Foy.

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A realização não engana ninguém, é o estilo de Christopher Nolan. O realizador insiste em enquadramentos robustos e poderosos, evitando planos muito apertados e planos de detalhe meramente informativos. Os movimentos com a camera rimam sempre com a dinâmica da acção, o que torna a leitura da narrativa visual bastante orgânica. No capítulo dos aspectos técnicos, nota-se a ausência de Wally Pfister (substituído por Hoyte Van Hoytema), sobretudo na viagem espacial (estéril de acordo com o tema, mas sem valor acrescido). Hans Zimmer está ao melhor nível, tal como a equipa dos efeitos especiais (de deixar o queixo caído).

Interstellar surge um ano depois de Gravity, um dos melhores filmes do género. Embora tenham temas diferentes, ambos os filmes tentam simular de forma verosímil a odisseia humana na conquista das estrelas, tendo como base o conhecimento científico adquirido. Se Gravity adicionou uma pitada de horror ao filme, concentrando a temática na impotência do ser-humano fora da prisão azul, Interstellar vai mais longe, explorando wormholes, buracos negros, gravidade e diferentes abordagens de tempo experimentadas em várias zonas do nosso universo, ligando, contudo, o “simulador” à ficção-científica.

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Interstellar é um wormhole no panorama cinematográfico de 2014, ou seja, é complexo e viola várias regras pré-estabelecidas. Embora as questões filosóficas sejam interessantes (o destino da raça humana; a questão do tempo; o que transcende o espaço e o tempo), há elementos que criam entropia na mensagem. É impossível ignorar as coincidências que engatam alguns eventos no filme (escolha de Cooper pela NASA; experiência no buraco negro; epilogo), a introdução abrupta da fantasia e a alegada química (inexistente) entre Brand e Cooper. Também há a lamentar a presença de Matthew McConaughey… Antes que apertem o meu pescoço, McConaughey não “escangalha” o filme, mas o actor de Dallas Buyers Club padece da síndrome “Kevin Costner”, o que atrapalha o perfil do personagem altruísta, capaz de lutar por si e pelos seus (talvez numa outra dimensão, Nolan escolheu uma protagonista feminina e atribuiu o papel a Jessica Chastain).

Colocadas as peças na balança, Interstellar é interessante, actual e filosófico, tal como o legado filmográfico do realizador, contudo, Nolan tornou recorrente a mesma receita nos seus filmes, ou seja, criação de um problema, preparação do twist final com indícios subtis e resolução rápida, repleta de informação abstracta e vaga, para deixar a audiência convencida que os irmãos Nolan são geniais.

 

 

Positivo

  • A hipótese científica de Kip Thornepn-recomendado-ana
  • Odisseia espacial
  • Planetas
  • Jessica Chastain e Mackenzie Foy
  • Experiência fora da realidade

 

Negativo

  • Anne Hathaway pouco participativa
  • Coincidências
  • Podiam contratar um cientista para trabalhar na química entre Brand e Cooper
  • Mesmo sem o ver, o Daniel Silvestre conseguiu catalogar melhor o filme do que eu… é uma mistura de Contacto com Gravity

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