Análise – Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa (Nintendo Switch)

A era dos jogos do género de aventura e point-and-click deixou a sua forte marca, através de clássicos como The Secret Of Monkey Island (1990) e Grim Fandango (1998), assim a partir destes títulos, toda uma vasta geração de pessoas cresceu a jogá-los e posteriormente a guardar uma forte sensação de nostalgia por estes últimos. Logo, não é de estranhar que atualmente, ainda saiam para o mercado, jogos deste género, tal como é o caso dos títulos da franquia Inspector Zé e Robot Palhaço.

Contudo, aqui não se trata propriamente de uma novidade, levando em conta que Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa foi originalmente lançado em 2013. Todavia, devido à enorme popularidade e sucesso comercial deste jogo, cuja produção esteve totalmente a cargo por uma chancela portuguesa, a Nerd Monkeys, foi (re)lançado para a Nintendo Switch, agora em 2020. E tal como os seus semelhantes, este Crime no Hotel Lisboa, é moldado, como referi anteriormente, com base na estética e formato de um jogo 2D de aventura do género point-and-click.

A dupla de protagonistas, composta por Inspector Zé, cuja carreira e credibilidade enquanto detetive não é de todo a melhor, e Robot Palhaço, o seu ajudante, que na verdade nada mais é do que um robot doméstico aspirante a palhaço e comediante, têm de resolver um mistério crime que teve lugar no Hotel Lisboa. Aqui, esta dupla depara-se com um indivíduo morto que alegadamente, cometeu suicídio com catorze facadas nas costas.

Como é óbvio, visto a estranheza da natureza deste crime, cabe ao Inspector Zé, não só embarcar numa jornada que lhe levará a desvendar uma conspiração muito maior, como simultaneamente recuperar a sua credibilidade enquanto agente de autoridade. Para isso, contará com Robot Palhaço, cujo propósito serve tanto para justificar a presença de um inventário infinito, como também para que haja alguma interação com este último durante a aventura, aliado ao seu bom (?) humor tão característico.

Esta experiência segue muito de perto, aquilo que se pode esperar de um título deste género: Pudemos clicar em todo o tipo de objectos e pessoas num dado cenário, permitindo-nos olhar ou interagir com estes. Adicionalmente, pudemos ainda, se assim se justificar, colecionar também os diversos itens espalhados pelo cenário em redor do Hotel Lisboa e afins, que servirão para os sucessivos interrogatórios que iremos ter de pôr em prático, de forma a solucionar o grande caso.

Por falar nisso, é aqui que entra em jogo, o maior elemento de gameplay, que diferencia significativamente Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa dos seus contemporâneos. Nestas secções, o objetivo central, prende-se em chegar ao ponto, que uma dada personagem em causa, revele ou assuma, uma informação fulcral para o caso. Neste âmbito, iremos ter de interligar um item que colecionamos, com uma dada afirmação, capaz de relacionar ambas as evidências numa prova ou statement.

Fora isto, em termos de gameplay, a Nerd Monkeys preferiu seguir à letra, os mesmos passos dos restantes clássicos do género, colocando o holofote, na história e na ambientação e respectivos personagens, fazendo do gameplay, um meio para se chegar a um fim.

Em termos de gráficos, é também feita uma homenagem a um estilo mais cartunesco e pixelizado, que mistura tanto cenários 2D, com objetos e figuras com movimentação em 3D. Fazendo quase lembrar uma espécie de comicbook em formato motion, onde se preza tanto a qualidade original, como uma sensação de dinamismo e fluidez. A equipa da Nerd Monkeys decidiu aproveitar a ocasião para evidenciar e mostrar internacionalmente, a tão particular cultura e vivência quotidiana do povo português. Temos desde um elétrico até às expressões e piadas do folclore português em cima da mesa, o que para alguém que é de fora pode dificultar a sua compreensão. Contudo foi também incluída uma versão inglesa que colmata estas “particularidades” de forma bem eficiente.

Vale ressalvar, que pessoalmente, enquanto membro pertencente a esta vasta e rica cultura tuga, devo dizer que a Nerd Monkeys conseguiu positivamente, fazer uma caricatura concreta, de todo o tipo de coisas que fazem parte do nosso dia-a-dia, especialmente com as personagens tipo, tais como o Agente Garcia ou o Sr. Manel. Não fica somente por aí, porque inclusive esta presente um mini-jogo extra, que nos põe na pele do Robot Palhaço, enquanto tentamos convencer um público até “flexível” de que as nossas piadas secas, são efetivamente a última obra prima da comédia nacional.

Posto isto, o humor do jogo, que é dos seus elementos mais presentes, é questionavelmente misto, isto porque, depende muito da predisposição de cada pessoa. Certas piadas encaixam que nem uma luva, no timing certo, outras são empurradas ao jogador e demasiado forçadas. O que me leva à conclusão, que apesar do estilo amigável e convidativo de Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa, este é um jogo a pensar numa faixa etária mais velha, entre que ronda os 30 anos, pois determinadas situações e diálogos, podem ser demasiado “directas” para um público mais jovem. No entanto, como não foi este aqui o caso, consegui me divertir com os diversos estereótipos e situações apresentadas.

Do ponto de vista negativo, devo dizer que apesar da reduzida dimensão do cenário por onde circulamos, não fui o maior fã dos sucessivos backtracking, que tive de executar para resolver determinadas missões, mesmo com a presença de um táxi, que serve como sistema de fast-travel. Além disto, e sendo a resolução do mistério o chamariz que levará os jogadores a investir o seu tempo com este título, pessoalmente, achei-o demasiado simples e até consegui na primeira hora, desvendar parcialmente o caso.

Isto porque, devido ao reduzido elenco de personagens apresentadas torna-se relativamente fácil de deduzir quem poderá ser o responsável do caso. E isto vem reforçar, que a presença de mais três side-quests opcionais, está a mais, pois o seu tempo de desenvolvimento, poderia ter sido usado para fortalecer os alicerces em torno do caso principal.

Por oposição, encontra-se uma banda sonora bastante sólida. Contudo, certas faixas rapidamente se tornam repetitivas, ainda para mais, caso tenhamos de retornar a determinada zona mais do que uma vez, sucessivamente. Adicionalmente, sinto que a inclusão de um elenco de vozes, que servisse de complemento para os diálogos, teria sido uma boa aposta, que iria também ao encontro da vertente humorística do jogo, através de uma dobragem portuguesa.

Por fim, vale referir que como se trata da versão da Nintendo Switch, que todos os controlos são responsáveis, apesar de ajustados ao ritmo lento do jogo. A vertente da portabilidade encaixa que nem uma luva nesta aventura do Inspector Zé e do Robot Palhaço, uma vez que devido à sua simplicidade, se torna acessível e prazeroso experienciar o desfecho desta história em modo portátil.

Como um todo, Inspector Zé e Robot Palhaço em: Crime no Hotel Lisboa é mais uma prova da forte capacidade empreendedora portuguesa, neste caso no ramo dos videojogos. Não só consegue ser uma adição, que de alguma forma se aproxima dos clássicos de mesmo género, como também, tem um teor original de tal forma particular, que torna-se rapidamente, num verdadeiro tesouro nacional dos videojogos. Pode não ser a experiência mais duradoura ou a mais desafiante, mas é sem dúvida, uma que vale a pena viver-se pelo menos uma vez.

Positivo:

  • Estilo artístico pixelado;
  • Banda sonora;
  • Inúmeras referências à cultura portuguesa;
  • Personagens e situações caricatas;
  • Gameplay acessível e simples;
  • Versão de Nintendo Switch bem executada;
  • Replica, praticamente, par-a-par a fórmula clássica dos jogos point-and-click

Negativo:

  • …mas não vai mais longe nas suas ideias base;
  • Mistério rapidamente solucionado;
  • Qualidade do tom humorístico varia consoante o jogador;
  • Longevidade poderia ter sido estendida;
  • Pouco desafiante;
  • Tempo das side-quests podiam ter sido aproveitadas para desenvolver o caso principal;

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