Análise – Gran Turismo 7

Depois de ter passado pela geração anterior apenas como Gran Turismo Sport. A Polyphony Digital esteve os últimos anos a criar Gran Turismo 7 como o verdadeiro sucessor de Gran Turismo 6 e o grande regresso da série. Feito  com a PS4 em mente, mas a olhar essêncialmente para a PS5 como a derradeira evolução, Gran Turismo está de regresso com um dos melhores jogos de corrida da actualidade, mas será cada vez melhor quanto mais forem fãs do desporto automóvel.

A primeira coisa que salta imediatamente à vista em toda a experiência com Gran Turismo 7 é a forma como tudo foi feito para criar a experiência mais Premium que podem imaginar. Por vezes, chega a parecer mais uma demonstração glorificada de um programa de televisão de carros interactivo do que um jogo por assim dizer.

Existem dois modos principais que são bastante distintos entre si. Temos a zona da competição com o World Map onde temos os menus que nos permitem jogar a campanha, tratar dos carros, ir à garagem, fazer as licenças, entrar em competições oficiais e até o multijogador online. Depois temos o Music Rally, um modo rápido ao estilo dos jogos antigos de carros em arcades onde se jogava por Checkpoints.

O Music Rally é uma ideia interessante pois é ao mesmo tempo o espaço ideal para relaxar, mas também para competir por tempos e aprender algumas das manhas da condução ao som de música clássica e outros géneros. É um modo deveras estranho, mas que acaba por ser a versão mais imediata de jogar e a qual ajuda a colmatar a vertente mais arcade de Gran Turismo 7. Como alguém que passou a desligar a música durante as corridas, acaba por ser integral ter a música associada a este modo de forma inteligente. Porém, parece algo vazio e desprovido de longevidade, sendo uma oportunidade perdida para fazer muito mais (mesmo que tenha mais conteúdo prometido para o futuro).

À semelhança do que já havia sido feito nos Gran Turismo anteriores, aqui também existe um mapa de “instalações” que podem visitar para fazer uma grande quantidade de coisas nesta campanha. Existe a zona de competições, a loja de carros usados, a oficina, o vendedor de peças, etc. Uma das paragens mais regulares será também o café, um espaço onde recebem as missões que ajudam a progredir na carreira. O café é ao mesmo tempo um local ideal para ganhar missões e desbloquear coisas, assim como torna o jogo demasiado maçudo e lento.

Eu sou um jogador de RPG e como tal dou importância à história e contexto, de qualquer forma, Gran Turismo 7 quer ser demasiado informativo, chegando a ser chato por vezes com todos os NPC que metem conversa conosco para falar dos nossos carros, da pista, da corrida, de factores históricos. Eu reconheço que os entusiastas vão ficar nas nuvens por saber as diferenças e trivias sobre três carros japoneses de tracção à frente que acabaram de ganhar, mas eu quero jogar, por isso comecei a saltar estes monólogos à frente e a ignorar as dicas dos pilotos que aparecem de forma sorrateira antes de cada competição.

A celebração em Gran Turismo 7 está em grande quando vamos aos carros. Existe qualquer coisa de fascinante nesta série na forma como apresenta os automóveis e como nos permite encher a nossa garagem. Dá “pica” ir ver o que existe de novidade nos carros usados, ver o que cada marca tem para venda como novo, dar uma limpeza ao carro e explorar os interiores que foram criados ao detalhe. Longe vão os tempos dos carros Premium, agora tudo foi recriado com todo o pormenor e isso fez-me perder muito tempo de análise apenas a ver como os carros que ia comprando eram por dentro.

A celebração continua na condução e embora continue a não ser o derradeiro “Real Driving Simulator”, faz um muito bom trabalho em chegar próximo de dar essa ideia. A condução em Gran Turismo 7 é divertida tal como me lembro de sentir desde os primeiros jogos e os carros respondem tal como seria de esperar. Grandes travagens com muita velocidade perto de uma curva faz com que os carros vão comer gravilha e grandes máquinas com muitos cavalos podem derrapar com facilidade na chuva com os pneus errados. Estranha apenas é a forma como os carros podem colidir com as paredes e haver pouca ou nenhuma penalização quer na velocidade, quer no comportamento do carro, fazendo parecer que estes são apenas blocos de betão com rodas.

Outra coisa importante neste estilo de jogos são as físicas e estas estão bastante presentes. Os carros exercem força consoante a direcção em que estão a virar e são constantemente puxados por túneis de vento ou consoante o piso que pisam, afectando o desempenho da aderência. Este estilo de interacções parecem muito mais reais e até podem sentir um bocado mais destes efeitos a manifestar ao tentar tirar todas as licenças em ouro na escola de condução. Além do mais é possível equipar os carros com as clássicas peças que lhe dão mais potência, aderência e afins e ir ao pormenor de personalizar todo o estilo de afinamentos do carro.

Gran Turismo 7 tem uma grande selecção de carros e marcas, embora existam várias omissóes estranhas e ausência de alguns carros mais icónicos. De qualquer forma, os carros que existem aparecem recriados de formas exímias e com detalhes soberbos, fazendo com que pareçam verdadeiras obras de arte com personalidade. A vasta maioria dos carros reage de forma diferente e é possível perceber se um carro tem tracção à frente, tem mais potência ou é mais leve apenas por os conduzir em pista, o que é muito bom.

Além dos modos para um jogador (onde passei a quase totalidade do meu tempo) existem modos locais para dois jogadores e online para vários jogadores que vão das partidas simples em lobbies até às provas officiais contabilizadas do modo Sport. Tenho a dizer que tive alguns problemas em tentar aceder aos servidores durante a experiència inicial, mas quando em jogo, os servidores comportam-se bastante bem e já não existe tanta latencia e carros fantasma como nos tempos clássicos de GT5. O online funciona bem no geral dentro do muito pouco que consegui jogar, mas só o tempo dirá se tudo irá continuar suave a partir de o momento em que todos os compradores estiverem ligados depois do lançamento.

Apesar de ter muito conteúdo para jogar e muita coisa para desbloquear, Gran Turismo 7 dura tanto tempo quanto quiserem e consoante o vosso nível de coleccionismo. Querem ter todos os carros? Realizar todas as corridas? Competir online e subir nos rankings? Gran Turismo é um misto de várias vertentes que podem ser exploradas e coisas que podem ser feitas ao vosso ritmo e com a dedicação que quiserem. Muitos não vão ligar a metade das coisas, outros vão querer explorar tudo e caso façam parte deste último lote, vão encontrar aqui mais de 100 horas de jogo. É uma pena no entanto que tantos tantos das centenas de carros sejam versões do mesmo modelo, o que cria alguns lugares de garagem bastante iguais.

A versão que a Playstation nos enviou era compatível com PS4 e PS5, como é natural, tive a minha experiência na PS5 e foi desta forma que consegui ter a visão final do que a Polyphony Digital quis alcançar e o resultado é verdadeiramente impressionante. Os menus são bonitos e cheios de classe (mesmo que lentos de navegar), os circuitos estão fantásticos e recriados com enorme qualidade e pouco ou nada há que apontar aos carros visto que são extremamente bonitos e quase parecem reais, aliás, no modo de fotografia, algumas das fotos têm uma qualidade tão “duvidosa” que os carros parecem muito mais reais que as fotos retiradas de sítios reais. Só é pena que os danos físicos sejam deixados de lado e não existam amolgadelas ou peças a ficar danificadas.

Outro ponto forte do visual é a forma como a foi criado e gerido o sistema de clima nas pistas. Para começar, o jogo tenta sempre simular o ambiente real dessa mesma parte do mundo através dos servidores e é claro que foi dada uma verdadeira atenção à forma como a luz interage com o ambiente e o estilo de céu que conseguem ver. Cada elemento está bem recriado, especialmente o avanço do dia para noite ou vice-versa, de qualquer forma, já vi melhor chuva na geração anterior com Driveclub que continua a ser o melhor exemplo do género. Além disso, podem jogar tudo isto com prioridade para Framerate ou adição de Ray-Tracing para replays e afins. Como o Ray-Tracing não é activado nas corridas, é lógico que recomendo manter a versão de melhor Framerate ligada sempre que não vão usar o Photo Mode.

No que toca ao aspecto sonoro, Gran Turismo 7 faz um excelente trabalho com a sua componente sonora no geral. Os carros são um mimo de ouvir e as suas variações entre mudanças ou ginadas fazem com que seja um verdadeiro espectáculo para os ouvidos. Se jogaram os primeiros jogos, até o som do contador de início de corrida é uma viagem nostálgica pela infância. Por outro lado, a banda sonora é bem capaz de ser uma das piores até à data. Para alguém que jogou praticamente todos os jogos da série, este é o que tem a selecção mais eclética, mas menos apelativa. Até a selecção do Music Rally é curta e bastante irregular. Parece que longe vão os tempos onde tínhamos The Cardigans ou Feeder a abrir em grande pela apresentação a dentro.

Resta então falar do Dualsense que foi usado durante análise e foi possível ver reagir em vários momentos do jogo. Se é essêncial para jogar e faz uma diferença colossal, nem por isso, mas se é uma adição que faz com que a imersão seja mais significativa, acredito que sim. A reacção do comando aos diferentes pisos, curvas, derrapagens e contacto funciona como seria de esperar e chega a ser tão natural que o comando acaba por “desaparecer” nas nossas mãos, não causando estranheza. Outra coisa boa na PS5 é que temos tempos de loading bastante curtos o que faz com que a passagem entre corridas seja bem mais rápida do que nos tempos antigos.

Gran Turismo 7 faz muita coisa bem, mas há muito que podiam fazer bem melhor. O Music Rally é interessante mas mal desenvolvido e pouco explorado. Muitos dos modos estão bloqueados nas primeiras horas de jogo. Existe demasiada conversa e explicações que se tornam longas ou maçadoras demais e coisas como ausência de danos ou sentir que os choques contra as paredes fazem diferença, são coisas que deviam ter evoluído. Além disso é preciso estar online para jogar a maioria do jogo, mesmo em modos offline? Porquê? É ao tentar ser bastante mais snob e elitista onde o jogo ganha por um lado e perde por outro.

Esse tal outro lado é a resposta com qualidade e conteúdo que Gran Turismo 7 demonstra e confere. As corridas são divertidas, comprar novas peças e equipar carros é algo que se torna compulsivo e encher a garagem é uma demanda que puxa por nós. Para alguns dos males menores, existem aqui coisas que por outro lado o fazem brilhar e isto consegue ser visto e sentido. Não é de todo o melhor Gran Turismo feito até hoje, mas é uma fantástica homenagem aos desporto automóvel.

Positivo:

  • Visual imponente
  • Condução desafiante e divertida
  • Muito para fazer e desbloquear
  • Carros parecem mesmo reais
  • Bons modelos de pista
  • Sistema de clima em tempo real
  • Uma homenagem ao desporto

Negativo:

  • Banda sonora bastante fraca
  • Music Rally é uma oportunidade perdida
  • Muita conversa maçadora
  • Ray-Tracing não parece ter grande utilidade
  • Porque necessidade de estar online em modos de um jogador?

Daniel Silvestre
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