Análise: Gone Girl – Em Parte Incerta

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Poucos realizadores em Hollywood reúnem total e absoluto consenso aos olhos dos pares, crítica e público. Por um motivo, ou pelo outro, não é qualquer “jeitoso” que se pode gabar de agradar a gregos e troianos, isto é, satisfazer uma massa crítica adepta do cinema intelectualmente evoluído, manter o enquadramento para as massas, cativando o interesse de um segmento fã do cinema subversivo. Após Fight Club, David Fincher adquiriu “crédito infinito” perante os fãs, mas obras como A Rede Social e 7 Pecados Mortais insistem em manter-se no pote dos filmes dignos de especial referência nos últimos 20 anos.

Mais do que os conteúdos minimalistas, David Fincher pauta por um estilo particular e inconfundível na arte da narrativa visual, assente numa construção “metalizada” (tons cinzentos) e vertical. A meias com Christopher Nolan, Fincher assina uma perspectiva visual da Sétima Arte que pode ser considerada paradigmática do estilo clássico moderno.

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Gone Girl narra a história de Nick Dunne (interpretado por Ben Affleck), um homem na fase adulta, casado com Amy Dunne (interpretada por Rosamund Pike), uma mulher sofisticada e bem-sucedida, que troca Nova Iorque pela cidade natal de Nick. Como todos os casamentos, a relação entre Amy e Nick sofre um desgaste, que culmina no desaparecimento de Amy e na suspeita de Nick enquanto responsável pelo homicídio da esposa.

Além de Ben Affleck (em alta após Argo), Fincher optou por um elenco sólido e talentoso. Rosamund Pike faz valer a aposta, e entrega a exigida dimensão ao personagem, perfilando-se como uma candidata às nomeações da Academia em 2015. Embora o estatuto conceba o direito à escolha de papéis com maior protagonismo, é bem recebido o “sim” de Neil Patrick Harris e Tyler Perry a personagens periféricas da história.

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Há ainda a destacar as presenças de Desi Collings, Carrie Coon, Kim Dickens, Patrick Fugit, David Clennon, Lisa Banes, Missi Pyle, Emily Ratajkowski, Casey Wilson, Lola Kirke, Boyd Holbrook e Sela Ward no elenco.

David Fincher incute o cunho pessoal, transversal a títulos como Zodíaco, Sala de Pânico e The Girl With the Dragon Tatoo, com cenas bem respiradas (silêncios), rasgadas com diálogos expeditos. A sensibilidade crua do mundo e das coisas continua a eriçar os pelos dos mais sensíveis, mas no fim do dia, fica aberto o apetite para os próximos projectos.

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Nos restantes domínios técnicos, há mais um show de Jeff Cronenweth (director de fotografia), com uma ambiência sufocante e fria (de acordo com a temática do filme). A edição poderia encolher o filme (se fosse à máquina de lavar, as 3 horas podiam resultar em 2 horas), e há a lamentar um péssimo tratamento sonoro (as falas dos actores em Nova Iorque são gravadas em estúdio. Com a tecnologia em pós-produção sonora, que existe hoje em dia, eu não deveria dar por isso.)

Baseado no romance de Gillian Flynn, Gone Girl resulta num thriller psicológico poderosíssimo, com sucessivos twists e conflitos. Apesar de não ser brilhante, há várias opções bem executadas que merecem destaque, nomeadamente: duas narrativas em paralelo, que se cruzam pontualmente; incerteza no herói, no vilão e no desfecho; e mensagens que despertam emoções contraditórias no espectador.

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Gone Girl não era o filme que David Finhcer queria fazer – o realizador almejava (e ainda não descartou a hipótese) as 20.000 Légua Submarinas de Júlio Verne -, mas Finhcer não sabe fazer filmes insuficientes ou esquecíveis.

Em Parte Incerta poderá chegar ao naipe de filmes nomeados para os Óscares, mas fica a sensação de que faltou qualquer coisa à obra final. Os livros académicos podem apontar o nevoeiro em redor do “objecto de desejo” dos protagonistas como a grande pecha da história, contudo, relembrando o CV de Fincher, o realizador não dedicou total paixão, entrega e frescura ao drama de Nick e Amy. Mesmo assim, a época da corrida aos Óscares começa bem.

Positivo

  • Rosamund Pike, dos pés à cabeça
  • Elenco secundário
  • Direcção de Fotografia
  • História
  • Diálogos

 

Negativo

  • Edição sonora
  • A mesma história poderia ser contada em menos tempo
  • Bem Affleck faz um bom trabalho, mas não chega a brilhar

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