O pseudo reboot de God of War lançado na PS4 foi uma grande viragem para a saga de Kratos. O Deus da Guerra grego deixou o seu país natal para trás, rumou ao norte da Europa e encontrou o amor da sua vida que lhe deu hipótese de conceber Atreus, o seu filho adorado. Este pequeno rapaz é a companhia ao longo da jornada e a ligação entre os dois criou alguns momentos bastante emblemáticos
Ao contrário dos primeiros jogos que pareciam ter sido criados por um adolescente irritado com a vida, o novo God of War tinha uma história de protecção de pai para filho, um ambiente muito mais sério, universo mais pensado, um combate e exploração diferentes, o que lhe permitiu até usar o truque da câmara que raramente corta e faz a história quase seguida. Conceitos diferentes para uma receita de sucesso.
God of War Ragnarok está aqui para fazer tudo isso e ainda mais, o segundo jogo das viagens de Kratos ao norte faz com que a história leve o herói e o seu filho a ter os deuses nórdicos mais fortes como seus oponentes reais e adensa a trama dando espaço a Atreus para explorar o seu potencial, pois existem momentos em que tomamos o comando do petiz e vamos explorar várias localizações usando o arco, flecha e algumas das novas habilidades adormecidas. A início parece que Atreus é demasiado simples, mas vai ficando cada vez mais capaz à medida que vamos jogando com ele.
Vamos começar pela mestria da forma como God of War Ragnarok trata a sua narrativa. Temos aqui uma história ainda mais forte e mais NPC que se juntam à equipa para dar mais profundidade ao que se passa aqui. Odin e Thor estão muito chateados e como seria de esperar, Kratos não quer saber de ferir sentimentos, ou outras partes do corpo pelo caminho. Os diálogos são fortes e muito bem escritos, mesmo quando ouvimos Atreus a ser uma criança rebelde e chateada com o pai pela centésima vez. Por isso mesmo, parece que o jogo faz quase tudo para fazer de Atreus uma personagem irritante nas primeiras horas, o que é um problema, dado que ele é um dos motores da história. Felizmente as suas aventuras a solo dão-lhe algum espaço para brilhar e fazer as “pazes”.
Em relação à jogabilidade, God of War Ragnarok é bastante similar ao primeiro. Vamos percorrer uma série de cenários interligados por um Hub central que nos deixa viajar para várias regiões do mundo de jogo. Cada uma delas pode fazer parte da história ou conter missões alternativas que podemos fazer para ganhar mais materiais e experiência para evoluir Kratos e Atreus. O sistema de personalização e melhoria não é assim tão profundo quanto isso, mas tem o suficiente para manter o interesse e ajudar a acompanhar o apelo por descobrir mais tesouros.
A nível de combate, exploração e puzzles, grande parte deles andam em redor da utilização das armas de Kratos ou habilidades de Atreus, parecendo em vários casos que estamos a jogar um Metroidvania que nos permite abrir novos caminhos assim que temos novas habilidades ou items. Desbravar os vários cenários é recompensador, mas dada a dimensão do jogo e as horas que demora a acabar, acabei por ter de fazer umas boas pausas entre sessões para “descomprimir”.
O combate continua a ser desafiante e cheio de elementos que favorecem a utilização de armas distintas. Com uns devemos usar mais o machado, com outros o fogo das espadas, mas andar ao murro consegue encher mais depressa a barra de atordoamento (dos meus favoritos), sendo possível fazer um finisher. Tal como no anterior, as duas personagens têm um medidor de raiva que pode ser usado para ganhar mais força e atacar os inimigos enquanto recuperamos vida.
Os puzzles por seu lado, embora sejam muito bons no geral, não são todos verdadeiramente intuitivos e alguns cenários escondem passagens ou soluções claramente de forma inadvertida, o que é estranho. Jogar um jogo destes e ficar preso numa sala durante largos minutos para perceber depois que afinal a solução não estava bem explicita é algo frustrante e quebra o ritmo da acção.
De qualquer forma, praticamente tudo funciona lindamente em God of War Ragnarok e este parece sempre bastante confiante do que está a fazer. A jogabilidade é sólida, os puzzles inteligentes e o combate continua a ser muito bem implementado. A utilização de câmara faz um bom trabalho em nos manter na acção, especialmente quando comparada com a velha câmara dos primeiros God of War que teimava em dar mais importância ao cenário colossal do que à acção em si.
Infelizmente, algo que se sente após algumas horas é que tudo começa em alta, mas perde muito gás pelo caminho. Nas primeiras horas existe uma grande ausência de combates contra deuses, o que é uma desilusão depois do que vemos no combate com Thor. Depois temos o problema de Atreus que se torna irritante quando não estamos a jogar com ele, por isso quando podemos jogar com Atreus, não só nos sentimos já “queimados” como existe sempre a sensação de que nos estão a forçar a jogar com o herói menos “fixe”.
Depois temos a exploração que ficou ainda mais linear e óbvia que nunca. Se os colegas viram à direita, significa que viramos à esquerda para encontrar um baú ou puzzle para resolver e ter loot. Isto não seria um problema se não fosse praticamente sempre igual. Existem áreas abertas à exploração, mas são tão vazias entre espaços que parece que os objectivos parecem pequenas ilhas no mapa, lembrando um certo Wind Waker.
Claro que isto são questões de design limitadas por aquilo que é o universo, estilo do jogo e os videojogos em si. De qualquer forma, gostava de o ter visto a fazer algumas destas coisas melhor e com mais riscos. Quando os próprios heróis fazem piadas durante a aventura sobre estarmos sempre a desviar do caminho, até a própria equipa de desenvolvimento sabe o que se passa e que estão já a “gastar” o filão.
Terminar God of War Ragnarok ainda é um missão que demora umas boas horas a fazer. A história é longa e existem vários cenários para visitar. A isto podem juntar ainda os puzzles opccionais, os Favores (missões secundárias) e tentar apanhar tudo que existe espalhado pelos cenários. Depois de terminar, pode existir vontade também de o jogar nas dificuldades mais altas, o que duplica o tempo de jogo no geral.
No que respeita ao visual, God of War Ragnarok é um jogo muito forte, especialmente no que toca ao detalhe das personagens. Os vários reinos são bonitos de ver, sejam cobertos de neve e gelo, seja num pântano cheio de geisers ou numa floresta perdida. Embora os cenários sejam bons no geral, o maior impacto está ligado ao foco dado a cada elemento do corpo e face das personagens. Os detalhes de Kratos, Atreus e os seus aliados é fantástico e ver pêlos da barba criados em detalhe, ou pele gretada que se mexe como na realidade é um exemplo de qualidade e do quão longe a indústria já chegou. A minha experiência foi toda tida na PS5, por isso não consigo dar grandes detalhes sobre a PS4. Nesta plataforma, os loadings são muito curtos ou quase inexistentes e jogar em modo de performance é bastante sólido.
Quer a nível de banda sonora, quer a nível de trabalho de vozes, uma vez mais a saga volta a conquistar o troféu. A banda sonora e todas as músicas construídas para o jogo são fantásticas e impactantes, dando sempre o sentimento de um jogo poderoso. O mesmo trabalho é transposto para as vozes que são soberbas em inglês e bastante capazes na versão portuguesa, caso seja essa a vossa opção para jogar.
Ao ler esta análise, podem ficar com a ideia que fiquei decepcionado e parece existir tanto de positivo como negativo em God of War Ragnarok, mas é preciso ver que tentei ao máximo encontrar o que o jogo faz bem e o que faz mal, mas todos os elementos que destaco, embora pertinentes, são pequenas marcas num trabalho de elevada qualidade. O que importa é que estamos perante um jogo muito bem construído, imponente e na minha opinião uns furos acima ainda do antecessor. A aventura de Kratos e Atreus vai certamente deixar memórias em todos os jogadores e divertiu-me ao longo das suas várias horas de jogo.
Com todos os elementos e qualidade que God of War Ragnarok tem a seu favor, é muito fácil para mim dizer que é claramente um dos candidatos a jogo do ano e mais uma prova de que a Playstation deve continuar a apostar nas grandes narrativas singleplayer.
Positivo:
Negativo:
- Atreus consegue ser irritante
- História perde gás após as primeiras horas
- Cenários abertos mais vazios
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