Forspoken é um jogo curioso. Anunciado de forma pouco informativa pela Square-Enix, foi sendo confirmado a pouco e pouco como um grande projecto de alguns elementos que trabalharam em Final Fantasy XV e uma nova franquia de alto gabarito da Square-Enix. Estamos a falar de um jogo que foi posto lado a lado com Final Fantasy e Dragon Quest como um dos pilares do futuro da companhia.
Depois de alguns adiamentos e alguns receios em relação a Forspoken, o jogo foi finalmente lançado e todos podem ver finalmente o resultado final. Apesar de tanto tempo de produção e muito talento ligado à produção, o resultado final é francamente desapontante e longe do que seria o ideal para um dos novos pilares da companhia japonesa.
Forspoken tenta contar uma história de redenção, descoberta e uma jornada do herói que é transportado para um mundo diferente para vir a ser o herói. Aqui, esse papel é dado a Frey, uma rapariga a viver a vida criminosa de Nova Iorque. Claro que isto é meramente temporário, pois esta é transportada para um mundo de fantasia onde consegue utilizar magia, fazer parkour mágico e a magia de viver uma história banal num mundo bastante ameno e ser uma personagem difícil de se gostar.
Logo desde o início e até muitas horas de jogo, Frey é uma personagem detestável. Além de irritante, é constantemente desprezível paras as pessoas que a rodeiam, mal-educada, respondona e tudo aquilo que esperamos de uma adolescente mal-agradecida e chateada com toda a gente sem grandes motivos. Não ajuda que além de ser irritante, esteja constantemente a atirar asneiradas a torto e a direito. Não é agradável e está longe de ser divertido, tendo o efeito contrário ao que imagino que a os argumentistas tinham idealizado.
Assim como a Frey é uma má protagonista, o mundo e personagens secundárias acabam por sofrer com a narrativa e a presença da heroína. Ou são quase todos estereótipos de fantasia, ou simplesmente estranhos, irritantes ou quase uma paródia. Quanto menos importante for o NPC, mais hipóteses vão ter de se rir com alguns dos comentários e conversas que estes dizem. Além do mais, as interacções nem sempre parecem naturais e mesmo que os actores estejam a fazer o seu melhor, estão sempre a ser atropelados por um mau argumento.
Passando para o jogo em si, temos aqui um mundo aberto com pontos de interesse e algumas regiões para explorar. Atravessar estas áreas tem a sua piada, pois Frey utiliza um Parkour mágico para se mover depressa pelo cenário. Quando tudo funciona, percorrer estes momentos é divertido e empolgante. Porém, o mundo de jogo não é assim tão recheado de coisas para fazer e encontrar e se não forem obrigados a algo por causa de uma missão ou história, podem facilmente ignorar inimigos e chegar depressa ao próximo sítio. O facto do mundo ser tão vazio e com pouco para recompensar a exploração é uma oportunidade perdida e uma grande desilusão.
Forspoken recorre a um sistema de combate onde podemos mudar entre magias para atacar o inimigo em proximidade ou à distância. É o tradicional jogo de acção na terceira pessoa que estamos habituados a ver, mas com muito mais movimentação. Como é um RPG, a evolução das capacidades de Frey vão sendo desbloqueadas a pouco e pouco, o que dá tempo para as praticar, porém, também faz com que as primeiras horas sejam bastante aborrecidas, parecendo quase que estamos a jogar Earth Defense Force contra inimigos que demoram a morrer por terem de levar com tantos poderes repetidamente. É com os bosses que também conseguimos ver alguns dos melhores momentos do combate, mas também os piores, havendo grandes problemas de câmara relacionados com o Parkour misturado com o Lock-On.
De forma directa, quando todos os sistemas de jogo funcionam em perfeita harmonia, a jogabilidade fluí de forma empolgante, mas nem sempre é assim e seja por inimigos repetitivos ou tarefas mundanas que temos de fazer, muita da magia fica perdida pelo caminho.
Apesar de ser um jogo puro de nova geração, Forspoken percorre um caminho estranho no que toca ao visual. Temos algumas personagens e bocados de cenários extremamente detalhados e bonitos, dignos de dizer que são de nova geração. Depois temos uma série de cenários, elementos e texturas que parecem ser do início da geração anterior, o que não faz muito sentido para um jogo que parecia tão arrebatador nos trailers. Além do mais, porque razão é tudo tão escuro, cinzento e castanho? Estamos de regresso à era da PS3? Outra coisa a destacar é o facto de as personagens serem tão rígidas entre cinemáticas e como algumas coisas são feitas entre ecrãs que ficam pretos. Custava assim tanto animar certas interacções? São perguntas para as quais sei que não haverá resposta.
Musicalmente, Forspoken faz algumas coisas giras, com umas músicas que misturam o ambiente épico de um jogo de fantasia com alguns elementos saídos de um Trap ou Hip Hop que até que não ficam nada mal. Em relação a vozes, os actores principais fazem um bom trabalho, especialmente tendo em conta o guião terrível a que tiveram acesso. O destaque vai claramente para a actriz de Frey que deve ter feito um esforço enorme para não ter desistido a meio e para a voz de Vambrace que se destaca claramente.
Talvez por ser um jogo feito no Japão, Forspoken parece estar a tentar constantemente em apelar ao mercado ocidental, fazendo-o mal sempre que tenta. É quase a parábola do Final Fantasy XIII quando o tentaram fazer ao estilo de corredor porque meteram na cabeça que por Call of Duty estar na moda, que isso era o que os “TODOS” os jogadores queriam. Tudo isto resulta num trabalho final francamente deslocado e estranho.
Por muito trabalho que tenha sido feito em Forspoken, existe uma grande nuvem que paira no ar sobre o projecto. Parece que existe aqui uma mistura de ideias e conceitos que foram flutuando durante a produção, ficando muitas promessas por cumprir. O resultado final não é um mau jogo, mas também está longe de se colocar lado a lado com Final Fantasy ou Dragon Quest como a próxima grande franquia. Se realmente existe aqui uma franquia a nascer, então a Square-Enix vai ter de fazer como a Ubisoft e insitir, tal como aconteceu com Far Cry e Watch Dogs. Se o futuro trouxer mais Forspoken, estou disposto a dar uma segunda oportunidade a Freya.
Positivo:
- Percorrer cenários em Parkour
- Habilidades avançadas de combate
- Uma pulseira consegue ser a melhor personagem
- Banda sonora interessante
Negativo:
- Frey faz tudo para ser odiada
- Mundo muito vazio
- Visual não é inteiramente next-gen
- Narrativa muito fraca
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