Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia é um remake de Fire Emblem Gaiden, mas mais do que isso, é um remake adaptado aos tempos em que vivemos, repleto de novas funcionalidades, é um jogo interessante tendo em conta o que temos vindo a ver da série. Para entendermos melhor a importância de Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia e o marco que este vem deixar na série, é preciso perceber o que aconteceu no passado recente da série, nomeadamente com Awakening e Fates. Awakening tinha que atrair novos fãs para a série, e como tal é um jogo que marca pela sua apresentação e facilidade em começar a jogar, Fates por outro lado deu primazia aos aspectos que atraíram os novos fãs de Awakening e acabou por se tornar uma experiência interessante mas fragmentada. Echoes é então um re-apresentar mais clássico da série em alguns aspectos.
Como alguém que já jogou vários Fire Emblem, existem imensas mecânicas presentes nos jogos mais recentes que me agradam, mas no geral já sentia a falta de uma história mais clássica, e sendo este um remake é agradável ver que mecânicas que tínhamos dado como garantidas desapareceram. A ausência destas obriga-nos a repensar a forma de jogar e de certa forma até nos obriga a aprender o ABC de Fire Emblem novamente; desde o triângulo de forças e fraquezas entre armas que já não existe, restrições que desaparecem na forma como arqueiros atacam e até os ataques em dupla que se eclipsaram, este novo Fire Emblem vem-nos trocar as voltas e eu adoro.
A maneira mais simples de explicar o que podem encontrar em Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia é dizer que as regras mudaram. Quase tudo está um pouco diferente, ausente ou é completamente novo. Para começar este Fire Emblem conta com 2 protagonistas: Alm e Celica. Sem dar aso a spoilers, Alm e Celica têm uma relação especial e após um evento infortúnio acabam por ficar separados. Ainda assim, ambos têm objectivos bem delineados, e as hordas de inimigos que se preparem porque estes dois não estão para brincadeiras.
O primeiro impacto que temos com o jogo dá-se com as cores, refiro-me mesmo às cores que sobressaem em todo o jogo, não existem tons garridos, mesmo os vermelhos parecem estar num estado cru sem polimento, como se estivéssemos a olhar para algo antigo. Esta apresentação ajuda a dar ênfase ao facto de este ser um remake, como uma espécie de memória, um eco da realidade. Este desgaste da apresentação acaba por se tornar um estilo único que em conjunto com uma banda sonora actual, mas clássica acaba por entregar uma experiência actual e saudosista.
A ideia de Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia é a de criar no jogador um sentimento de insegurança e urgência. Para tal a história leva-nos numa campanha militar do lado de Alm, onde temos que fazer do local em que nos encontramos o nosso refúgio. Todas as acções nos levam um passo em frente, mesmo que decidam explorar um local ou realizar uma sidequest para fortalecerem o vosso exército, existem sempre emboscadas à nossa procura. Do lado de Celica temos uma demanda em vez de uma campanha militar, mas as bases são as mesmas e a urgência também é sentida. Infelizmente, da minha perspectiva o tipo de combatentes que encontramos de cada lado da história parece estar bastante desnivelado.
Durante grande parte da minha experiência, um dos lados estava claramente em vantagem dado o equilíbrio entre utilizadores de magia e guerreiros, enquanto que do outro lado estava desesperado por encontrar mais um feiticeiro ou mago. No entanto, desenganem-se se acham que as personagens vos caiem no colo com a progressão, terão que as procurar e existem mesmo algumas personagem com requisitos específicos para serem recrutadas.
Em termos de jogabilidade existem aqui elementos que me agradam imenso, mas vou começar por falar daquilo que será um ponto ambíguo, uma vez que traz consigo um nível de dificuldade quase absurdo em certos momentos. Pela primeira vez em algum tempo existem encontros verdadeiramente complicados de forma consistente devido ao mapa. Imaginem que estão prestes a invadir uma fortaleza e esta está construída de forma a que tenham que atravessar um corredor repleto de feiticeiros e arqueiros protegidos por uma parede. Para os que já jogaram Fire Emblem, provavelmente interpretaram isto como uma situação complicada, pois bem a isso adicionem unidades que a cada dois turnos decidem aumentar as forças inimigas com 5 ou 6 demónios/zombies e têm a receita quase perfeita para o arrancar de cabelos; se quiserem aperfeiçoar de vez a receita liguem o modo de mortes permanentes e garanto que não vai ser nada fácil.
Com esta situação descrita, será uma boa altura para revelar que os níveis de dificuldade de Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia são mais elevados do que aparentam. No entanto, também caberá ao jogador perceber alguns truques utilizados pelo jogo para nos dificultar a vida. Quando estamos no mapa a decidir o caminho, vão existir algumas unidades inimigas que se movimentam na nossa direcção; façam o que fizerem nunca deixem que estas unidades ataquem em simultâneo com uma outra unidade inimiga já no campo, acreditem que não vale a pena. Da minha perspectiva estes encontros também trazem elementos interessantes, como a posição inicial do combate dentro de um campo de batalha. Se forem emboscados vocês entrarão em combate na zona mais “segura” do mapa, se por outro lado são vocês a atacar irão iniciar o combate na zona de entrada; estão a ver aquela fortaleza com os tais corredores? Desta vez quem está lá dentro podem ser vocês!
O mapa está bem construído colocando sempre alguns extras no caminho principal. Ao contrário dos mais recentes Fire Emblem, aqui podem ter alguma dificuldade em conseguir novas armas poderosas, e a maior parte das vezes vão encontrar armas caídas no chão ou após derrotar um inimigo mas são bastante medíocres na sua maioria. Para conseguirem aceder a armas mais poderosas vão ter que encontrar um ferreiro e pagar-lhe para ele fazer uma boa arma. No entanto, os ferreiros não estão propriamente espalhados pelo mapa, eles estão em algumas das aldeias do jogo e exigem que exploremos as aldeias para os encontrarmos. Ao contrário das dungeons, as aldeias e locais que poderemos explorar utilizam um sistema diferente. Este sistema consiste num fundo estático com algumas personagens com quem podemos conversar, podem ser simples Npc’s, possíveis aliados ou até personagens com informação útil. Podem também investigar estes cenários e apanhar vários items assim como interagir com algumas coisas. É um sistema que funciona bastante bem mas depois de experimentar a exploração das dungeons não faz muito sentido explorar aldeias deste modo.
Enquanto exploram o mapa vão dar de caras com algumas dungeons que podem ser exploradas livremente em 3D, durante estes momentos o jogo transformar-se num jogo de exploração de masmorras e quando entram em combate retorna ao estilo normal de Fire Emblem. Nestas masmorras é possível encontrar items assim como inimigos que são simpáticos o suficiente para nos darem pontos de experiência e nos fazerem evoluir. Em certos edifícios, não necessariamente masmorras, também vão encontrar estátuas de Mila que vos deixam trocar ou evoluir a classe da vossa personagem, ou caso precisem, também podem recuperar o cansaço das personagens. Esta mecânica faz com que quando uma personagem esteja cansada os seus stats sejam debilitados o que acaba por dificultar a exploração.
A dificuldade de Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia está um pouco acima do esperado, não só pelo desenho de alguns mapas, mas também porque alguns tipos de inimigos conseguem preparar verdadeiras emboscadas. Contudo existe uma nova ferramenta que nos pode, literalmente, salvar a vida. A qualquer momento do vosso turno excepto durante as batalhas podem activar um objecto que dá pelo nome de Mila’s Turn Wheel. Este objecto faz com que possamos recuar no tempo o número de turnos que desejarmos e até podem escolher um ponto que queiram durante o vosso turno. Esta acção é limitada a um X por combate, mas é uma grande ajuda e permite corrigir alguns erros ou voltar a brincar com as probabilidades.
Falando em probabilidades, este é um daqueles jogos que muitas vezes não faz jus ás probabilidades que nos mostra. Antes de atacarem existe sempre um medidor de probabilidade que diz qual será a probabilidade de infligir dano, há vezes em que juro que o jogo só me quer ver zangado. Não foram poucas as vezes em que probabilidades superiores a 90% falharam e os 30% do inimigo me acertaram em cheio. É um sistema que eu gostava mesmo muito de conseguir ver por dentro. Zangas à parte, o combate fluí bastante bem e as regras de FE Echoes até se estão a tornar nas minhas favoritas.
Em Fire Emblem Echoes: Shadows of Valentia as nossas personagens têm apenas um espaço livre para equipar items, estes podem ser simples laranjas para recuperar vida ou uma arma ou escudo. Todas as personagens têm uma arma base que nunca se parte mas que pode ser substituída por uma outra caso queiram ou um item. Este espaço para equipar é bastante importante, e temos mesmo que escolher com cuidado. Cada arma equipável vai atribuindo novas habilidades ao personagem com o uso, e caso queiram passar essa arma para outro personagem terão que repetir o processo pois as habilidades estão ligadas à personagem e não à arma. Aqui é um sistema diferente que apesar de não envolver armas partidas, envolve escolhas difíceis.
Uma coisa que me agradou imenso é que praticamente todos os diálogos estão acompanhados de voz, a história e apresentação ganham imenso coma a adição da voz e diga-se de passagem, está muito bem conseguida. Em termos de banda sonora, não existe um tema tão forte como em Fire Emblem Fates mas o tom mais clássico da composição musical assenta que nem uma luva a Shadows of Valentia.
Esta é uma aventura longa, repleta de combates emocionantes e estratégicos que acompanham uma história interessante e envolvente, que certamente irá agradar aos vários tipos de fãs que Fire Emblem conseguiu ao longo do tempo. Desde os fãs mais antigos aos mais recentes, Echoes é um jogo bastante equilibrado. Desde a sua apresentação simplista do campo de batalha aos momentos de luta com transições excelentes que dão atenção ao local em que estamos, e às próprias conversas e cinemáticas bem pensadas que deslumbram, este é um jogo mais do que recomendado.
Positivo
- Apresentação e interfaces apelativos
- Transições durante os combates
- Sistema de progressão interessante e eficaz
- Banda sonora
- Diálogos acompanhado por voz
- Exploração de dungeons…
Negativo
- Que poderia ter sido aplicado também a outros locais
- Picos de dificuldade desnecessários mesmo quando jogamos no modo mais fácil
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