A Bethesda Game Studios apanhou de surpresa toda a gente com o teaser de Fallout 4 no Verão e mais impressionante ainda foi o facto de podermos jogá-lo ainda este ano, algo que não acontece neste tipo de jogos. O estúdio esteve os últimos anos a trabalhar no jogo e apesar de haver alguns rumores, todo o jogo conseguiu ficar fechado a sete chaves até ao seu lançamento.
Para saciar um pouco da sede dos fãs o estúdio lançou o jogo free-to-play para dispositivos móveis de nome Fallout Shelter, que teve uma recepção muito positiva por parte da crítica e conseguiu ser bem aceite por parte dos fãs. Eis então que nos Fallout 4, um jogo que decorre 10 anos após Fallout 3.
Fallout 4 começa com a criação da nossa personagem. A escolha do sexo é uma adição interessante pelo que o jogo irá adaptar-se a uma duas personagens deste casal. As alterações que podemos fazer à estética facial do nosso protagonista são infindáveis e os vídeos que circulam no Youtube com inúmeras celebridades recriadas são prova disso mesmo.
Nesta demanda pela procura do pequeno Shaun, o protagonista sairá do Vault no qual foi confinado e irá explorar a terra desolada – ou wasteland – de Boston chamada The Commonwealth. Todo o território sofreu graves repercussões da guerra e excessiva exposição à radiação, pelo que para além de encontrarmos humanos completamente desfigurados e distorcidos no que toca ao foro psicológico, vamos também descobrir inúmeras aberrações da natureza que irão atormentar as nossas deslocações.
Como toda a região vive num estado semelhante à lei marcial, existem várias facções e pequenos grupos a tentar sobreviver, pelo que a reação será diferente sempre que iremos chegar a uma localização diferente. Nem toda a gente terá uma atitude hostil perante a nossa presença, pelo que muitos deles precisam de ajuda em várias situações e iremos encontrar muitas personagens interessantes. Desta maneira iremos acumular inúmeras missões e fazê-las da maneira que nós escolhermos.
Um factor interessante em Fallout 4 é a rapidez com que nos conseguimos desconcertar de uma missão, não que isso seja mau, mas sim porque a quantidade de missões que recebemos será bastante elevada nas primeiras horas do jogo. Tudo é novidade e iremos então arrumar as nossas prioridades como quisermos. Por vezes o simples caminhar pela wasteland e descobrir uma transmissão de rádio que emite um pedido de ajuda trará uma missão ao jogador. Este ponto torna o jogo extremamente adictivo.
Navegar na wasteland é uma tarefa que requer alguma paciência, mas que se torna mais fácil assim que descobrirmos aos poucos as várias localizações que estão presentes. Após descobrirmos uma nova zona, seremos brindados com pontos de experiência e a possibilidade de nos teleportarmos automaticamente de qualquer ponto do mapa para uma dessas zonas. Felizmente temos sempre a possibilidade de ligar a uma emissora da rádio e ouvir músicas clássicas de artistas como Nat King Cole, The Ink Spots e não só.
Os perigos não vêm só de outros seres vivos, pelo que o próprio terreno é perigoso para o protagonista. Zonas contaminadas com radiação poderão aumentar a nossa barra de radioactividade e tornar-nos mais frágeis, as zonas altas poderão também proporcionar-nos com quedas fatais, mas a mais interessante adição é a tempestade de radiação que irá consumir os céus num tom esverdeado e onde cada trovoada irá contaminar a personagem caso não encontre um abrigo.
O combate poderá ser feito através do VATS, que irá deixar todo o jogo em slow-down e dará a possibilidade de escolhermos partes do corpo para dispararmos com um foco e mostrar a percentagem de sucesso, mas se quiserem podem também simplesmente disparar sobre os inimigos à boa maneira de um shooter. Os criticals causam um dano adicional e agora poderão ser activados consoante o dano que causarmos em combate para encher uma barra especial.
Subir de nível e ficarmos mais fortes faz parte da vertente RPG e agora encontramos algumas mudanças. Sempre que subirmos de nível podemos escolher desbloquear ou evoluir os vários Perks que estão disponíveis. Estes Perks farão com que a personagem seja capaz de fazer coisas como criar e melhor armaduras, ser mais amigável para com os animais ou até ser mais eficaz no uso de armas de energia. As escolhas desta direcção no que toca a vocações da personagem ficará ao nosso critério.
Os Perks estão desta vez misturados com o sistema de Skills, pelo que a escolha de um deles irá afectar a nossa força, resistência, inteligência, sorte e não só. Foi uma jogada arriscada por parte da Bethesda Game Studios, mas que no fundo acaba por levar a melhor porque o sistema funciona e torna a evolução da nossa personagem mais simples.
Companhias é algo que não falta neste jogo, pelo que começamos logo com o nosso fiel canídeo de nome Dogmeat e que nos dá uma ajuda fundamental no jogo. É estranho saber que esta companhia é imortal mas dada às funções que desempenha durante o jogo, é aceitável esta decisão. O seu faro irá descobrir armas e items mais escondidos nos cenários bem como dar uma ajuda preciosa em partes da história.
Consoante o tempo irão também ter outros companheiros que darão a sua ajuda ao protagonista. Grande parte delas têm a sua personalidade e especialidade no que toca ao armamento, mas nem todos podem integrar a nossa equipa ao mesmo tempo por isso teremos que fazer uma escolha meticulosa. Mesmo assim eles não nos deixarão enquanto estivermos nas graças deles, pelo que podem sempre ser recrutados a qualquer momento.
Existem duas adições de peso que irão sem dúvida impressionar os fãs de longa data:
A Power Armor neste jogo deixou de ser uma armadura que podemos apanhar e vestir fazendo parte do nosso equipamento para tornar-se em algo como um veículo que guardamos na garagem e retiramos de vez em quando. Não só consome Fusion Cores desta vez que funcionam como combustível como faz com que a personagem se sinta invencível neles e será usado em ocasiões especiais.
Esta reforçará a resistência do jogador de uma maneira exorbitante e a minigun que estará nas nossas mãos causará uma quantidade de dano incalculável. Interessante é também a possibilidade de melhorarmos a armadura ao pormenor sendo possível alterar pequenas secções como canelas, braços, capacete e não só. Este aspecto de personalização está muito assente no jogo mas já lá vamos.
Outro ponto positivo são os Settlements, que são basicamente pontos no mapa que iremos reforçar para criar abrigo para alguns dos sobreviventes da wasteland e os que se sentem como colonos neste cenário de total destruição e desastre. Talvez puxando um pouco do que aprendeu com o DLC de nome Hearthfire em The Elder Scrolls 5: Skyrim, a Bethesda Game Studios deu a possibilidade de personalizarmos ao máximo estes abrigos e adicionou elementos do jogo mobile Fallout Shelter.
Com o premir de um botão nesta zona iremos ter acesso a uma simples ferramenta de construção e compra de vários elementos que tornaram os nossos Settlements em fortalezas. Criaremos então defesas, geradores de electricidade que alimentam purificadores de água, electricidade para terem um nível de vida aceitável e até podemos criar muralhas para nos defendermos.
Teremos também a preocupação de gerir vários aspectos como água, comida, electricidade ou camas para que consigam sobreviver. Infelizmente estes não têm como comunicar connosco caso algo aconteça, pelo que temos de garantir aspectos básicos para a sua sobrevivência e visitá-los consoante o tempo. Caso algo de mal aconteça, seremos notificados com uma mensagem. Uma história paralela desta vertente irá desenrolar-se pelo que poderemos conquistar outras zonas para os sobreviventes.
O loot continua a ser importante mas também sofreu algumas alterações. Desta vez iremos ter uma visão rápida dos items que estão no sítio onde apontamos, sendo possível apanhá-los de uma maneira mais rápida pelo que também será possível abrir o pop-up antigo e ver as características mais específicas de cada um deles. Desta maneira deixa de ser aborrecido ter que ver demasiada informação por items que se calhar nem iremos querer.
Toda a sucata ou junk no jogo poderá também ser reciclada em vários aspectos do jogo como nos settlements e na personalização de armas – que já lá vamos – pelo que poderemos chegar a um ponto onde até a sucata irá interessar-nos para criar alguns ingredientes específicos. Coisas como fita-cola, placas com circuitos, super-cola e não só ficarão na nossa cabeça para criar “aquele aparelho” ou fazer “aquele upgrade”.
De todas as alterações, as armas ficaram balançadas por aspectos positivos e negativos. Agora podemos personalizar uma arma ao nosso gosto e fazer todo o tipo de melhorias que irão adaptar-se ao nosso estilo de jogo. Querem meter uma retícula com um ponto colorido? Estão à vontade. Querem colocar um silenciador na vossa arma favorita? Também é possível.
Infelizmente esta adição retirou um aspecto importante como as armas especiais. Neste caso teremos armas com nomes enormes e que detalham rapidamente aquilo que faz, mas não voltaremos a ter nesta versão do jogo outras semelhantes ao Fisto ou até ao Lincoln’s Repeater.
A apresentação e performance do jogo deixou-me com sentimentos mistos e até uma certa raiva em certas situações. Os jogos da Bethesda Game Studios sempre foram títulos que estavam munidos de alguns bugs hilariantes e outros menos divertidos. Penso que está a chegar uma altura em que será necessário dizer basta porque começou a deixar de ser engraçado no meu ponto de vista e põe o jogo a um degrau abaixo de ser considerado o melhor jogo do ano apesar da potencialidade.
Começando pelos pontos bons, o jogo tem cenários e uma direcção artística muito bem trabalhada. O jogo continua com um aspecto de destruição e perigo firmemente assentes e isso é facilmente provado ao vislumbrar o horizonte e as redondezas. Nada que nos rodeia parece seguro mas também a ausência de vida desperta um certo espírito aventureiro no jogador.
A nova mecânica de iluminação mostra-se como uma adição muito boa. Os jogos de luz oferecem aspectos bastante realistas como o reflectir da luz no ecrã do nosso Pip-Boy ou entrada da mesma em ranhuras de infraestruturas. As tempestades de radiação são muito impressionantes e as várias localizações têm o seu próprio charme, seja graças à neblina ou à presença de radiação.
Menos positivo são as texturas e as animações que parecem tiradas de uma consola da geração anterior. Se os cenários parecem bonitos visto de uma maneira mais afastada, então ao aproximarmo-nos iremos testemunhar texturas muito datadas. As animações estão igualmente mal trabalhadas e muito rígidas, havendo simples movimentos de cabeça complementados apenas com o mover da boca que tornam as expressões muito pouco realistas.
Sem dúvida que não é o jogo com mais bugs da Bethesda, mas a rigidez extrema e a movimentação muito estranha de alguns NPCs e animais não ajudam. Situações estranhas como o nosso Dogmeat tapar os caminhos ou então inimigos colidirem e perfuram-se acontecem algumas vezes. Esperamos que o próximo jogo da companhia melhore neste aspecto, pois começa a roçar o campo do ridículo e a deixar de ser engraçado passados todos estes anos.
O trabalho sonora continua com o selo de qualidade da Bethesda e que basicamente é soberbo. Se não quiserem ligar a radio e ouvir músicas clássicas ou até histórias de super-heróis narradas, então ponham uns bons headphones e oiçam a banda sonora original criada por Inon Zur que já esteve envolvido noutros jogos da série.
É uma pena que as actuações de voz estejam bem convincentes isto porque as animações das personagens estragam grande parte das vezes o trabalho feito pelos actores. Isto roça noutro ponto que se centra nas nossas falas e a capacidade de alterar o teor de uma conversa com um NPC para nosso favor. Infelizmente foi retirada a percentagem que estimava o sucesso de convencer alguém, ficando um pouco vago sobre o que poderá acontecer durante uma conversação.
Fallout 4 é um jogo imenso onde os pontos fundamentais que tornaram a série altamente viciante desde a compra da marca pela Bethesda Game Studios continuam fortemente assentes. Existe uma imensidão de coisas para fazer na wasteland, e se forem como eu, então vão perder muitas horas nas missões extra do que a fazer a história principal – que também é bastante interessante.
Fallout 4 é até agora o meu título favorito deste ano e um jogo massivo, mas infelizmente e sendo realista, existem alguns aspectos técnicos que o deixam um simples degrau mais longe de melhor jogo do ano. Se vivem fervorosamente a série Fallout então preparem-se para mais uma enorme viagem que irá consumir por completo o vosso tempo livre, caso contrário, esqueçam-no por completo.
Positivo:
- Sistema de level up aprimorado
- Apanhar loot com a nova funcionalidade torna a tarefa menos enfadonha
- Cenários espectaculares
- Localizações e NPCs interessantes
- Introdução de Settlements traz frescura à série
- Power Armor ocupa um lugar especial no jogo
- Continua a ser um RPG massivo com o selo da Bethesda Game Studios…
Negativo:
- …assim como os conhecidos bugs e animações rígidas
- Texturas muito datadas
- Remoção das armas únicas
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