Não tenho sido o maior fã das adaptações para cinema dos super-heróis, colocando-me na minoria que não gostou de filmes como os Vingadores ou Guardiões da Galáxia. Acho que esses filmes são blockbusters genéricos que não fazem jus ao material de origem e que não aproveitam 10% do seu potencial, devido ao receio dos estúdios de alienar o público alvo – o chamado público comercial, que tem adorado estes filmes da Marvel e antecipa com excitação a próxima sequela mas que há décadas que não pega num livro de banda desenhada. Nestes filmes os fatos das personagens são alterados para serem menos coloridos e mais escuros (menos folclóricos), de modo a que o espectador não se lembre que está a ver algo adaptado da banda desenhada, ou seja, “coisas de miúdos“. É natural que isto aconteça, pois os fãs da banda desenhada vão ver os filmes seja de que maneira for. É o espectador casual que os estúdios pretendem caçar.
Até agora têm existido dois tipos de filmes: os que tentam recriar fielmente o ambiente da banda desenhada para delícia dos fãs mas que acabam desprezados pelo grande público e destinados ao fracasso na bilheteira; e os que fazem precisamente o contrário. Ao se afastarem do material de origem e ao se aproximarem do típico blockbuster, os estúdios garantem o retorno (e muito mais) do investimento. Verdade seja dita, existem algumas excepções que têm agradado a ambos os grupos: filmes como o X-Men: First Class e Capitão América: O Soldado de Inverno.
Mas nenhum o fez como o Deadpool. Penso que este filme é sem dúvida o exemplo a seguir no que toca a adaptações de comics para cinema. O filme, apesar de tomar algumas liberdades em termos de argumento, é completamente fiel ao ambiente e ao universo do Deadpool. E mesmo assim todos estão a adorá-lo: fãs, espectadores casuais, freiras, bombeiros, extra-terrestres, mutantes, seja quem for, não há quem não se esteja a render ao humor de Deadpool.
Vamos passar a um rápido resumo da história: Wade Wilson (Ryan Reynolds, perfeito no papel) é um mercenário de coração mole que descobre ter cancro. Quando um homem misterioso lhe oferece a solução para os seu problema, Wade submete-se a uma série de torturas que têm como objectivo despertar o seu lado mutante, o que acaba por acontecer. No entanto, como efeito secundário, Wade fica irremediavelmente desfigurado e segue-se uma perseguição ao mentor das torturas, Ajax.
A realização ficou a cargo do estreante Tim Miller, que fez aqui um grande trabalho. Ao longo do filme fui achando semelhanças com outros realizadores como Matthew Vaughn (X-Men: First Class, Kick-Ass) e não me surpreendi quando ao pesquisar os seus anteriores trabalhos descobri que fez parte da equipa de efeitos visuais de Scott Pilgrim Contra o Mundo e que tem já um historial na indústria dos videojogos, tendo trabalhado nos efeitos visuais de Mass Effect 2 e Star Wars: The Old Republic.
O filme está recheado de grandes momentos de acção, incluindo embates contra Colossus dos X-Men, mas é no humor que o filme verdadeiramente brilha: como seria de esperar, podem contar com vários momentos em que se quebra a fourth wall e Deadpool se dirige a nós; podem também contar com algumas Ass e Crotch shots e vários momentos em que o filme se parodia a si próprio. A banda sonora foi também escolhida a dedo e insere-se perfeitamente em cada situação específica.
O único elo fraco do filme está no facto de tratar-se de uma origin story, ou seja, é o Deadpool… antes de ser o Deadpool. O que significa que durante boa parte do filme vamos seguir Wade Wilson antes dele se tornar no famoso mercenário, o que obviamente não é tão divertido. Mas permite-nos assistir ao seu romance com a belíssima Morena Baccarin, o que redime um pouco a coisa.
Não é o primeiro filme de super-heróis a não se vender perante o público mais comercial. Mas é o primeiro a reunir o consenso tanto dos fãs como da crítica e dos espectadores mais casuais. Recomendo vivamente a todos irem para a sala de cinema mais próxima, pois este filme tem tudo: acção, comédia, romance…e o Deadpool. Apesar de estar a dar nota máxima ao filme, espero ainda mais das próximas sequelas e aguardo com ansiedade para saber se a boa recepção que o filme está a ter vai ter alguma repercussão nos futuros filmes de super-heróis.
Uma quarta opinião por:
Alexandre BarbosaDeadpool é sobretudo comédia, ainda me lembro do jogo de Deadpool e de como eu estava a jogar para ter acesso às piadas e não propriamente avançar no jogo; este filme faz a mesma coisa, nós vamos ver Deadpool não pela história, que é relativamente fraca e cliché, mas sim pelas piadas, que são muitas e boas.
Existe aqui uma saudável dose de humor, que na minha opinião é o que destaca o filme ainda assim tal como o David, também eu tenho algo que não gostei em Deadpool. Esta adaptação cinematográfica opta por contar a história entre a acção no presente e a acção no passado durante a primeira parte do filme. Normalmente não tenho qualquer problema mas aqui existe tão pouco desenvolvimento no presente enquanto estamos a voltar ao passado que não consigo deixar de pensar que teria sido mais eficaz ter tido acesso ao passado de Deadpool de uma assentada, e não de uma forma semi-fragmentada.
Ainda assim isto acaba por ser apenas um detalhe num grande filme e que no geral não incomoda, afinal o que todos queremos são alguns dos melhores planos de Deadpool e um reportório infindável de piadas que nos fazem rir e estremecer.
No fundo concordo com tudo o que foi dito pelo David e por isso não vejo razão para prolongar esta segunda opinião, se ainda não foram ver Deadpool eu quero saber porque é que ainda não foram? Está mais do que recomendado!
Positivo:
- Impressionante estreia de Tim Miller como realizador.
- Deadpool
- O rabo de Ryan Reynolds
- A banda sonora
- Deadpool
- Tudo
- Já mencionei…Deadpool?
Negativo:
- Apenas uma origins story…
- …que se traduz em tempo de ecrã para Wade Wilson que podia ser para Deadpool.
“Vá! Vão ver. O que é que ainda aí estão a fazer?”
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