Análise – Dead Space 3

Não existe qualquer margem para dúvida que o ser humano gosta de coleccionar coisas. Existe um qualquer fascínio por objectos maiores, melhores e acima de tudo mais poderosos, que é difícil de compreender.

Isso explica o porque da existência de jogos como Diablo 3 e todos os RPG do género, jogos com sistema de evolução onde a procura por uma arma ou armadura ligeiramente melhor é um achado que merece ser comemorado. Quem fala em Diablo, fala em World of Warcraft por exemplo, ou os rebentos que começam a surgir em outros géneros, sendo Darksiders 2 um dos melhores e mais recentes exemplos do mesmo.

Depois do sistema de evolução claramente inspirado em RPG ter surgido em quase todo o estilo de jogos, chegou a altura do sistema de melhoria de equipamentos e criação dos mesmos, de chegar a um dos géneros que beneficia muito mais da ausência dos itens do que da abundância dos mesmos, estamos a falar obviamente dos survival-horror.

Se bem me recordo, em tempos, jogos como Resident Evil fazia de tudo para que o jogar nutrisse um sentimento de enorme impotência, face aos muitos inimigos que chegavam a ter maior poder e número do que as poucas balas que estavam disponíveis, ou a pequena faca que podiam transportar. Hoje em dia, um jogo com muitos zombies, significa que é preciso matar tudo o que se mexe.

Dead Space 3 acaba por sofrer um pouco com isso, não só sendo um jogo que devia manter o jogador ao nível da competição (estou a falar dos inimigos) e não tanto a sensação que o jogador pode ser uma mistura entre o Rambo e o MacGyver.

Como terceiro jogo da série (colocando de lado alguns spin-offs), Dead Space 3 volta a chamar Isaac Clarke à sua função de exterminador de Markers, desta vez acompanhado por John Carver. Os dois heróis descobrem a existência de um planeta gelado onde existe uma máquina responsável pelo funcionamento dos Markers, e partem para fim à ameaça de uma vez por todas. Pelo caminho surgem muitos Necromorphs (corpos humanos que ganham vida ao estilo de zombies), que precisam de ser decepados membro a membro ao bom estilo da franchise. Além disso ainda existe tempo para uns belos passeios pelo espaço em sequências de gravidade zero, e combates contra monstros gigantescos que servem como bosses.

A primeira grande diferença entre os dois jogos anteriores e Dead Space 3 está ligada à quantidade de seres vivos que a história necessita para que possa ser contada, o que é bom e mau ao mesmo tempo. Se por um lado perdemos um pouco do sentimento de pressão e agonia de estar sozinhos num local estranho e cheio de Necromorphs, agora temos um colega de equipa ao estilo de Resident Evil 5, que nos acompanha em grande parte da aventura, o que transforma o género num um estilo mais próximo da acção.

Como é óbvio, a introdução de Carver permite que joguem Dead Space 3 a dois, trazendo mais opções de jogabilidade e interacção com os inimigos e ambiente. Na minha opinião é uma vertente que funciona bem e vai divertir todos aqueles que procuram uma boa experiência ao estilo co-op. Por outro lado, retira grande parte do sentimento de horror e solidão típicos dos jogos anteriores.

Outro elemento que retira mais elementos de Survival-Horror é o já mencionado sistema de criação e angariação de objectos. Mais uma vez estamos a falar de um elemento que pode ser visto de forma negativa ou positiva consoante os gostos do jogador.

Eu sou um fã de RPG, e prefiro muito mais jogar um jogo de acção a um de terror, mas não pude deixar de sentir que este sistema acaba por transformar todo o jogo numa experiência algo injusta que chega a roubar outra porção do terror associado ao sentimento da falta de recursos. Se o jogador gastar algum tempo a coleccionar objectos e a melhorar as suas armas, até os inimigos mais difíceis parecem feitos de manteiga, se o jogador ignora este sistema, o jogo fica demasiado difícil  Não existe um balanceamento real, o qual seria plenamente desculpável se este jogo fosse um RPG, onde o objectivo é estar sempre em vantagem em relação ao inimigo.

Estou a falar de um sistema que depende inteiramente do vosso empenho com o mesmo, e diga-se, é até bastante recompensador caso invistam tempo a construir e melhorar os equipamentos das vossas personagens.

Visualmente Dead Space 3 é um jogo interessante e quando o cenário não está demasiado escuro ou existe muita neve a cair, é notório que a equipa de produção ainda teve algum trabalho e atenção ao pormenor. Não é nada de realmente fantástico e não é do melhor que podem encontrar numa consola (a nossa versão de análise foi a de PS3). Tudo o que não sejam seres humanos (que ainda são muito robóticos e um tanto ou quanto marionéticos), sejam os fatos de Isaac ou Carver, as armas ou os Necromorphs, estes estão com muito bom aspecto.

Sonoramente, não posso apontar grandes defeitos a Dead Space 3. A banda sonora está bastante boa e continua a oferecer verdadeiros momentos de tensão ou terror. Destaque vai também para a ambiência sonora (sons, grunhidos e barulhos dos cenários), a qual continua a ser um dos últimos bastiões do terror que ainda existe nesta série.

Embora a campanha não seja exactamente curta para o género, a introdução de uma segunda personagem jogável confere ainda um pouco mais de longevidade e recomendo que repitam a campanha com outra pessoa que esteja disposta a partilhar de todo o tempo de jogo, pois a campanha vista pelos olhos de Carver oferece algumas boas surpresas.

No geral, Dead Space 3 é um jogo com muita qualidade, mas na minha opinião, acaba por se afastar alguns passos daquilo pelo qual a série ficou conhecida, o facto de ter feito regressar o terror aos survival-horror de acção. Em breves situações de jogo, Dead Space 3 trouxe à memória Final Fantasy XIII. São os dois bons jogos e duas boas experiências, mas teria sido melhor se fossem spin-offs dentro da mesma saga do que um numeral oficial da série.

Positivo:

  • Campanha singleplayer leva Carver a tomar caminhos diferentes
  • Modo co-op é divertido para partilhar com outra pessoa
  • Sistema de criação e evolução de items aliciante
  • Sequências em gravidade zero empolgantes
  • Musica e som ambiente continuam a ser pontos altos

Negativo:

  • Trocou grande parte do terror por acção
  • Presença de outra personagem torna o jogo em algo mais leve
  • Relação entre personagens mal concebida e vilão bastante fraco
  • Sistema de melhoramentos não oferece um equilíbrio à aventura
  • Muito conteúdo bloqueado à partida pela compra de mini-dlc

 

Daniel Silvestre
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