Contam-se pelos dedos de uma mão os reboots cinematográficos que acrescentaram valor à obra, tendo em consideração o material original. A saga The Dark Knight é uma desses caso e… há mais algum? Não podemos confundir remake (tenta remasterizar o material original) com reboot, cujo formato absorve o conteúdo original e aplica uma nova roupagem, podendo, ou não, melhorar a experiência e a história.
O Planeta dos Macacos, original de 1968, é um dos filmes de culto da segunda metade do século XX. Inspirado no romance de Pierre Boulle, a película agitou os espectadores, espicaçando a Teoria da Evolução e colocando o Planeta Terra num cenário pós-apocalíptico. A premissa é apetitiva ao box-office, embora o reboot de Tim Burton (2001) tenha arrefecido o potencial da franchise… até a Fox apostar no guião de Rick Jaffa e Amanda Silver.
Dawn of the Planet of the Apes dá continuidade aos eventos em Rise of the Planet of the Apes, numa fase pós-surto da doença que dizimou parte da população mundial. Cesar (Andy Serkis) volta a assumir o papel-chave da história, ostentando agora o estatuto de líder da comunidade primata.
O elenco conta ainda com Jason Clarke, Gary Oldman, Keri Russell e Kodi Smit-McPhee, que encarnam a facção humana que tenta sobreviver perante a adversidade.
A realização de Matt Reeves é dos aspectos mais importantes do filme. Nos momentos emotivos, a opção passa por enquadramentos pragmáticos, directos ao assunto, mas a criatividade emerge nos momentos de acção, favorecendo o ritmo e trazendo à memória o estilo de Steven Spielberg em Parque Jurássico.
Nos restantes domínios técnicos, há a salientar uma incrível produção, sobretudo na construção dos cenários (admirável a “aldeia” dos macacos e o aspecto desolador de São Francisco). A direcção de fotografia assume tons frios (rimam com o tom sombrio da temática), favorecendo os efeitos especiais (outro trabalho magnífico na construção dos Primatas).
No global, Dawn of the Planet of the Apes merece especial atenção. O protagonista é Cesar (personagem com maior impacto na história), embora vítima das circunstâncias, é o rosto que representa a ameaça maior à raça humana. É uma experiência paradoxal, torcer pelo “vilão”, mas a televisão já nos preparou para esta eventualidade (Breaking Bad). Na confusão da orientação do “coração” (devemos torcer por quem?), há a destacar uma história robusta e sólida, na qual os personagens principais (Cesar e Malcolm) desempenham um arco palpável (amizade), mas atingem uma conclusão inevitável.
É preciso uma grande lata para identificar defeitos num projecto original e inteligente como o reboot de Planet of the Apes, que contorna o marasmo do cinema actual para massas (os super-heróis são cativantes mas perderam alguma frescura), que proporciona interpretações complexas. Os efeitos visuais são notáveis, Andy Serkis está soberbo e a história é nutritiva, contudo, existem alguns obstáculos à excelência, nomeadamente: as pretensões genéricas do vilão, os mal-entendidos que desencadeiam acontecimentos e a sensação de que a história ainda vai a meio (vem aí um terceiro filme). Esperemos que o terceiro capitula seja o clímax de um reboot pertinente no panorama cinematográfico actual.
Positivo
Negativo
- Mal-entendidos
- Vilões genéricos
- Desfecho
- Análise – Star Wars: O Despertar da Força / Star Wars: The Force Awakens - Dezembro 18, 2015
- Análise – SPECTRE - Novembro 6, 2015
- Análise – Quarteto Fantástico / Fantastic Four - Agosto 12, 2015