Análise – Crymachina

 

Os jogos criados pela Furyuu têm a tendência de se transformar em pérolas escondidas entre vários grupos de jogadores. Um bom exemplo recente disso mesmo foi Caligula Effect, que apesar de não ser um jogo fantástico e de ter alguns problemas que o impedem de estar ao nível dos grandes, acabou por ser uma boa supresa e um jogo com um carisma muito próprio.

Crymachina segue o mesmo caminho. Com um visual e temática muito próprias, mas com fortes inspirações em outros jogos do género, acaba por ser um bom JRPG de acção que sofre bastante por tentar juntar peças que afinal não encaixam assim tão bem quanto podiam.

Ao contrário de algo como Caligula Effect, Crymachina é bem mais apocalíptico no seu âmago. Neste mundo, os humanos morreram todos e o que resta da humanidade foi enviada para o espaço numa plataforma destinada a fazer com que os humanos voltem à vida através da progamação de máquinas que governam certas necessidades do homem. Claro que isto teria de correr mal, pois estas identidades começam a discordar entre si e afastar cada vez mais a possibilidade de nova vida. Isto muda quando uma delas começa a trazer à vida humanos que podem mudar o destino da humanidade.

No centro da história está Leben, a personagem principal que além de odiar humanos, é agora a destinada a trazê-los de volta com a ajuda de outras raparigas e uma entidade que as guia. Este é o mote para uma narrativa com momentos Ex Machina, situações de inevitabilidade e muita confusão à medida que a história avança.

O jogo em si é dividido em dois momentos. No primeiro, temos uma espécie de Hub onde podemos interagir com as outras personagens, ver as estatísticas das personagens, equipar items e evoluir ou desbloquear novos power-ups. É aqui também que podemos não só seleccionar as missões alternativas para fazer nos cenários que já terminámos, como também conversar com as outras raparigas em diálogos que nos fazem conhecer melhor os seus objectivos, interesses e receber pontos para melhorar as personagens.

Há que dizer que o elemento de diálogo é bastante forte e bem escrito, mas algumas das interacções parecem muito mais fora da caixa do que o universo de jogo tenta passar. No meio de toda a seriedade e clima futurístico apocalíptico, a tentativa constante de dar mais humor nestes momentos, faz com que alguns deles pareçam muito forçados e demasiado demarcados.

Depois temos a parte da acção, onde vamos visitar várias zonas desta super estrutura e combater contra vários tipos de máquinas e identidades. Para isso temos a nossa personagem e a ajuda das outras duas colegas. Cada uma delas tem a sua arma, habilidades e equipamentos distintos. Os combates decorrem numa mistura entre Dynasty Warriors e Nier Automata, se bem que tudo acontece de uma forma algo mais lenta e com menos inimigos ao mesmo tempo no ecrã. É um sistema be m familiar que prima por tentar criar combos e utilizar as habilidades em nosso favor para acabar com os imigos.

O maior problema do combate passa exactamente por ter grandes picos de dificuldade, os quais estão aliados a mortes imprevisíveis que acontecem quase do nada, mesmo com vida cheia. Como o jogo bloqueia o nível máximo por capítulo, não é possível elevar as personagens além de um limite que as torne mais poderosas, criando uma dificuldade artificial desnecessária, que resulta muito mais em frustração do que diversão. Tirando isso, alguns dos melhores momentos de combate estão ligados às batalhas de bosses e mesmo estes podem ser frustrantes se estiverem mal preparados.

Visualmente, Crymachina é um jogo misto. Se por um lado temos uma boa dose de cenários bonitos e modelos de personagens bastante detalhados com direito a uma arte fantástica, por outro temos alguns cenários despidos de personalidade, bastante básicos e até repetitivos. O facto de ser um cenário futurista não abona em seu favor na exploração na grande parte do tempo, especialmente em espaços que se tornam redundantes. A banda sonora por seu lado é muito boa e faz lembrar claramente The Caligula Effect, epecialmente pela sua sonoridade mais upbeat acompanhada de vozes com tom inocente. Jogar no PC (versão de análise), revelou ser bastante positivo e embora tirando alguns cortes muito ocasionais no som, tudo correu pelo melhor com tudo no máximo, mesmo sem ter um PC de  topo.

Em termos de longevidade, temos aqui um RPG que acaba bastante depressa, com uma história que não vai muito além das 18 a 20 horas, com uma quantidade relativamente positiva de conteúdos alternativos para concluir, por isso podem contar com pouco mais de 30 horas com tudo feito. Algum desse tempo será passado a repetir segmentos e batalhas onde se morre várias vezes com mortes algo injustas, dado o tal problema com os seus picos de dificuldade.

Apesar de um resultado não tão positivo, a verdade é que Crymachina é um jogo cheio de personalidade e com um carisma que prende o jogador. O seu conteúdo algo difuso e a forma como vai apresentando o seu mundo, deixa-nos intrigados com o que estará para lá do que nos é apresentado ao início. Porém, sofre um com um combate, que embora positivo, não deixa de ser desiquilibrado e por vezes demasiado complexo, evolução algo convoluta e certas interacções entre personagens que parecem forçadas em alguns casos. Apesar de tudo isso, Crymachina deixou-me uma impressão positiva no final e tenho certeza que a memória dele vai crescer em mim tal como aconteceu com The Caligula Effect.

Positivo:

  • Arte muito apelativa
  • Diálogos engraçados
  • Boa banda sonora

Negativo:

  • Muitos cenários básicos
  • Sistema de level-up desnecessáriamente confuso
  • Picos de dificuldade desiquilibrados
  • Câmara com problemas

Daniel Silvestre
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