Apesar de não ser exactamente o primeiro, Batman v Superman: Dawn of Justice é capaz de ser o filme mais importante para o universo cinemático da DC Comics, ou DC Extended Universe como preferem chamar. É aqui que vai ser definido o que está para vir e criar expectativas para os próximos 9 filmes já anunciados até 2020.
Antes de mais, seja qual for vossa opinião quanto ao filme, não há como negar o mérito da própria existência de Batman v Superman. Depois de vários filmes a solo durante dezenas de anos, é a primeira vez que duas das personagens mais relevantes da DC Comics e mais populares do género de super-heróis se encontram juntos ao vivo no mesmo filme, e ainda temos a Wonder Woman como bónus.
Antes de avançarmos com a análise, convém referir que serão referidos alguns aspectos que foram revelados nos trailers, mas não vou desvendar pontos de desenvolvimento importantes da história. Caso não tenham visto ainda o filme e têm evitado os trailers até agora, fica aqui o aviso.
Batman v Superman decorre 18 meses após os eventos de Man of Steel onde a humanidade ainda está a habituar-se à presença de um alienígena todo-poderoso a voar pelos céus. Após um certo incidente em África, surgem mais dúvidas quanto à ideologia do Super-Homem e começam a exigir que responda pelas suas acções.
Seguimos Clark Kent onde trabalha agora no Daily Planet com a Lois Lane, que já tem conhecimento da sua verdadeira identidade. Em vez de estar a escrever artigos sobre desporto como o Morpheus lhe pede, Clark está mais preocupado com as recentes actividade do Morcego de Gotham que começam a ultrapassar demasiado os limites da lei a seu ver.
Para os lados da cidade de Gotham, temos Bruce Wayne que testemunhou a destruição de Metropolis na primeira fila e teme o que pode acontecer se aquele tipo de poder não for controlado devidamente. A desempenhar o papel de vigilante como Batman há 20 anos, Bruce procura informações sobre um indivíduo chamado “White Portuguese” que planeia trazer o que se julga ser uma bomba nuclear até Gotham.
Desde a sua revelação inicial, existiu muito pessimismo à volta da escolha de Ben Affleck para o papel do Cavaleiro das Trevas, com muitos a referir a sua participação em Daredevil de 2003 como se ele fosse o principal responsável pelo falhanço do filme. Espero que essas dúvidas tenham desaparecido completamente por esta altura, porque a prestação do actor está aprovada, tanto como Bruce Wayne assim como Batman.
Em relação às interpretações da personagem noutros filmes, este Batman é diferente de tudo o que já foi visto antes. Mais velho e atormentado pelo passado, com uma forma mais brutal de tratar dos criminosos, é o primeiro que tem de lidar com um ser tão poderoso como o Super-Homem. E não se preocupem que não perdem metade do filme a explicar a sua origem, tudo isso é quase feito nos primeiros minutos do filme de uma forma deverás elegante. Contudo, se são muito agarrados à ideia de que o Batman não deve matar ninguém, então vão ficar chateados com este filme, nomeadamente quando ele estiver no banco do Batmobile e da Batwing.
Quanto a Super-Homem, continuo a gostar de ver Henry Cavill no papel mas sinto que a personagem não teve o devido foco no filme. Enquanto acompanhamos o Batman em quase todo o que está a fazer durante o filme, o desenvolvimento do Super-Homem não é tão evidente e é um pouco mais subtil. Também gostava de ter visto mais interacção entre as duas personagens, apenas temos um diálogo entre o Bruce Wayne e o Clark Kent, outro mais pequeno entre o Batman e o Super-Homem, e o resto é quase só “fight fight fight atrás de fight”.
Entretanto no meio disto tudo, temos o psicótico e socialmente desajeitado Lex Luthor que está a tentar obter uma rocha peculiar encontrada no oceano Índico que pode funcionar como um dissuasor contra o Super-Homem. Tenho opiniões mistas sobre este Lex Luthor, não tanto pela prestação de Jesse Eisenberg mas pela personagem em si.
Ele tem momentos excelentes com alguns dos melhores diálogos do filme quando fala de demónios e os complexos de Deus, e também tem momentos parvos onde ficamos sem saber como reagir, talvez até seja propositado. Pelo menos não tenho dúvidas que gostei da música dele, assim como toda a banda sonora de Hans Zimmer e Junkie XL.
Quanto ao resto do elenco, fizeram todos um bom trabalho, com destaque a Amy Adams como Lois Lane, Holly Hunter como Senadora Finch e Jeremy Irons como Alfred Pennyworth.
Claro que não podia acabar de falar do elenco do filme sem referir a Gal Gadot como Wonder Woman. Para além de vermos o Batman e o Super-Homem à bulha, o subtítulo Dawn of Justice diz mais respeito às partes do filme que já estão a preparar os acontecimentos para a Justice League e os restantes filmes. A Mulher-Maravilha acaba por ter um papel muito secundário no filme mas estaria a mentir se dissesse que não fiquei empolgado no momento em que ela surgiu de fato pronta para a acção. Não vai ser preciso esperar muito para vê-la um pouco mais, já que teremos o filme a solo dela no próximo ano.
O problema com estas sequências relativas a acontecimentos futuros, e introduções a novas personagens, é que tornam Batman v Superman num filme bastante denso com cenas que podem parecer desnecessárias e deixar algumas pessoas confusas. Foi talvez o primeiro filme onde senti que precisava de um intervalo para mastigar aquilo tudo, algo que não aconteceu quando assisti o filme pela primeira numa sala IMAX. Também não ajuda existirem certas transições de sequências que parecem demasiado bruscas, dá a sensação que tiveram de cortar certas partes porque estava demasiado longo e essas partes iriam ser colocadas num Blu-Ray, possivelmente com uma faixa etária maior ou assim. É uma sensação estranha, sim…
Antes de terminar, queria falar um pouco do bicho que surgiu nos trailers que vai ser referido nesta análise como Troll do Senhor dos Anéis. uma personagem que nunca gostei. Não me interpretem mal, a luta contra o bicho é brutal se apreciam a acção explosiva do Zack Snyder, e apesar de preferir a origem e o contexto em foi colocado na história deste filme, continua a ser uma personagem estúpida.
Inicialmente não estava com grandes expectativas para o filme, mas à medida que a data de estreia se aproximou, elas começaram a subir e queria mesmo sair da sala de cinema empolgado para os próximos filmes da DC Extended Universe. A verdade é que isso não aconteceu, não cumpriu todas as minhas expectativas e até deixou-me um pouco nervoso quanto aos futuros filmes, mas isso não quer dizer que seja um filme horrível. Tem bons momentos e falhas, e não, não é um filme de 2 horas com dois homens deprimidos a chorar à chuva. Por incrível que pareça, existe humor subtil lá no meio.
Se não gostaram de Man of Steel, dificilmente vão gostar de Batman v Superman: Dawn of Justice. É um filme com um tom mais pesado e mistura vários elementos que podem criar mais desorientação do que curiosidade, e é um daqueles casos onde percebem melhor ao ver uma segunda vez. Se gostaram de Man of Steel, então vão certamente estar mais confortáveis e apreciar melhor o filme, mesmo que não faça as coisas como gostariam.
Mais uma coisa, não há cenas pós-créditos, portanto podem sair da sala à vontade quando surgirem os créditos.
Positivo
- Ver a Holy Trinity da DC Comics ao vivo no mesmo filme
- Ben Affleck como Batman
- Pasta dos easter eggs
Negativo
- Clark Kent/Super-Homem merecia mais foco
- Alguns cortes bruscos de fluidez
- Troll do Senhor dos Anéis continua a ser uma personagem estúpida
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