A mente na origem de êxitos recentes (Lost, Cloverfield, Alias), assumiu uma das franchises mais populares do mundo. Star Trek é o derradeiro produto de ficção-cientifica, com profundidade filosófica e o desenvolvimento analítico astrofísico. Durante gerações, Star Trek adoçou o paladar de milhões de espectadores e cimentou uma legião de fãs (acérrimos defensores do material original e desconfiados de quaisquer novas abordagens).
Eventualmente, o espetáculo e a acção frenética não são prioritários na franchise original, privilegiando o apetite pela descoberta e a unidade entre facções. Sob as ordens de J.J. Abrams, o conceito de aventura aparece numa latitude diferente, mais afoito, impossível de desdenhar, mesmo para o fã mais conservador. Em relação à história, já lá vamos.
J.J. Abrams admitiu ser mais um “Star Wars Guy” do que fã de Star Trek – está geneticamente preparado para compreender o potencial de mercado, da valia do produto, da importância em chegar ao público mainstream (sedento de acção e momentos visualmente espectaculares), e de rentabilização do investimento – mas o reboot de Star Trek vale ao público uma abordagem que alcança o melhor de dois mundos. O convite da Disney a Abrams, com a finalidade de realizar o Sétimo Episódio da Guerra das Estrelas, não foi mais do que “somente lógico”. Star Trek ou Star Wars? Eis uma pergunta que atormenta os neurónios dos nerds há 30 anos. J.J. Abrams foi mais além, escolheu os dois.
Star Trek Into Darkness vale de caras pelos primeiros minutos, um evento fantástico que respeita a genética das séries televisivas. Existe um enquadramento reminiscente de outro clássico do cinema (um like na caixa de comentários para quem souber do que estou a falar), onde, não obstante a espectacularidade, são lançadas bases fundamentais para a aventura de Into Darkness, nomeadamente: amizade, confiança, responsabilidade, e dicotomia entre moral e ética.
O enredo de Star Trek Into Darkness evolui para uma panóplia de perguntas, importantes no universo Star Trek, como: qual é o estatuto da Federação? O que pode ser considerado terrorismo? Que caminho deve ser percorrido para fazer justiça?
O elenco de Star Trek Into Darkness não é uma constelação de estrelas, mas cada escolha foi tomada em consciência e reflecte uma preocupação minuciosa pela perfeição: Chris Pine (Kirk), talvez a escolha mais discutível, proporciona o paradigma da humanidade, com escolhas assentes na emoção e no processo de aprendizagem; Zachary Quinto (Spock) equilibra o limiar do Vulcan e do Humano (razão versus emoção); Simon Pegg (Scotty) e Zoe Saldana (Uhura) são mais-valias tremendas para a qualidade das cenas; e Benedict Cumberbatch (interpreta John Harrison) encarna o vilão da história. John Harrison é intimidante (mais um like na caixa de comentários para quem identificar o inuendo cinematográfico), forte, intelectualmente superior e com objectivos semelhantes a Kirk, criando uma dinâmica fantástica entre vilão e héroi. Provavelmente, estamos na presença do melhor vilão desde o Joker de Heath Ledger.
J.J. Abrams desempenha um trabalho notável na realização, apesar de ser conhecido por “jogar pelo seguro”, Abrams é um Beckenbauer da realização. Cada decisão é orquestrada com um talento incrível e a sinfonia está afinadíssima em cada corte, cena, evento, acto. Existem momentos com proporções épicas, dotados de uma visão, e imaginação, arrebatadora. A edição está imaculada, os efeitos visuais fantásticos, a cenografia genuína e a banda-sonora remonta a Star Wars… mas que surpresa.
Mas nem tudo são rosas em Star Trek, da mesma maneira que a tridimensionalidade dos personagens obriga a dilemas morais no próprio espectador, a decisão em relação ao clímax provoca tumulto nos fãs. Se a nova corrente de fãs Star Trek (quem chegou à franchise pelas mãos de Abrams) pode considerar o desfecho de Into Darkness fantástico, os fãs da velha guarda podem nutrir um ódio visceral pelo filme.
Into Darkness absorve elementos já trabalhados em filmes anteriores, elementos incondicionalmente amados pelos fãs. Apesar da tentativa de Abrams em fazer justiça à saga, percorreu terrenos minados que colocaram em causa todo o trabalho desenvolvido. Contudo, sinceramente, a realização não está simplesmente melhor do que o material original, como faz total sentido, tendo em conta o enquadramento da narrativa.
O clímax até pode não reunir consenso – há momentos que não estão em concordância com as regras estabelecidas (no que respeita ao poder do vilão); pode ser considerado pouco épico, tendo em conta os gigantescos eventos precedentes; previsível pela pouca subtileza dos set ups – mas devem ser lamentados (sobretudo) a fugacidade do epílogo e a sensação de que o balanço da aventura não proporcionou uma aprendizagem indiscutível nos personagens. Mas são detalhes que “apenas” afastam Star Trek da perfeição.
Star Trek Into Darkness é um dos melhores filmes do ano e um dos melhores filmes de ficção-cientifica de sempre. É mais do que um blockbuster de Verão. Os diálogos são soberbos, as interpretações notáveis, o enredo é cativante e as temáticas exigem um esforço suplementar da massa cinzenta. Quem não desfrutar do filme, por conservadorismo e amor obstinado pelo material original, não está a ser diplomático e ignora a mensagem original da franchise. Explorar o que está além das estrelas.
Podem ver a vídeo-análise PróximoNível do filme Além da Escuridão – Star Trek Into Darkness aqui:
- Vilão
- Efeitos Visuais
- Realização
- Momentos visualmente arrebatadores
- Qualidade do elenco
- Relação Spock/Kirk
- Enterprise como “personagem”
Negativo
- Caminho assumido, que não agrada a gregos e troianos
- Inconsistência do poder do vilão
- Epílogo
- Afinal, o que aprendeu o herói?
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