Análise – A Quiet Place Part II

Embora John Krasinski tenha ficado mundialmente conhecido, ao interpretar a personagem de Jim Halpert, na série de The Office, a verdade é que provou ser bastante competente na cadeira de director, através de A Quiet Place (2018). A sequela deste filme iria inicialmente ser lançada no ano passado, no entanto, só agora, em 2021, é que esta produção conseguiu ser lançada nas salas de cinemas em alguns países, tal como Portugal.

Seja como for, a chegada desta continuação é mais do que expectável, levando em conta a elevada receção positiva, tanto por parte da crítica especializada, como do próprio público, face a este primeiro filme, tal como vários elogios à direção de Krasinski. Assim sendo, distribuído pela Paramount Pictures, o filme A Quiet Place Part II continua acompanhar sobrevivência da família Abbott, mergulhada num mundo pós-apocalíptico, que fora invadido por incontáveis criaturas grotescas, oriundas de outro planeta.

Se fosse apenas isto, o filme iria seria mais um, entre tantos outros, que abordam uma temática similar (tal como War Of The World (2005) ou Cloverfield (2008)), mas a diferença aqui, é que estes monstros são incapazes de ver, limitam-se a se mover através da sua audição. Como consequência, o facto de ser considerado per si um filme de horror e ficção científica, acresce também o género de suspense. Isto inerente ao facto de, por se tratar de ‘um lugar silencioso’, as personagens terão de fazer de tudo quanto possível, para se manter em silêncio, perpetuando a sua sobrevivência num mundo desolado. Assim, há muitos jumpscares ao virar da esquina, por cada mínimo barulho que se ouve, sendo um elemento recorrente na experiência.

Com efeito, a produção anterior trabalhou esta receita com grande mestria, não ficando esta segunda parte, muito atrás. Antes de avançar, vale referir que a primeira parte, terminou com a morte de Lee Abbott (John Krasinski), o pai da família, com o nascimento de um novo membro e, acima de tudo, com a descoberta da fraqueza destas criaturas, privadas de visão: a exposição a um ruído (com elevada frequência) proveniente da ligação a um implante auditivo, resulta na desorientação da criatura, dando chance de a eliminar, por ficar exposta a sua parte vulnerável.

Ora, partindo deste ponto, A Quiet Place Part II não perde tempo e continua, imediatamente, após os eventos deixados em aberto pelo anterior, com a família, agora composta por Eevelyn Abbott (Emily Blunt), Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e de um recém nascido, a terem se aventurar pelo perigo e desconhecido, do mundo exterior, fora da antiga casa, cuja segurança fora comprometida no clímax do filme de 2018. Ainda assim, há uma parte considerável, sob a forma de prólogo, onde temos um pequeno indício, de como a invasão começou, e também, uma última oportunidade de ver  Lee Abbott, novamente em tela, apesar de estar morto.

A história aqui desenrola-se de forma rápida, com pouco tempo de desenvolvimento dado às personagens, fruto da curta duração do filme. Sendo que estes momentos acontecem em simultâneo com o decorrer da ação, isto é, o filme não pára deliberadamente, com a finalidade, de evidenciar esta evolução, uma vez que tudo é feito a partir de elementos visuais, não verbais e/ou deixados nas entrelinhas. Apenas pega na premissa de querer aumentar o escopo da narrativa, para o mundo exterior, e interliga isso com o papel de líder/protetora da família por parte de Eevelyn, com a personalidade destemida e arrojada de Regan, sendo esta cada vez mais parecida com o seu pai.

À vista disso, e como referi, sendo uma experiência efêmera, caso avançasse, com mais detalhes acerca da história, estaria a estragar potenciais surpresas, quase todas deixadas de lado em trailers e trabalhos promocionais. Assinalo unicamente, que algumas novas personagens são apresentadas, tal como um antigo amigo do pai da família, Emmett (Cillian Murphy). Assim como meia dúzia de situações inéditas e ambientes são aqui explorados, para lá daqueles que já vimos. Sendo que Krasinski sabe trabalhar, com grande à vontade, por meio de inúmeros trocadilhos visuais do primeiro filme, que voltam aqui à tona, mas sob um olhar diferente.

Posto a história de parte, A Quiet Place Part II capta atenção do público através da forma como vai expondo cada situação, somente pelo uso do som. Isto num filme de horror é uma excelente ferramenta para criar toda uma panóplia de peripécias, que em outros filmes, não aconteceriam. Mas não é exatamente apenas jogar com o som, mas sim com a ausência dele, usar o silêncio como forma de alavancar o suspense e tensão criada, pela possibilidade, de uma daquelas criaturas se surgir devido à presença de algum ínfimo barulho.

Se no filme anterior isto já tinha sido algo notório (que muito deu que falar) sendo até o principal motivo pelo qual atraiu tantas pessoas a vê-lo, aqui volta em força, senão mais pujante em certas ocasiões. De tal modo, que o facto de Reagan ter uma deficiência auditiva, capaz de comunicar, unicamente, por linguagem gestual, faz com que a direção da obra nos coloque, em vários momentos, no lugar dela, sem conseguirmos ouvir qualquer tipo de ruído, como se fossemos, nós próprios, surdos. Pode parecer algo subtil à primeira vista, mas tem um impacto avassalador na forma como toda a experiência é digerida pelo público.

Apesar de se sustentar, em grande medida, em tudo aquilo que fez A Quiet Place (2018) ser tão bem sucedido, o grande factor novo aqui introduzido, ou seja, o de abrir horizontes para o mundo exterior, não foi tão bem executado, como se poderia esperar para uma sequela, com um orçamento deste calibre. Tentando não revelar nada em específico, toda a mística de saber o que aconteceu àquilo que sobrou da civilização, acaba por ser colocada de parte, do ponto de vista do espectador, para se focar mais uma vez na família. Bem sei que esse é o coração da obra, melhor dizendo da franquia, mas queria ter conhecido mais histórias, outras perspetivas únicas, sobre como outros sobreviventes poderiam estar a lidar ou não, com aquele apocalipse. Houve alguns momentos…mas soube a muito pouco.

Relativamente aos outros aspetos, não há nada de relevante a mais para apontar, visto que a prestação do elenco mantém-se com uma qualidade acima do padrão (conhecido da indústria) para este género de filmes, especialmente no que toca às personagens mais novas, como Reagan. E os efeitos especiais também, até porque onde este é maioritariamente usado – nas criaturas – o padrão estabelecido pelo anterior continua intacto. A direção de Krasinski melhorou, assim como a sua habilidade para exibir, a partir de um par de cenas, uma experiência com um ritmo de suspense constante e avassalador, que deixará qualquer um com o coração nas mãos.

De facto, A Quiet Place Part II parece muito mais uma extensão do primeiro filme, do que propriamente algo que o torne uma verdadeira sequela. Tudo aquilo que, efetivamente, fez o primeiro filme ser tão único, está aqui, e em alguns aspetos até de forma aprimorada, ainda assim, acaba sempre por ir bater no mesmo ponto, de que era preciso ainda mais. Para quem gostou do primeiro, vale completamente a pena, usarem pouco mais de noventa minutos para acompanharem o seguimento desta história, mas caso não tenham sido fãs da proposta de Krasinski há três anos atrás, não será esta continuação que vos irá convencer.

Positivo:

  • Mantém o padrão de qualidade do primeiro filme;
  • Elenco;
  • Usa o silêncio e o som com destreza;
  • Callbacks ao filme anterior bem colocados;
  • Muitos Jumpscares à mistura;
  • Direção de Krasinski impressiona;
  • Cria antecipação para a próxima parte;

Negativo:

  • Amplitude da história não expande de forma desejável, para uma sequela;
  • A exploração deste universo poderia ter sido mais aprofundada;

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