Especial – Os 60 frames de 1080p

60 frames de 1080p

Desde a altura da PS3 e Xbox 360 que ouço falar em 60 FPS. Mais estabilidade, mais apetecível à vista e, ao que parece, extremamente complicado de conseguir. Até fui pesquisar sobre jogos que conseguissem correr a 60 FPS e ao que parece, desde que apareceram as televisões de 60Hz que esse tem sido um objetivo, e para vossa surpresa, pelo menos para minha, foi muito mais cedo do que pensava.

Lembram-se que os jogos têm versões diferentes para várias regiões? No caso de Portugal é a PAL, na América do Norte temos o NTSC, etc. Isto não se deve apenas aos famosos Region Lock, referem-se também aos diferentes tipos de mecanismo presentes em cada país e no caso das regiões PAL, sabe-se lá porquê, mas a início tivemos grandes problemas. Alguns jogos de N64 por exemplo corriam a um ritmo mais baixo de FPS numa versão PAL que uma NTSC.

Porquê? Bem para isso temos que ir ao início da TV a cores.

Quando por volta da década de 50 a Europa começou a pensar em introduzir a TV a cores, o mercado Americano já ia um pouco mais avançado com algo chamado NTSC. O NTSC era o padrão utilizado por lá, mas as mentes Europeias rapidamente descobriram problemas com esta solução devido ao território Europeu, desenvolvendo então o PAL.

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O PAL surge como a ideia de que todas as TV’s na Europa deveriam ter a frequência de 50Hz e assim foi. Não vou estar a aborrecer-vos com muitos mais detalhes técnicos mas a ideia é que o PAL tem um intervalo maior que o NTSC e daí existirem desde logo diferenças nos FPS. A comparação mais utilizada é que enquanto um mesmo vídeo está a ser reproduzido, o PAL terá 25FPS em comparação com os 30 FPS do NTSC.

Este problema felizmente pertence ao passado, hoje em dia diria que é complicado comprar uma TV actual que não tenha pelo menos os 60Hz. Além disso, desde a PS2 (talvez mais cedo) alguns jogos davam essa escolha ao jogador. Lembro-me perfeitamente do Dead or Alive 2 ser um dos primeiros jogos que joguei com essa opção, e também me lembro de quando jogava na TV da cozinha que se escolhesse 60Hz ficava a jogar em preto e branco; já na sala jogava a cores mesmo com os 60Hz. Se notava alguma diferença? Não, mas também nem sabia que existiam Frames.

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Chegamos então aos dias de hoje e a luta é outra mas a guerra é a mesma, como atingir 60fps? A resposta hoje em dia é simples, com melhor hardware. Se estivermos a jogar num PC, podemos fazer-lhe as alterações que entendermos com uma nova placa gráfica ou um novo CPU, é verdade que não é barato mas a guerra estaria ganha. E chegamos então às consolas atuais, PS4, Xbox One e a Wii U.

Vamos já tirar a Wii U do caminho, todos sabemos que tem um hardware mais fraco e que os jogos que tem, apesar de conseguirem chegar à meta dos 60fps e 1080p, são aquilo a que se poderia chamar um jogo glorificado para uma PS3 ou Xbox 360 e pouco mais. Nunca na vida veremos uma Wii U a correr um The Witcher 3 com a qualidade máxima. Para o melhor e para o pior, a maioria dos jogos nesta plataforma chegam a esta meta que parece tão distante nas outras consolas, mas acima de tudo são extremamente divertidos e excelentemente conseguidos.

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Os grandes estúdios que fazem jogos para a nova geração de consolas fazem-me lembrar a equipa por trás dos menus de restaurantes, quantos de vocês não chegaram a um restaurante, olharam para o menu repleto de fotos de comida que vos faz salivar? Lembram-se daquele ovo estrelado perfeito, enquadrado no prato com o bife e as batatas? E lembram-se quando vos serviram o prato com o ovo de esguelha, a gema rebentada ou sólida impossibilitando a secular tradição de encharcar o pão no líquido viscoso? Bem, é a sensação com que fico por vezes, e muito mais vezes do que esperava.

Certamente viram jogos nesta E3 que vos deixaram de boca aberta, mas quantos deles não se vão revelar o tal ovo estrelado desapontante. Na minha memória tenho vários casos relativamente frescos dos famosos downgrades. Agora, antes de continuarem a ler interrogo-vos. Peço-vos que pensem onde está a culpa de nos ser mostrado um prato de 5 estrelas e momentos depois irmos comer o ovo maltratado.

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Agora volto a fazer uma pergunta. Porque é que jogam? É o aspeto gráfico? O divertimento? A história? Que factores entram nas vossas contas mentais sobre que jogo querem experienciar?

Nas minhas contas entra a diversão em primeiro lugar, se um jogo não for divertido tenho sérios problemas. Com divertido não quero dizer que seja sempre feliz, pode ser um jogo de terror que me divirto com os meus “cagaços” na mesma. Em segundo e a competir com o primeiro lugar vem a apresentação, aqui englobo desde os frames ao aspeto gráfico, não vou fazer distinção entre os sprites de um jogo de NES e um jogo de PS4, conseguem ser os dois bastante apelativos da sua própria maneira. E finalmente a jogabilidade, aí digam o que disserem se eu quero ir para a direita e o meu personagem vai para a esquerda temos problemas.

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Lembram-se das cinemáticas da PS1? Aquelas que corriam a uns fantásticos 15 fps (ou algo que se pareça)? Bem eu posso dizer-vos que as detesto, não pelo conteúdo, mas pelo facto de correrem a 15 fps. Para mim são um daqueles casos que tinham feito bem em estar quietos até à PS2. Acho-as simplesmente feias. E com isto já dei a entender que não sou fã de videojogos cuja performance é ridiculamente baixa, e existem bastantes videojogos onde a instabilidade é rainha e eu próprio preencho os papéis para o exílio. Aquelas descidas ocasionais para os 2023 fps não me incomodam, já quando são uma constante a história é outra e eu preencho os papeis de bom grado…

Depois temos os videojogos que recorrem a truques para disfarçar as frames, normalmente não me incomodam, já que na sua maioria ficam bem escondidos, mas às vezes… Um dos casos mais recentes que causou algum alarido foi com o The Order 1886, aquelas faixas negras que reduzem o espaço “útil” no ecrã. Menos informação para ser criada, e mesmo assim levou um filtro para suavizar a apresentação. Era também um jogo ao estilo podes ver mas não toques, foi um jogo que mostrou o que pode ser feito e ao mesmo tempo mostrou o custo. Valeu a pena? É discutível. Eu gostei da sua apresentação, quanto ao resto está na lista que quero jogar um dia.

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No fundo o problema que está aqui atualmente é o facto de termos equipas inteiras a desenvolver videojogos para hardware que não está preparado para atingir a performance desejada. Se o objectivo são os 60fps a 1080p então se calhar as árvores não podem abanar e os telhados não podem ter telhas individuais e têm que voltar às texturas. Quanto mais está a acontecer no ecrã mais tempo demora a criar a imagem a enviar, e tendo em conta que estão a pedir 60 imagens em alta resolução de um conjunto de peças que não consegue cria-las devido à imensidão de informação necessária a cada frame, torna-se impossível ter aqueles jogos extremamente tentadores, pelo menos para já.

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Tenho plena consciência que não falei sobre tudo e contive algumas opiniões mais radicais, verdade seja dita, criei este artigo para falar sobre as metas que tantas vezes são apresentadas como um dos vários pontos de venda de um videojogo. Parece que correr a 1080p e 60fps vai solucionar todos os problemas da indústria, quando na verdade se deveriam começar a preocupar em entregar a melhor experiência possível com o que têm em vez de criar obras monstruosas que não vão estar à altura e acabam por sofrer com isso, não só o estúdio mas também nós, consumidores.

Aquilo que eu sinto é que os produtores estão neste momento capazes de conseguir grandes trabalhos mas apontam demasiado alto para a realidade em que estamos. Qual é a vossa opinião?

Alexandre Barbosa
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