Análise – Pokémon Sword e Pokémon Shield

Pokémon é uma série icónica que tem vindo a fazer parte da vida da maioria dos jogadores desde o tempo do velho GameBoy. Pokémon Red e Pokémon Blue foram grandes sucessos e cada novo lançamento, independentemente de vendas, acabaram sempre por ser um sucesso entre os fãs.

Ao longo dos últimos anos, a Game Freak tentou trazer algumas novidades aos jogos, sem nunca se afastar daquilo que faz de Pokémon os jogos que todos conhecem e adoram. Com a chegada da Nintendo Switch, era de esperar que o salto para uma consola caseira (embora que híbrida), viesse dar o cunho de um blockbuster como nunca antes tínhamos visto na série. Infelizmente, o salto não foi tão bom como podia ter sido.

Pokémon Sword e Pokémon Shield voltou ao modelo clássico de uma aventura repleta de ginásios e crachás para apanhar, tudo isto localizado em Galar, uma região claramente inspirada em Inglaterra. O mundo de Galar é bastante interessante e está repleto de muitos Pokémon que estão entre os melhores da série. Curiosamente, não posso dizer o mesmo de todas as personagens com quem vamos interagir, pois se temos algumas bastante boas como a Sónia, a Professora e até alguns bons rivais, temos outros que são chatos, como é o caso do rival Hop que está sempre a interromper a nossa viagem, o Bede que é simplesmente irritante, entre outros.

Os líderes de ginásio por seu lado são muito bons e alguns dos desafios que os seus edifícios englobam são bastante bons. Gosto também que todo o ambiente do jogo seja feito em termos de um campeonato onde somos acompanhados por fãs e as partidas são transmitidas na TV como se fossem jogos de futebol. Por outro lado não fiquei grande fã da Team Yell que não “inimigos” no seu verdadeiro sentido. Conseguimos ver quem são os vilões a sério a milhas de distância e estes acabam por ter menos tempo de antena e construção de personagem do que deviam. Até os próprios lendários parece que são deixados ao esquecimento em maior parte do jogo, mesmo fazendo parte integral da história.

Galar é percorrida muito ao estilo dos jogos anteriores, com estradas que ligam aldeias onde vamos encontrar os ginásios, mas a maior adição é claramente a Wild Area, uma zona aberta repleta de Pokémon e batalhas de Raid que temos de fazer com outros jogadores contra Pokémon gigantes. Apesar de zonas abertas como a Wild Area serem um desejo de longa data em Pokémon, esta deixa bastante a desejar, não só por ser uma zona bastante vazia de vida e repleta de jogadores artificiais, mas também por ter um visual bastante incompleto. É giro participar em batalhas de Dynamax com ajuda de outros ou visitar os seus campos para interagir com as suas equipas, mas Pokémon Sword e Pokémon Shield dão sempre a ideia de que estes sistemas são o mínimo recomendado e que já existem muitos jogos a fazer muito melhor que ele em termos de interactividade entre jogadores. Além disso fiquei com a impressão que existem muito menos áreas de masmorra como as típicas cavernas com vários pisos ou locais abandonados com várias salas. É um clássico dentro destas séries que não agrada a todos mas que podia aparecer aqui com mais frequência.

Embora tenha achado que a Wild Area é bem-vinda em termos de conteúdo, não é a ideal em termos de história, pois acaba por partir o ritmo com mais frequência do que devia. Como temos de passar por ela algumas vezes para chegar a outras zonas, somos tentados a apanhar todos os Pokémon que por lá andam e também fazer outras coisas alternativas. Como isto acontece muito cedo no jogo, não só ignorei a história durante horas, como cheguei aos primeiros grandes ginásios com equipas muito mais fortes do que o jogo pretendia. Como todos os Pokémon ganham experiência em conjunto quando derrotamos um Pokémon ou apanhamos um, senti sempre que estava mais forte do que o jogo estaria à espera.

Felizmente, depois do que foi Pokémon Let’s Go Pikachu e Pokémon Let’s Go Eevee, fiquei contente por voltar aos combates por turnos para apanhar Pokémon. O sistema é o clássico de sempre, mas gosto bastante de ver os bichos a andar pelo mapa tal como no lançamento anterior. Claro que ainda existem alguns combates aleatórios com Pokémon que andam pela relva ou vos atacam quando estão numa caverna, mas é um sistema que funciona bastante bem. O mundo já não limita tanto quanto antes, especialmente pela ausência da utilização de habilidades para cortar ou empurrar coisas, até o atravessar de água é feito com a bicicleta após uma série de upgrades.

Os combates decorrem normalmente com o sistema de turnos onde usam um dos quatro ataques disponíveis. A grande novidade é mesmo o Dynamax onde os Pokémon podem ficar gigantes durante uma série de turnos. O Dynamax é interessante, especialmente nos combates de ginásio, mas perdem algum do seu charme com a repetição. De qualquer forma, é sempre interessante ver as variedades de Dynamax que existem e algumas formas Gigantamax são distintas das regulares. Os combates Gigantamax na Wild Area são tidos em grupos com outros jogadores e após derrotar um destes Pokémon, podemos tentar capturar para a nossa equipa.

Claro que sendo Pokémon, os jogos estão cheios de pequenas coisas secundárias para fazer, como é o caso dos Pokéjobs onde podemos mandar Pokémon em aventuras que os fazem ganhar experiência e alguns prémios, temos a hipótese de personalizar a personagem com uma boa quantidade de roupas e acessórios, podemos participar em alguns mini-jogos, passar um bom bocado com os nossos Pokémon no acampamento e preparar comidas (algo que me aborreceu na verdade, por isso fiz uma ou duas vezes apenas) e também trocar Pokémon com outras pessoas, quer através de troca directa ou com o sistema genial de troca surpresa que está de regresso.

No que respeita ao Pokédex, que foi uma das grandes controvérsias antes do lançamento, também eu fiquei decepccionado por não poder encontrar aqui alguns dos meus favoritos ou sequer poder importar alguns dos meus vindos do passado. Eu gosto de ter equipas temáticas e ao ver Yamper, quis logo criar uma equipa variada só de cães, algo que se torna impossível, tendo em conta que a maioria deles não estão presentes neste jogo. O conceito da série é apanhar todos, por isso não faz sentido não ser possível ter todos, mesmo que fossem importados. A Game Freak defendeu que isto havia sido feito por questões de criação de visuais e animações, a isto tenho a dizer: as animações são horríveis…o que leva até ao outro Donphan na sala.

Pokémon Sword e Pokémon Shield podem ser bonitos e coloridos, mas são um fracaso em termos gráficos e em animações. Como é possível que a passagem de uma franquia desta envergadura com tanto dinheiro para usar em desenvolvimento fique manchada com problemas graves de resolução e desenho em distância, especialmente ligado à doca. Estamos a falar de uma consola onde temos Breath of the Wild, Smash Ultimate, Mario Odyssey e até o Witcher 3 como exemplos de que a consola não é assim tão limitada, no entanto, os objectos e personagens ficam cheios de artefactos à volta quando se afastam da câmara e a Wild Area é fraca no mínimo. As personagens usam as mesmas animações de forma constante e ainda temos os seus corpos a rodar sobre eixos. Passando para o combate, é embaraçoso ver como a vasta maioria dos ataques e das animações são praticamente os mesmos de sempre e alguns deles são simplesmente hilariantes no mau sentido, com um Snorlax a dar saltinhos ao usar o Amnesia sobre ele próprio sem qualquer movimento do corpo ou um Pokémon a abanar sobre um eixo ao preparar um ataque. Que grande desilusão.

Outra desilusão surge no departamento sonoro. A música é bastante boa e gostei em especial de alguns temas de combate, especialmente contra alguns dos vilões, também não me incomoda que os Pokémon continuem a ter sons ao estilo antigo, até dá um certo charme (que o Pikachu e o Eevee conseguem contrariar), o que já não faz sentido é não ter vozes na série. Até uns sons característicos de cada personagem seriam bem-vindos, mas numa era onde até a Zelda passou a falar, não haver vozes num jogo com vários momentos de história não faz sentido. Podem dizer que é por questões de localização, mas ninguém vai parar ao hospital se jogar com vozes em inglês e legendas em espanhol ou francês.

O mais irónico no meio de tudo isto é que joguei Pokémon Shield do início ao fim e consegui divertir-me bastante, afinal, estamos a falar de Pokémon e de um RPG, duas coisas que adoro, isto só fez com que os pontos negativos ficassem mais evidênciados. A experiência podia ter sido vastamente superior e havia aqui o material suficiente para fazer destes dois jogos os melhores jogos de Pokémon até hoje, algo complicado tendo em conta que existem coisas como Pokémon Heart Gold e Soul Silver. Ao jogar Pokémon Sworld e Pokémon Shield, vão certamente ignorar alguns destes problemas e apreciar o jogo por ser mais Pokémon, foi isso que eu fiz e posso dizer que fiquei saciado, mas é imperativo que a Game Freak perceba que está mesmo na altura de seguir os passos de Mario e Link e evoluir a série para esta geração.

Positivo:

  • Região de Galar é interessante
  • Alguns dos novos Pokémon são boas adições
  • Wild Area é um conceito bem-vindo
  • Pokémon a passear pelo mapa
  • Conceito de campeonato

Negativo:

  • Ausência de todos os Pokémon é uma mancha
  • Visual bastante aquém do poder da consola
  • Animações embaraçosas
  • Ausência de vozes
  • História mal doseada

Daniel Silvestre
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