Análise – O Bebé de Bridget Jones / Bridget Jones’s Baby (por Ana Beatriz Varela)

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Realizador: Sharon Maguire
Elenco: Renée Zellweger, Colin Firth, Patrick Dempsey, Emma Thompson, Gemma Jones
Género: Comédia, Romance
Duração: 2h 02min


—->Esta análise contém spoilers. Se pretenderem continuar a ler, façam-no por vossa conta e risco.<—-


Tendo em conta que este é o terceiro filme da franchise, vamos recapitular as partes mais importantes do segundo filme “Bridget Jones: The Edge of Reason“:

  • Bridget continua, no campo amoroso, a balançar entre Daniel Cleaver e Mark Darcy;
  • Daniel continua a ser um egocêntrico mentiroso que deixa Bridget de beicinho;
  • À mínima presença feminina, Bridget assume que foi trocada;
  • Mr. Darcy pede Bridget em casamento e ela aceita.

Isto foi há 12 anos, o tempo que passou entre o segundo e o terceiro livro/filme, e, sinceramente, já ninguém se lembrava de Bridget Jones ou do que ela fazia, para além das patetices e dos disparates inconscientes.

Bridget Jones’s Baby (como é que é possível deixarem escapar este erro ortográfico, gente dos Hollywoods desta vida?!) pega na premissa do terceiro livro do Diário de Bridget Jones – Mad About the Boy – escrito por Helen Fielding e lançado em 2013, para nos contar uma história completamente diferente. Cria uma versão para agradar a todo o público, principalmente ao que não gostou da morte inesperada de Mr. Darcy, 5 anos antes do começo da narrativa do livro.

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Se nele temos uma Bridget Jones Darcy de 51 anos, viúva, ainda a ponderar loucuras com Daniel e com dois garotos, no filme, o cenário é muito diferente; a heroína de 43 anos continua solteira, Daniel Cleaver já morreu e Mark Darcy está casado com outra mulher. Como é que acabou o noivado entre Jones e Darcy? Não se sabe. Como é que Daniel morreu? Não se sabe. Porque é que Mr. Darcy casou com outra mulher? Enfim… Não se sabe. Não há explicação para estas e outras questões; a narrativa é deixada sem bases sólidas para se apoiar no segundo filme, pelo que o terceiro parece caído de paraquedas, já que Hugh Grant não quis fazer parte do elenco (daí Daniel ter morrido). Hugh diz que não se sentiu confortável com o papel e que, nos dias de hoje, sente-se demasiado velho para comédias românticas. Bom, ao menos ainda podemos ver-te em Florence, não é, jeitoso dos anos 90? Assim, para o filme, tiveram que desencantar, do nada, outra personagem masculina para deixar Bridget na sua indecisão amorosa crónica de referência.

Então, temos a nossa Bridget Jones, uma mulher com sucesso na sua carreira de produtora de um telejornal, que quer perder peso, deixar de fumar e não ter sempre a cabeça a gravitar em torno dos homens. Embora sinta falta de um casamento e da maternidade na sua vida, as suas amigas dizem-lhe que ela precisa de animar-se e levar as coisas de uma forma mais leviana. Então qual a melhor solução? Um festival de música, onde qualquer coisa pode acontecer. Bridget podia dizer “Ah não, ‘miga, ’tá louca?”, mas como ela impulsiva e descontraída, aceita a solução como se fosse uma adolescente com as hormonas em efervescência.

O cenário é o de um festival com tendas, diversões, concertos e muita gente cuja beleza corresponde aos standards atuais da sociedade. As filmagens foram feitas durante o concerto de Ed Sheeran em Croke Park, Dublin, em 2015. O cantor de Photograph, Thinking Out Loud e Sing aparece no filme como ele mesmo, passando por um momento constrangedor – é confundido com um trabalhador da cadeia Starbucks, por Bridget e pela amiga, quando estas lhe pedem para tirar uma foto; e quando ele pensa que elas queriam ser fotografadas com ele, Bridget acha-o arrogante, uma vez que não o reconhece. Só mais tarde, durante o concerto, é que ela e a amiga percebem com quem tinham estado! Para um behind the scenes muito divertido, vejam aqui.

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Ed Sheeran consegue passar despercebido por quem não o conhece, porque continua a ser um tipo discreto, com cara de puto ruivo, despenteado, com barba de 3 dias e com bochechas muito fofinhas, o que torna esta cena mais hilariante, e mostra como Ed Sheeran não se leva muito a sério.

Mas não é com o cantor que Bridget Jones se vai envolver. Desafiada pela amiga a ter sexo com o primeiro homem que conhecer no festival, encontra Jack Qwant (Patrick Dempsey), um quarentão americano charmoso e galã. Embora deslocado no cenário, ela passa a noite na tenda dele, não fazendo de todo ideia de quem seja. De manhã, deixa-o sem qualquer explicação.

Nesta narrativa, estou a ver um problema – se Bridget Jones é produtora do jornal televisivo, tem de estar constantemente a par das novidades do mundo em geral, desde nacionais a internacionais, passando pelo desporto, cultura, ciência, cinema, sensacionalismos,… Assim sendo, como é que não reconhece Ed Sheeran ou não sabe quem é Jack Qwant, um americano multimilionário que tem um site de compatibilidades amorosas. É inconsistente, mostrando que os guionistas não se esforçaram muito para manter a Bridget credível.

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Mas Bridget Jones não é Bridget Jones sem Mr. Darcy, claro, e, de uma forma esquisita, os dois acabam por se reconciliar num batizado e selar essa reconciliação num quarto. Desta vez, Bridget deixa um bilhete antes de o deixar, mas para explicar a razão porque não faz sentido estarem juntos, ou seja, a indefinição continua.

Embora tenham tido relações sexuais com proteção, esta tinha ultrapassado o prazo de validade… em alguns anos. Bridget começa a sentir-se mais inchada que o costume e depois de um product placement muito óbvio e constrangedor da Clear Blue, ela descobre que vai ser mãe. De surpreendida a chocada, intrigada, alegre, radiante, Bridget resolve manter a gravidez, prometendo ao feto resolver a grande questão – Quem será o pai da criança?

50% Jack / 50% Mr. Darcy. O que fazer? O mais correto é realizar um teste de ADN, certo? Errado, porque mal a obstetra lhe diz que há a ínfima possibilidade de abortar, Bridget foge do consultório, como se estivesse a proteger a criança de uma ameaça terrível. Uma forma agonizante que os argumentistas arranjaram de fazer o filme durar mais hora e meia.

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Emma Thompson faz o papel da obstetra Dr. Rawling, uma médica de carácter frio e crítico, que também é mãe solteira. No caso de Bridget, Dr. Rawling acaba por baixar a barreira e por querer saber quem, de facto, é o pai do bebé. A sua personalidade complexa, oscilando entre o frio e o atencioso, brincando com a imaturidade de Bridget e fazendo-a sentir-se, por vezes, desconfortável quando goza com as más decisões que esta tomou, acaba por trazer aquele outro tipo de humor que fazia falta à franchise – humor sarcástico e inteligente.

Tendo a narrativa entrado já no seu desenvolvimento, está na hora de procurar a solução para o problema, de modo a que Bridget tenha o seu previsível final feliz. Mas, está claro que não é uma solução qualquer; tem de ser uma solução ao melhor estilo de Bridget Jones – desconfortável, indelicada, constrangedora e com a sensibilidade de um bulldozer. Ela conta primeiro a Jack que está grávida, dando-lhe a entender que ele é o pai; feito isto, faz o mesmo com Mr. Darcy e no final reúne os dois para lhes dizer que não sabe ao certo qual deles é o pai. Para Bridget, é uma “Boa ideia!”. Para os espectadores, é um “Pára, por favor.”

As suas ações, no decorrer do filme, podem ser vistas como irresponsáveis ou como espontâneas, dependendo do ponto de vista, assim como o facto de não saber qual dos dois é o pai pode ser visto, ou não, como um problema. Tudo se resume à maneira como a pessoa em questão lida com as surpresas do dia-a-dia. Bridget não se importava de ser mãe solteira, mas a forma como abordou a situação abalou os dois homens, criando-lhes um problema: “E se eu não for o pai?”, “E se eu for o pai?”, “Tenho mesmo que lidar com este tipo?” Nisto, eu tiro o chapéu – o filme não atribui culpas, embora dê a entender, pela milionésima vez, o quão inconsciente foi Bridget ao utilizar preservativos fora de prazo sem se preocupar com isso. Apesar de ter acontecido, a mãe tem todo o direito de receber apoio e de saber quem é o pai. E esta serenidade das personagens, durante o filme, torna-o muito diferente das situações que acontecem no mundo real. É pouco provável que uma mulher ter dois parceiros, e ao engravidar, estes se dêem relativamente bem e mantenham o apoio incondicional. É “coisa de filme”.

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A base do filme é algo dececionante, pois o primeiro filme aborda a pressão que a sociedade exerce sobre as mulheres para seguirem um determinado curso de vida – casar e ter filhos -, e o que acontece àquelas que não o seguem – mulheres que não querem casar ou não querem ter filhos, mães solteiras. Neste terceiro filme, Bridget já tem vontade de ser mãe e, no final, fica com Mr. Darcy, casando com ele e acabando por cair na situação que a ideia original criticava.

Tal como muitos romances de hoje em dia, Bridget Jones’s Baby é uma fantasia que quer “convencer-nos” que podemos ter um milionário bem parecido e amoroso que nos vai amar para todo o sempre.

Após a sua pausa na carreira, Renee Zellweger voltou ao seu papel de britânica desastrada. É ótimo ver uma atriz americana desempenhar, com tanto sucesso, um papel com sotaque britânico. Para além dos seus instintos de comédia, Zellweger torna Bridget verosímil, pelo que muitas mulheres por esse mundo fora se identificaram com ela. E embora toda a situação descrita seja inverosímil no mundo real, a fantasia acaba por entreter o espectador.

Positivo

  • Bridget Jones está de volta
  • Ed Sheeran
  • Escolhas de músicas para a banda sonora

Negativo

  • A impulsividade e inconsciência de Bridget fá-la rebolar nos próprios problemas, como sempre
  • A incongruência de uma Bridget que quer filhos
  • Falta de explicação sobre o plot inicial
  • Abordagem supérflua sobre um assunto sério

 

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