Num ano com inclinação para os filmes baseados em factos reais, Her é uma espécie de fenómeno meteorológico raro, não se sabe bem o que é, mas vale sobretudo pela diferença.
Da autoria de Spike Jonze, também nos trouxe Where the Wild Things, Her é uma história moderna, que coloca o conceito de amor na berlinda, restruturando algumas perguntas sobre um dos fenómenos naturais mais complicados de explicar, reinventando a história de amor clássica, numa era assente na proximidade física virtual, na qual as interações humanas podem ser simuladas artificialmente, e que a individualidade exige “produtos” customizados.
Her narra a história de Theodore (interpretado por Joaquin Phoenix), um homem que tenta ultrapassar uma separação. No processo, Theodore adquire um sistema operativo inteligente, programado para interagir e preencher o espaço criado pela solidão. O sistema dá pelo nome de Samantha (voz de Scarlett Johansson), e estabelece, imediatamente, empatia com Theodore.
Joaquin Phoenix não recebe uma nomeação para o Óscar de Melhor Actor, o que pode parecer estranho para um one man show, mas é uma decisão compreensível da Academia, tendo em conta que Theodore não é propriamente um personagem cativante, assumindo uma personalidade acanhada, reservada e resistente à evolução. Joaquin Phoenix é competente, mas fica órfão de momentos de decisão extrema, em que possa explodir, demonstrar paixão e revelar Theodore. Do outro lado da barricada está Scarlett Johansson, apesar de contribuir “apenas” com a voz, a actriz consegue seduzir, transmitir sentimentos e algumas inquietações. Notável.
O elenco é curto (não seriam necessários mais personagens), com destaque para a presença de Rooney Mara (interpreta Catherine), Chris Pratt, Amy Adams, Olivia Wilde, e as vozes de Bill Hader e Kristen Wiig.
Para uma história minimalista, uma realização de autor. Não sabemos em que lugar estava Spike Jonze quando escreveu Her, mas Jonze é um homem consciente do mundo e da realidade, e transmite uma dinâmica genuína e credível no capítulo da realização. Em jeito de futurologia, o ambiente estéril reflecte a verdade dos relacionamentos modernos, monitorizados pelo teclado e pela realidade computorizada. Esteticamente, Her é interessante, os enquadramentos variam entre a simplicidade, permitindo que as emoções sejam transmitidas através da representação, e tiques neorrealistas da camera ao ombro, complementados com focagem/desfocagem. Não são imprescindíveis, mas tendo em conta a temática, coadunam com a acção.
Nos restantes domínios técnicos, há a realçar uma estupenda direcção de fotografia, que por vezes remonta aos selfies, mas com negligência controlada. A banda-sonora assenta que nem uma luva na temática, num registo intimista, luminoso mas angustiado. A produção decidiu alimentar um futuro que é já amanhã, e foi bem-sucedida.
Her provoca sensações mistas. O conceito é mais interessante do que a história, as perguntas que levanta são mais suculentas do que as respostas, sendo a temática do filme mais complicada de descrever visualmente do que parece à vista desarmada.
Her é um filme especial, cuja interpretação varia consoante a vivência do espectador, ou o estado de espírito. É interessante perceber como a evolução tecnológica despe o paradoxo dos sentimentos humanos (tentamos evoluir a inteligência artificial e nem sempre conseguimos lidar com a natureza real do ser-humano). É impossível não gostar de Her, mas gostaria de gostar ainda mais, fica a sensação de que a história não aperfeiçoa o potencial da temática.
- Perguntas levantadas pelo filme
- Scarlett Johansson
- Banda-sonora
- Originalidade
- Novo paradigma da história de amor
Negativo
- Respostas dadas pelo filme
- Epilogo
- Theodore é um personagem que não se revela
- Sensação de que a história não aperfeiçoa o potencial da temática
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