Análise – A Vida de Pi

Um candidato aos Óscares.

Para consolidar a minha análise de A Vida de Pi, é fundamental definir o conceito de Imagética Simbólica.

“A ideia como representação mental de uma coisa concrecta ou abstracta, é considerada como o elemento consciente do universo simbólico” (LAPLANTINE; TRINDADE, 2000).

Ou seja, há que ter sempre presente: o que significa uma representação. Posto isto.

Pi é uma pessoa igual a todas as pessoas no mundo. Tem uma família, foi à escola, aprendeu a nadar, tentou encontrar uma resposta para a dúvida metafísica, apaixonou-se e teve uma profissão. Mas o que faz de Pi uma pessoa excepcional? O que o distingue de todas as outras pessoas? E porque a história de Pi merece ser contada? A resposta é: A Vida de Pi.

Para definir do que se trata o filme, é necessário compreender as emoções que emanam do ecrã da sala de cinema: coragem, sobrevivência e compreensão da condição humana. Parece elementar mas ao mesmo tempo é de uma simplicidade riquíssima e profunda, e passo a defender esta posição.

Ao contrário das emoções, o enredo é descomplicado, Pi embarca da Índia para o Canadá com a família e uma mercadoria invulgar, animais exóticos cujo destino é a venda. Porém uma tempestade em alto-mar afunda o barco onde Pi viaja, levando para o fundo do mar o barco, mercadorias e os passageiros. Exceptuando Pi, que consegue salvar-se num barco salva-vidas, na companhia de uma zebra, uma hiena, um orangotango fémea e um tigre chamado Richard Parker. As circunstâncias evoluem até Pi ficar sozinho com o Tigre.

A Vida de Pi ganha contornos memoráveis pela relação estabelecida entre Pi e Richard ParkerPi fica à merce do maior medo da condição humana, a solidão, e para preencher esta necessidade primária, Pi tem um predador, podia ser um gatinho ou um periquito, mas não, é um carnívoro que sabe nadar, e ao mínimo descuido, não hesitará em ter um indiano magrinho para o jantar.

Numa sucessão impressionante de dilemas morais que vão aos elementos mais primitivos da condição humana, Pi mantém-se vivo, alimentando o Tigre, e porque o Tigre sobrevive, Pi retira as forças e as condições que necessita para sobreviver. É complexo, e tem a ousadia de racionalizar o que é primário e selvagem.

A Vida de Pi é inspirado no Best-Seller de Yann Martel, obra literária com o mesmo nome, e a adaptação cinematográfica foi assumida por Ang Lee, realizador de Sensibilidade e Bom SensoTigre e o Dragão e O Segredo de Brokeback Mountain.

Para desempenhar o papel de Pi, foi escolhido o novato Suraj Sharma, que apesar de não ser um actor experiente, teve o mérito de ouvir o que Ang Lee tinha para lhe ensinar, e é muito competente no papel que desempenha. Suraj é verdadeiro na representação corporal, consegue estabelecer uma relação simbiótica com um Tigre gerado por computador, atribuindo à personagem uma dimensão paradoxal de fragilidade e força.

A personagem de Pi adulto, que narra a história, ficou ao encargo do experiente Irrfan Khan, que já tinha participado em Slumdog Millionaire e The Amazing Spider-Man. Do elenco, há ainda a assinalar as participações de Gérard DepardieuRafe Spall (o escritor que está a preparar um romance cuja acção decorre em Portugal) e James Saito.

Tecnicamente o filme está soberbo. Desde o primeiro ao último plano. Os enquadramentos escolhidos por Ang Lee são de uma mestria sublime, os cenários são dotados com uma riqueza e detalhe que identifica vontade de fazer bem feito, o jogo de luzes apenas exagera nos florescentes (mas é uma questão pessoal), a banda sonora é extramente competente ao ponto de nos esquecermos que grande parte das cenas em alto-mar, são geradas por computador, e por fim, o 3D funcionou muito bem.

É possível identificar 3 motivos que justificam a aposta no 3D: a maioria dos planos são em continuidade, sem cortes, que permite à tecnologia fluir na medida certa, na transição das camadas de informação na imagem que oferece a sensação de profundidade; pela escolha estética de um filme colorido e luminoso, a tendência de escurecimento imposta pelos óculos 3D não teve desta vez, influência; e a escolha do timing do 3D, que continua a não ajudar a contar a história, mas Ang Lee percebeu o potencial das imagens que saem do ecrã, e o 3D permitiu consolidar as emoções em cena. E isso devia ser um exemplo a seguir por todos os realizadores.

A Vida de Pi é um belíssimo filme, transversal a cultura, religião, idade ou género. Obriga-nos a reflectir sentindo, este fenómeno é o enlace perfeito entre o racional e o animal.

 

Pontos Positivos

  •  Emoções
  • Realização
  • Banda Sonora
  • Efeitos Especiais
  • História
  • As metáforas
  • A dúvida lançada no final

Pontos Negativos

  • As cores florescentes
  • A dúvida metafisica, perdeu força com a resolução
  • A dificuldade de alguns actores para exprimir sentimentos em Inglês
  • A dúvida lançada no final (eu sei que esta alínea já foi citada nos pontos positivos. Para entenderem a minha escolha, precisam de ver o filme)

 

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