E A Ressaca chegou ao fim. É curioso, não há ninguém que no pico da Ressaca não faça uma introspecção e assuma o compromisso de nunca mais voltar a cometer a mesma asneira. Passado algum tempo… pimba, outra asneira e mais um dia a comprimidos efervescentes com sabor a limão. A receita da saga cinematográfica de A Ressaca funciona nos mesmos moldes, é evidente o decréscimo da qualidade e o desgaste das boas ideias, mas quando se proporciona… lá se vai o compromisso.
A Ressaca Parte 3 começa muito bem, com analogias a dois dos melhores filmes dos últimos 25 anos (um like para quem identificá-los na caixa de comentários abaixo), fazendo a ponte para os protagonistas, com destaque para Alan (interpretado por Zach Galifianakis).
Desta vez, o motivo do filme não envolve uma despedida de solteiro (finalmente), porque a trágica morte o pai de Alan (interpretado por Jeffrey Tambor) afecta a estrutura familiar e perturba a já frágil “moleirinha” de Alan, que precisa de internamento e tratamento especial. Cabe a Phil (interpretado por Bradley Cooper), Stu (interpretado por Ed Helms) e Doug (interpretado por Justin Bartha) a missão de transportar Alan para um campo de apoio e recuperação, contudo, a viagem é interrompida por Marshall (interpretado por John Goodman), um bandido perigoso que tem contas a ajustar com Mr. Chow (interpretado por Ken Jeong). Marshall exige à Wolfpack que encontre e entregue o famigerado gangster asiático, sob a ameaça de aniquilar Doug. Arranca assim uma aventura que envolve o regresso de rostos conhecidos, reminiscências, Las Vegas, novos personagens e experiências que elevam a bitola do perigo para o trio.
O realizador Todd Philips decidiu manter o segredo que evidenciou a franchise – do ponto de vista da realização não há improvisos, planos bem abertos para aproveitar a comicidade da palavra e do postura física dos actores, uma edição simples, e a aposta na direcção de fotografia com contrastes entre as tonalidades quentes e frias – com os maiores problemas a residirem na estrutura dos eventos.
A rigor, o filme está bem arrumadinho, com a cadeia de eventos a fluir de forma descomplicada, todavia, existem insuficiências a assinalar. Os eventos não são assim tão cómicos, as punch lines são maioritariamente inofensivas e as acções dos personagens não estão à mercê de repercussões do meio envolvente. O próprio encadeamento vai em crescendo aos soluços e o clímax não cumpre a promessa apocalítica feita na promoção do filme.
A saga de The Hangover fica na nossa cultura pop, sobretudo pela criatividade do conceito e pelos personagens carismáticos (qualquer personagem resultaria num filme a solo). A capacidade para falar ao ouvido dos espectadores masculinos é algo notável e fica sempre a sensação de que tem a capacidade de surpreender os espectadores a qualquer momento.
Se o ciclo fechou – e daí, talvez não – cai no vazio a certeza de que a franchise podia ter dado mais, principalmente nos plots abertos ao longo da trilogia e na exploração da riqueza (invulgar numa comédia) dos personagens. Fica também o amargo de boca de que as situações verdadeiramente cómicas acontecem quando a camara não está a filmar.
O terceiro capítulo não perde a essência dos filmes anteriores, mas percorre o risco de colocar os personagens em situações limite. Acerca desta decisão, francamente, não contribui favoravelmente para a resolução final. Um dos trunfos da saga implicava a possibilidade do espectador identificar-se com os protagonistas, logo, perante as peripécias e as aventuras, o espectador, em parte, divertia-se com as respectivas (in)seguranças e experiências. O terceiro filme leva o humor negro longe demais e existem situações que requerem um sentido de humor bastante sádico para que possam ser divertidas. A Wolfpack já não é um grupo de rapazes a tentar resolver uma embrulhada, mas homens a lidar com meandros perigosos, indesejáveis e assustadores.
Podem ver a vídeo-análise PróximoNível do filme A Ressaca Parte III – The Hangover Part III aqui:
Positivo
- Química entre Melissa McCarthy e Zach Galifianakis
- Seriedade e competência, apesar do estatuto de Bradley Cooper
- Prólogo e Epilogo
- John Goodman como vilão
- Regresso a locais e personagens familiares
- Bada-sonora com Nine Inch Nails
Negativo
- Clímax
- Facilitismo em favor da celeridade do filme
- Overdose de Mr. Chow
- Atitudes dos personagens que não coadunam com o perfil pré-estabelecido
- Subdesenvolvimento do vilão
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