O Rei vai nu!.. Melhor ainda, a comédia portuguesa está despida de ideias e interesse. Quem quer rir em bom português, pesquisa tesouros no Youtube ou sintoniza o Canal Parlamento. Num marasmo cómico nacional, promovido pela ausência de alegria de quem tem talento, faz falta um boom da magnitude do Levanta-te e Ri. Agora, há quem pense que é cómico ofender gratuitamente pessoas tristes, outros ficam com o “cu” alapado (aproveitando uma expressão da Fanny da Casa dos Segredos 2) à boleia do encaixe financeiro promovido por contratos publicitários, enquanto os veteranos não fazem a mais singela ideia de que estão no século XXI e o público actual é mais sofisticado do que as gerações anteriores.
Numa espécie de jardim botânico da comédia portuguesa, murcho de ideias, há uma estranha espécie rara que faz a ponte entre o humor inteligente e o humor saloio. Quim Roscas e Zeca Estacionâncio sobrevivem à conjuntura e merecem observação especial pela distinta “lata” de conseguirem reciclar-se, percorrer várias áreas de enternecimento (programas da manhã, séries, concursos…), e experimentar a Sétima Arte. Será que vale a pena visitar Curral de Moinas?
7 Pecados Rurais conta a história de Quim (João Paulo Rodrigues) e Zé (Pedro Alves), dois amigos que vivem em Curral de Moinas (um espectador que veja os personagens pela primeira vez, ficará sem entender o início do filme, porque não há qualquer contextualização) que têm um acidente e morrem, sendo remetidos para o paraíso e à companhia de Deus (interpretado por Nicolau Breyner). Para que Quim e Zé não conceptualizem a morte, Deus concede uma oportunidade e remete a dupla à Terra, condicionados porém, com o desafio Herculano de resistir aos Sete Pecados Capitais, missão complicada tendo em conta a festa que decorre em Curral de Moinas e a chegada de Raquel (Alda Gomes) e Patrícia (Melânia Gomes), primas de Zé e Quim, capazes de tentar o pecado da luxúria.
O restante elenco conta com as participações de Cátia Nunes e José Raposo, com os cameos de Quim Barreiros e Paulo Futre (que constituem um enorme zero para a história). Patrícia Tavares interpreta Célia Careca (!?), um tremendo gosto amargo de subaproveitamento de talento (a Rita Blanco leva os melhores papéis), com a deprimente tentação pelo improviso (genética das telenovelas), contribuindo de forma desfavorável para o registo cinematográfico e para o personagem. Alguém deveria ter dito: “Pst… Ó menina, menos, muito menos.”
A realização de Nicolau Breyner está macia. É verdade que a comédia exige enquadramentos abertos, com poucas mudanças de plano durante a cena, mas o realizador de Contrato não aproveitou o espaço cénico, autorizando que o humor fosse, apenas e só, verbalizado.
A direcção de fotografia é engraçada, com tonalidades quentes e harmoniosas. A equipa de edição não fez um trabalho “por aí além”, com deficiente capacidade para interpretar o timing da comédia.
É necessário recuar até 2002 para ver uma comédia à séria em Portugal (A Bomba), mas os 7 Pecados Rurais fazem igualmente um trabalho positivo. Evidentemente que tem alguns problemas, mas o balanço identifica um projecto corajoso, descomplexado e divertido.
Os 7 Pecados Rurais resultam em vários sentidos: o humor fácil agrada a uma franja de espectadores, não ofende a inteligência de quem vai à procura de mais qualquer coisita; o humor é inteligente e intuitivo (ao estilo de Patrick McDonnell, autor de Mutts); e a moral da história é paradoxalmente positiva. Eventualmente uma história melhor estruturada, com contextualização dos personagens, sem a gordura dos Cameos e com final climático, e os 7 Pecados Rurais seriam o Dumb & Dumber Lusitano.
Positivo
- Nicolau Breyner como Deus
- João Paulo Rodrigues é um artista eclético e talentoso que dá “dez a zero” ao Adam Sandler
- Piadas geniais, embora pontuais
Negativo
- Narrativa sem estrutura
- Tiques à Teatro de Revista da Patrícia Tavares
- Clímax
- Cameos horríveis
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